Nesta semana, três homens disputarão as prévias para a candidatura do PSDB à Presidência. Eles mal conseguem pontuar acima de 3% nas sondagens nacionais.
Dificilmente a campanha poderia ter sido mais melancólica. João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio atravessaram os debates se enfrentando sobre o regimento interno, o aplicativo de votação e outras intrigas menores. Chegarão no dia do voto sem terem nem sequer desenhado um rascunho de projeto de país.
Este é o último ato do declínio de um partido que, sete anos atrás, chegava aos 49% dos votos no segundo turno das eleições presidenciais e se preparava para iniciar um novo ciclo no poder.
É fácil demais imputar a ruína do PSDB a externalidades como a crise dos partidos tradicionais e a ascensão da extrema direita. Os estratagemas das suas lideranças também contribuíram para o desastre. Ao decretar o fim da política e apostar em um animador de auditório de televisão, FHC desmoralizou uma geração inteira de quadros preparados. A reconversão de Aécio Neves em zelador do centrão destruiu o prestígio do partido entre o seu eleitorado tradicional, mobilizado durante anos pela agenda anticorrupção.
Desconhecendo o valor da lealdade política, Doria negociou a alma dos tucanos pela sua eleição para governador em 2018. Amaldiçoado por esse pacto faustiano, passou o seu mandato tentando conter a bolsonarização dos radicais e o êxodo dos moderados. Hoje, as suas mensagens confeccionadas por marqueteiros ecoam no vazio.
Só aqueles que decidiram se afastar da farsa ou batalhar contra a deriva, à imagem de Geraldo Alckmin e Tasso Jereissati, conservaram a sua autoridade política. A promessa modernizadora de Eduardo Leite talvez tenha chegado tarde demais para reverter o clima de debandada.
Se Doria tivesse olhado para outras democracias liberais, teria entendido que a abolição incondicional do cordão sanitário que dividia a direita e a extrema direita seria fatal para o PSDB.
Depois de anos observando as mudanças no sistema político, as lideranças europeias chegaram a um diagnóstico claro e consensual: a extrema direita tem o seu ciclo próprio e tende a perder força depois de experiências governativas fracassadas, como no caso da Itália, ou de longos ciclos de contestação infértil. Cabe aos partidos tradicionais preservar a sua identidade, evitar as tentações oportunistas dos ciclos eleitorais e deixar passar a tempestade.
Quem perde com os erros crassos do PSDB é o eleitor brasileiro. Como ficou mais claro desde a semana passada, o polo conservador está se reorganizando em torno de duas forças que têm em comum o desprezo pelas normas republicanas: Jair Bolsonaro e Sérgio Moro.
Sequestrada por excrescências da rebelião anti-política, que nos legou o vandalismo sanitário, a truculência golpista e a vergonha mundial, a direita brasileira está condenada ao destino da direita americana, engolida pelo fanatismo trumpista. Todos os democratas só têm a deplorar o fim da era tucana.
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