Nos EUA, os republicanos descobriram um poderoso filão eleitoral, um tema que mobiliza seus simpatizantes e os motiva a ir às urnas: o direito dos pais de determinar o que seus filhos aprendem na escola. O tópico foi decisivo para a apertada vitória do republicano Glenn Youngkin sobre o democrata Terry McAuliffe na disputa pelo governo da Virgínia. Até poucos meses atrás, McAuliffe era o franco favorito. A campanha do republicano explorou muito a questão do racismo e como ele vem sendo ensinado.
Existe esse direito parental de pautar a escola? A questão é complicada. A educação é tarefa compartilhada entre os pais e a sociedade. Não digo isso porque aprecie um autoritarismozinho estatal, mas porque crianças estão fadadas a crescer. Elas um dia se tornarão cidadãs e, para que possam desempenhar esse papel com autonomia, precisam ser expostas a diferentes visões de mundo. Sem isso, não há como fazer escolhas informadas.
Apesar do potencial para conflitos, o problema tem solução quase natural. Enquanto as crianças são pequenas, os pais conservam amplos poderes. Não há, afinal, tantas disciplinas polêmicas no jardim da infância. E são os genitores que decidem quais livrinhos entram em casa e quais canais a TV exibe. Eles ainda podem carregar seus rebentos para a igreja. Mas, à medida que o jovem cresce, o jogo muda. Não dá para esperar que um adolescente de 16 anos não tenha acesso à educação sexual porque seus pais não querem. Ou que nunca tenha contato com Darwin, Marx e Freud. Até para que ele se torne um bom cristão fundamentalista, precisa conhecer essas ideias para poder rejeitá-las.
Conservadores (ou liberais) não precisam perder noites de sono. A combinação de genes com o poder da influência na primeira infância é poderosa. O mais frequente é que filhos sigam as tradições religiosas, culturais e partidárias dos pais. Inclusive quando os pais estão errados.
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