Sergio Moro (Podemos) nomeou um conselheiro econômico. Assim lançou sua campanha entre as elites do poder. Também quis dar um sinal de que é mais do que mero capitão do lavajatismo ou justiceiro. Lula da Silva (PT) em breve terá de fazer lance assemelhado, não apenas para montar sua campanha. Aliás, o lance de Moro vale pouco.
Nomear um economista-mor quer dizer quase nada. Não que Affonso Celso Pastore, o escolhido de Moro, seja nada. É um economista reputado, goste-se ou não do que pensa. Por falar nisso, moristas e possíveis companheiros de viagem de Moro vão arrancar os cabelos quando Pastore começar a falar. O economista não tem papas na língua, olha o osso dos problemas e, se precisar, vai sugerir tratamentos que incluem amputações e remédios pesados. No debate vulgar, é o que se chama de ortodoxo duro e puro.
Um plano econômico ou outro plano qualquer de governo precisa ser coerente, fazer sentido técnico. Mas precisa também de fundamentos e acordos sociais e políticos. Não pode convulsionar o país no caminho da sua execução, por exemplo.
Moro não tem nada disso. Por ora, é um slogan com adeptos em parte da elite econômica que infla o balão dele, entre militares, entre direitas órfãs de Jair Bolsonaro e entre um número de eleitores já quase bastante para furar o pneu de outros calhambeques que andam pela "terceira via". É tudo.
Ninguém sabe o que Lula faria, se eleito. Não se sabe nem o que dirá na campanha. A pergunta aqui não é o que diria para "tranquilizar o mercado", uma bobice assim, embora vá precisar dessa armadura, pois tende a ser triturado em várias frentes, na econômica também. A depender do nível da campanha, qualquer eleito vai pegar um país tão mais arruinado que será ainda mais difícil de reformar. Mas o problema é maior.
O ano de 2023 não será 2003, primeiro de Lula 1. Deve ser o décimo ano de economia empobrecida. Sem um plano de choque logo de início, o próximo presidente pode perder seu governo inteiro.
As finanças do governo estão em situação pior. Não será fácil fazer o ajuste "Carta aos Brasileiros". A receita federal em torno do ano de 2003 era de 17,9% do PIB, a mesma do triênio recente menos anormal (2017-2019). Mas a despesa é maior, 3,9% do PIB maior, na maior parte (75%) devido a gastos como Previdência e outros benefícios sociais obrigatórios. O superávit fiscal era de 2,3% do PIB; agora, há déficit 1,6% do PIB. O gasto com juros da dívida é maior. Investimento público e o gasto em ciência viram pó.
Uma arrumação disso dependerá de corte de certas despesas, aumento de outros, de remanejamento grande. De mais impostos. De regra realista de controle de gastos e dívida. Parece lenga-lenga. É quase uma revolução. Hoje, parece quase inviável.
Além disso, a coisa não vai andar sem mudanças que criem uma economia de mercado funcional (em especial nos tributos e abertura comercial). De mudanças que diminuam a iniquidade na tributação e na despesa social. Um programa esperto de incentivos ao desenvolvimento é necessário, mas no momento parece quase um luxo, dados a penúria e o tamanho da ruína de instituições e governança.
Essa imensa mudança depende de preparação e acordos ao menos tácitos, que devem ser costurados na campanha. Não é assunto apenas de propaganda.
Estamos à beira de um processo de "brasilianização", fratura política e ruína socioeconômica crônicas, nossa versão do que se vê em maior ou menor grau na "venezuelização" e na "argentinização" —o "risco Venezuela", aliás, cresceu com o bolsonarismo. As elites do poder não estão nem aí, ora dedicadas a montar esquemas eleitoreiros. Assim, vai dar besteira.
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