Profissionais encaminham carta ao Instituto Butantã e à Secretaria da Saúde apontando riscos de novo desmando da gestão do tucano
LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHAPRESS
Tratamento de pessoas picadas por animais peçonhentos pode ser prejudicado com fechamento do Hospital Vital Brazil
São Paulo – O corpo clínico do Hospital Vital Brazil encaminhou uma carta à direção do Instituto Butantan e à Secretaria de Estado da Saúde apontando riscos do fechamento da unidade e transferência da equipe médica para o Hospital Emílio Ribas e solicitando a abertura de negociação pela continuidade do serviço anexo ao instituto. O Vital Brazil é referência mundial em pesquisa e tratamento de pessoas picadas por animais peçonhentos – cobras, aranhas, escorpiões e lagartas –, com mais de 70 anos de história, sendo parte do Instituto Butantan, que há tempos vem sofrendo com o desmonte praticado pelas gestões tucanas.
O fechamento da unidade foi informado aos profissionais na semana passada. Inicialmente, foi desmentido pelo instituto, mas confirmado ontem (3). O Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo criticou a proposta. “Além de ser a única unidade de referência para atender acidentes com animais peçonhentos na região metropolitana de São Paulo, os médicos do Hospital Vital Brazil oferecem orientações a colegas de outros locais em relação a diagnóstico e prescrição a pessoas acidentadas. Quem atenderá essa demanda com o fechamento se esse serviço de referência não existir mais?”, questionou o diretor do sindicato Gerson Salvador.
No documento, os profissionais destacam que o atendimento rápido é fundamental para o tratamento de acidentados por animais peçonhentos. “A mudança para dentro da estrutura do Emilio Ribas pode criar intermediários desde a primeira ligação até a transferência, obrigatoriamente através do CROSS (Central de Regulação)”, explicam. Outra preocupação é com a identificação do animal, fundamental para a eficácia do tratamento. “Todo procedimento de atendimento é apoiado pelo grupo de biólogos de várias especialidades que auxiliam os médicos dentro do Instituto Butantan e não teria como existir fora deste”, afirmam.
“A localização dentro do Instituto Butantan é estratégica para interação entre os pesquisadores e médicos. Essa proximidade entre hospital e as áreas de pesquisas é o grande diferencial que permite torná-lo um centro de referência, prestando serviço a unidades de saúde de todo o Brasil e, por vezes, até do exterior”, defendem os médicos.
Outra preocupação é que a população tem o Instituto Butantan como referência no atendimento para picadas de animais peçonhentos e a transferência para o Hospital Emílio Ribas pode levar a uma demora no início do tratamento. “Existe uma grande procura espontânea dos pacientes pelo Instituto Butantan, onde são acolhidos pelo braço assistencial deste, o Hospital Vital Brazil. Os pacientes picados continuarão a procurar o Instituto Butantan, e a nossa transferência para o Instituto Emílio Ribas acarretaria transtornos e riscos de agravamento pelo tempo adicional de deslocamento dos picados”, explicam os médicos. A distância entre as unidades é de 7 quilômetros.
Também não se justifica, segundo o corpo clínico, a necessidade de alocar o atendimento de picados a uma unidade com capacidade de internação. “Isso porque o Hospital Vital Brazil já interna todos os casos de acidentes por animais peçonhentos da Grande São Paulo com indicação de internação, exceto uma minoria que necessita de UTI, sendo a unidade que mais atende acidentes ofídicos de todo o Estado, estando integrado ao SUS”. Em 2018 foram registrados 2.292 casos de Pronto Atendimento e 1.756 teleconsultorias.
Os profissionais avaliam que a área de ensino e pesquisa do Hospital Vital Brazil também seria prejudicada. O setor recebe alunos de faculdades brasileiras e do exterior, residentes de faculdades como a de Medicina da USP e da Universidade Federal de São Paulo, bem como bolsistas do Programa de Aperfeiçoamento Profissional da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
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