Com estilo de jogo e de penteado inspirados em Cruyff, técnico do Flamengo é traço de união Brasil-Portugal
Este balneário foi por muito tempo a segunda maior cidade de população portuguesa no mundo, superado apenas por Lisboa. A reforma da cidade levada a cabo por Pereira Passos nos primeiros anos do século 20, com seu simulacro de Paris, desvalorizou a contribuição e ascendência lusitana, mas aqui e ali, sobretudo no velho Centro e nos subúrbios, ainda sobrevivem os traços da união: florida fachada de azulejos, forte cheiro de azeite e bacalhau, botequim com periquito empoleirado, moça de buço, a esplêndida construção neomanuelina que abriga o Real Gabinete de Leitura na rua Luís de Camões.
Passados 211 anos da chegada da corte, quem apostaria em um novo rei do Rio português? Jorge Jesus entrou para os anais ao conseguir a conquista, para o Flamengo, em um único fim de semana, da Copa Libertadores e do Campeonato Brasileiro.
O Mister é um tremendo marrento —e isso só lhe aumenta o prestígio entre os rubro-negros, que não são lá particularmente conhecidos pela humildade. A inspiração de Jesus é Johan Cruyff, com quem fez um rápido estágio em Barcelona, do qual resultou não só o gosto pelos cabelos compridos, à maneira do craque holandês na Copa de 74, mas principalmente o conceito de futebol ofensivo e disciplinado taticamente. Nos vestiários e nos treinos (sempre realizados pela manhã bem cedo), e durante os jogos em estádios lotados, os jogadores sofrem com broncas e xingamentos no mais perfeito vernáculo —Arão que o diga.
Apesar da ciumeira dos técnicos brasileiros —enfim revelados em sua mediocridade—, é inegável que Portugal apresentou mais um grande valor ao país.
Para equilibrar as ações, o Brasil acaba de mandar para lá uma obra revolucionária: publicado em 1956, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, só agora ganhou edição portuguesa. Cada qual se defende com a bola que tem.
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