Países que acreditaram ter controlado a Covid-19 por meio da vacinação se veem engolfados em novas ondas de contaminação. Meu propósito aqui não é deprimir o leitor.
As novas ondas são substancialmente menos letais que as anteriores e atingem mais o público que escolheu não imunizar-se. São, ainda assim, um problema. O fato de um indivíduo ser tolo não é razão suficiente para que o poder público perca o interesse em preservar sua vida. Quando a circulação do vírus aumenta, aumenta também a morbimortalidade entre os que fizeram tudo certinho, mas tiveram a infelicidade de não responder tão bem ao biofármaco —em geral idosos e imunossuprimidos.
Mesmo que ninguém mais morresse de Covid, novas ondas provocam lotação nos hospitais, o que compromete o atendimento a portadores de outras moléstias, que já fora represado pela epidemia. Por fim, quanto mais o vírus circula, maior a chance de surgirem variantes mais ameaçadoras, talvez até com escape vacinal.
Não estou afirmando que o Brasil vai necessariamente enfrentar uma nova onda. Muitos prognosticaram que a delta faria um enorme estrago aqui e isso não ocorreu. Com a Covid, a única forma de acertar as previsões é abstendo-se de fazê-las. O que estou dizendo é que a aparência de controle pode ser ilusória. Epidemias têm sua dinâmica ditada por inúmeros fatores, biológicos, geográficos e sociais, e diferentes interações entre eles produzem resultados muito diferentes.
O que me parece seguro afirmar é que precisaremos revacinar a população logo. A imunidade mais robusta, próxima à esterilizante, proporcionada pelos anticorpos neutralizantes não dura muito mais que cinco ou seis meses. Depois disso as vacinas continuam protegendo contra quadros graves e mortes, mas não reduzem tanto a circulação do vírus. Essa é uma má notícia para os países pobres, que, por falta de imunizantes, ainda engatinham na primeira dose.
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