Policial com 42 anos de carreira reuniu um grande acervo com fotos, vídeos e muitas curiosidades
A história da Polícia Civil paulista, que começa no remoto ano de 1841, é contada em um site de memória.
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Ali, além do resgate da instituição hoje formada, ao menos, por 24 mil agentes, há curiosidades, vídeos, fotos, ilustrações, documentos e reportagens policiais antigas e com páginas amareladas pelo tempo, publicadas em jornais já extintos.
Tudo devidamente levantado, catalogado e pesquisado pelo idealizador do site e delegado de polícia, Paulo Roberto de Queiroz Motta, 63 anos de vida e 42 deles dedicados à Polícia Civil.
“Sempre gostei de ler histórias no geral, mas isso ganhou mais peso quando entrei para a polícia, em 1977, como investigador”, conta Motta, que iniciou na carreira na divisão de investigação sobre crimes contra o patrimônio público em prédio da rua Brigadeiro Tobias, 527, no centro da cidade.
De memória ímpar, o então agente novato adorava ouvir as histórias recheadas com detalhes dos “grandes crimes” ocorridos ainda nos anos de 1930, 1940 e 1950.
E vai além. “O sertão paulista era muito violento nesta época, com crimes de mando, de brigas por terra e problemas sociais. Tudo isso faz parte da história, mas não havia nada disso registrado”, afirma Motta.
Outro problema enfrentado na construção da memória da polícia, segundo o delegado, é que os registros fotográficos eram escassos. “A começar que o policial, pela função, é mais resistente em sair em fotos.”
“Às vezes, a gente encontrava uma foto ali outra aqui com um parente de policial. No caso dos falecidos, era mais difícil, pois os filhos se desfaziam das imagens amareladas. Ou quando as mulheres separadas jogavam as fotos do ex-marido no lixo”, afirma.
Inicialmente, as redes sociais foram a solução para chegar ao público-alvo e o compartilhamento das informações e das imagens. A coisa engrenou e as fotos começaram a chegar.
O delegado teve até um blog, mas substituído no início de 2018 pelo site. “Além de mais formal, o registro é eterno”, afirma.
Homenagens
Paulo Roberto de Queiroz Motta é o Milton Neves da polícia. Ou seja, assim como o jornalista e radialista conhecido em preservar a memória dos ex-jogadores mais antigos na coluna Terceiro Tempo, publicada pelo Agora, o delegado faz o mesmo em seu site Memória da Polícia Civil.
No site, são contadas dezenas de perfis de delegados e policiais civis, com suas fotos clássicas de policiais do passado.
“O Milton Neves se aposentou na polícia como escrivão”, ressalta.
No site criado pelo delegado e que tem o apoio da investigadora de polícia Ildete dos Santos, outra curiosidade é uma sessão dedicada aos repórteres policiais que faziam plantão por quase 24 horas em busca do furo de reportagem, e que por isso ganharam respeito junto aos agentes policiais.
Entre os famosos repórteres, ele lista o radialista paulistano Gil Gomes, nascido no Jabaquara (zona sul) e morto no ano passado, que, por mais paradoxal possível, sofria de gagueira na juventude, Percival de Souza, Afanásio Jazadji e Marcelo Resende, que morreu em 16 de setembro de 2017.
Para o delegado Motta, a parceria polícia e repórter deu muito certo, principalmente nos anos de 1940 e 1950. O trabalho, praticamente, se confundia na hora da investigação de um crime, afirma.
“Não vejo a história da Polícia Civil sem a figura do repórter policial”, afirma o delegado, fã de muitos deles, entre eles, o sapiente Nelson Gatto, conhecido por aplicar uma gravata no temido assaltante Antônio Rossini, o Promessinha, em agosto de 1958. Gatto morreu em 1986.
Museu físico
Em uma área de 740 metros quadrados no prédio da Acadepol (Academia de Polícia) na Cidade Universitária (zona oeste) da USP (Universidade de São Paulo), o Museu da Polícia Civil preserva a história e tem função didática aos alunos que entram na corporação.
Com acervo aproximado de 2.000 a 3.000 itens, entre documentos, fotos, vestuários, objetos e instrumentos utilizados em crimes ou pelos agentes no exercício da profissão, o museu atrai cerca de 1.000 pessoas por mês.
Das curiosidades, destaque para os inquéritos antigos dos anos 1930 e 1940 ainda escritos a mão.
Ou ainda pelas tatuagens encontradas nos centros prisionais e reproduzidas em um manequim. “É um dos locais que mais atrai olhares”, diz a delegada e coordenadora do museu, Carla Priscila Del Nero.
Ou ainda pelas tatuagens encontradas nos centros prisionais e reproduzidas em um manequim. “É um dos locais que mais atrai olhares”, diz a delegada e coordenadora do museu, Carla Priscila Del Nero.
O crime da mala, famoso caso de 1928, também está retratado no prédio. A mala, exposta, é a mesma em que o italiano Giuseppe Pistone colocou o corpo mutilado de sua mulher Maria Féa.
Menos trágico, o visitante poderá apreciar ainda as viaturas antigas da polícia civil, como Variant (1976), Fusca (1963) e Veraneio (1976).
Antes, o local era conhecido como Museu do Crime, mas em 2005, mudou para Museu da Polícia Civil. “O propósito é resgatar e preservar a história da instituição”, diz Carla.
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