Em 2016, o então deputado Jair Bolsonaro "dedicou" seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff ao coronel Brilhante Ustra, militar que torturou a ex-presidente nos tempos em que ela era presa política. Quando a gente achava que ninguém poderia superar Bolsonaro nos quesitos desumanidade e torpeza moral, eis que Eduardo Bolsonaro, no que parece ser uma tentativa de desbancar o pai, ironizou a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão. Por que Eduardo Bolsonaro é assim? Serão os genes? A educação que recebeu?
Durante muito tempo, a esquerda combateu a noção de que genes têm papel importante no comportamento das pessoas. Admitir esse vínculo enfraqueceria a ideia de que a sociedade pode aprimorar o ser humano. Nos últimos anos, porém, ela começou a aceitar melhor nossa natureza biológica.
Para resumir décadas de pesquisa em poucas palavras, genes importam, manifestando-se em características como inteligência, empatia, atitudes econômicas, políticas, propensão ao uso de drogas, à violência etc. Eles raramente têm efeitos determinísticos. São quase sempre probabilísticos, em conjunção com o ambiente em que o indivíduo se desenvolve.
Há várias formas de aferir o papel dos genes e do ambiente. Uma das mais populares são os estudos envolvendo gêmeos. Um trabalho que se vale dessa técnica assinado por Martin Melchers e associados mostrou que entre 52% e 57% da empatia afetiva, isto é, da capacidade de identificar-se com a dor alheia, é hereditária. O restante, de 48% a 43%, vem da educação que a pessoa recebe e do que os cientistas chamam de ambiente não compartilhado, que inclui desde particularidades do desenvolvimento intrauterino até as forças do acaso.
A sina de Eduardo Bolsonaro é que ele não só herdou 50% dos genes do pai como também foi educado e influenciado por essa figura. Seria quase um milagre se, com tamanha carga, fosse capaz de demonstrar empatia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário