O termo "república" vem do latim "res publica", que significa "coisa pública". A expressão latina não é gratuita. Repúblicas se caracterizam por dar às questões de Estado o tratamento de coisa pública, em oposição ao de negócio particular de seus dirigentes, como é frequente em monarquias. A fórmula "L’état, c’est moi" apocrifamente atribuída a Luís 14 ilustra bem a diferença.
São várias as implicações do princípio republicano. Uma das principais é a igualdade de todos diante da lei. Numa república, não há lugar para privilégios, palavra que vem do latim "privilegium", significando "lei privada" ou "lei individual". O dirigente de uma república não está acima dos demais cidadãos, mas é igual a eles. Os romanos também tinham uma expressão para isso: "primus inter pares", "primeiro entre iguais".
Bolsonaro não entende isso. Só nesta semana descobrimos três carteiradas recentes suas. Na mais acintosa, arranjou para que seu status militar fosse alterado (de reformado para reservista), de modo que sua filha pudesse ser matriculada no colégio castrense para o qual obteve vaga sem passar pelo processo seletivo regular. Ele também mandou a Apex, a agência de exportações, criar um cargo em seu escritório de Miami para abrigar o médico da Presidência. O profissional, por razões particulares, está de mudança para os EUA. Por fim, Bolsonaro armou um teatro com a PF para prestar seu depoimento no inquérito que apura interferências no órgão sem passar por maiores questionamentos.
Carteiradas são um jogo de mão dupla. Elas só se materializam com a anuência da autoridade que as sofre. No caso, os comandos do Exército, da Apex e da PF são tão responsáveis quanto o presidente. E há mais. Bolsonaro nunca escondeu ser um "ignoramus" sem a menor noção dos limites e obrigações do cargo que ocupa. Nesse contexto, os 58 milhões de brasileiros que o elegeram também têm seu naco de culpa.
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