Faz cem anos. Em junho de 1919, quatro jornalistas de Nova York foram almoçar num hotel na rua 44 Oeste, entre 5ª e 6ª avenidas, chamado Algonquin. Um deles, Alexander Woollcott, provara dias antes a torta de maçã do restaurante e queria repetir a experiência. Os outros eram Robert Benchley, Dorothy Parker e Robert Sherwood.
A torta não os empolgou, mas o papo e o ambiente, sim. Voltaram no dia seguinte e em todos os dias pelos dez anos seguintes. Outros jornalistas aderiram, e o gerente lhes deu uma mesa cativa, redonda. Nascia a Mesa Redonda do Algonquin.
Os aderentes eram George S. Kaufman, Edna Ferber, Mark Connelly, Franklin P. Adams, Ring Lardner, Herman J. Mankiewicz, Ben Hecht, Donald Ogden Stewart, James Thurber, Heywood Broun, Jane Grant, Harold Ross e outros, futuros teatrólogos, poetas, romancistas e roteiristas, e até o ator Harpo Marx e o campeão de boxe Gene Tunney, que não falavam muito, mas prestavam grande atenção. Aliás, toda Nova York prestava atenção —porque eles passavam o almoço disparando frases mordazes e brilhantes sobre os costumes, política e produção artística daquele tempo.
Ao publicar essas frases em seus veículos, ficaram famosos por elas. Mas, aos poucos, começaram também a produzir os poemas, peças de teatro, roteiros e romances que lhes assegurariam a imortalidade. Exemplos: Ferber escreveu “Show Boat”; Mankiewicz, “Cidadão Kane”; Sherwood tornou-se consultor do presidente Roosevelt; Hecht, o maior roteirista do cinema; Ross e Grant fundaram a revista The New Yorker; e Benchley, Parker, Thurber, Kaufman e Lardner, nem se discute. A lenda da Mesa Redonda não era à toa.
Em 1974, passei 40 dias no Algonquin, cortesia de uma revista americana para a qual eu trabalhava. Todos os heróis da Mesa Redonda tinham morrido. Mas, magicamente, mais de uma vez pensei estar cruzando com um deles nos corredores.
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