MANAUS
Ao presidir a primeira reunião do Conselho da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu que o estado do Amazonas deve se diversificar para se transformar em “centro mundial de sustentabilidade de biodiversidade”.
“Tendo toda essa riqueza [natural], nós vamos viver só de diferença de impostos?”, questionou. “O ideal era que o Brasil todo fosse uma enorme Zona Franca, que os impostos fossem baixos e que fôssemos uma economia realmente de mercado”, afirmou.
Ainda assim, o ministro se comprometeu a levar em consideração as diferenças de impostos entre o polo e o restante do país na futura proposta de reforma tributária do governo federal.
“Não vamos atingir a essência e o coração econômico das regiões brasileiras e, principalmente, dessa região”, disse Guedes, na abertura da reunião.
Repetindo a retórica do presidente Jair Boolsonaro (PSL), afirmou que a Amazônia é assunto de importância nacional. Defendeu que, no futuro, o Brasil deveria negociar com os Estados Unidos até o oxigênio produzido pela floresta.
“Nós, brasileiros, somos parceiros naturais dos americanos, mas queremos também saber se eles reconhecem o direito de propriedade ao oxigênio. Porque nós produzimos oxigênio para o mundo”, afirmou Guedes, sob tímidos aplausos
Em abril, Guedes gerou uma onda de críticas no Amazonas após uma entrevista concedida à GloboNews. Na ocasião, afirmou que a Zona Franca prejudica o país.
“Então quer dizer que eu tenho que deixar o Brasil bem ferrado, bem desarrumado, porque, senão, não tem vantagens para Manaus?”, questionou.
Na pauta da reunião da Suframa desta quinta-feira (25), os conselheiro aprovaram 87 projetos industriais, dos quais 61 são de ampliação e 26, de implantação. Os investimentos somam US$ 652 milhões, com previsão de 3.415 novos postos de trabalho ao longo dos próximos três anos.
O conselho da Suframa, de caráter deliberativo, é formado por dez ministros (com Guedes na presidência), governadores de cinco estados da Amazônia (AC, AP, AM, RO e RR), prefeitos das capitais desses estados, o superintendente da Suframa (nomeado pelo Planalto), os presidentes dos bancos Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Amazônia (Basa), um representante das classes produtoras e um representante das classes trabalhadoras.
Apesar dos anúncios de mais investimentos, os empresários estão cautelosos com o futuro da Zona Franca diante da reforma tributária. Eles temem que as mudanças façam uma revisão das vantagens comparativas de produzir em Manaus, distante dos grandes centros consumidores.
A Zona Franca gera cerca de 88 mil empregos diretos em 490 empresas. Entre as fábricas instaladas em Manaus estão Honda, Samsung, Yamaha, Philco e LG.
Guedes participou da reunião em Manaus no mesmo dia em que Bolsonaro visitou a cidade.
O presidente, ao ser questionado por um jornalista sobre o futuro da Zona Franca, disse que “vai ser preservada”: “Algumas especificidades serão garantidas. Não vai ser igual para todo mundo, a região ainda carece de ajuda federal”, disse.
Diante de mais perguntas sobre a Zona Franca, o presidente passou a gritar o nome de Guedes para que o ministro participasse da coletiva, até que o ministro da Economia finalmente apareceu.
“Nós queremos fazer uma reforma tributária. Aí alguém disse o seguinte: ‘Bom, mas como fica a Zona Franca de Manaus?’. E aí eu perguntei: ‘Você quer que o Brasil não faça uma reforma tributária por causa disso? Ou você quer que a gente atenda a região da Zona Franca, mas que isso não impeça uma reforma tributária que seja importante para o Brasil?’”, afirmou Guedes.
Dirigindo-se aos jornalistas do Amazonas, ele disse, em tom irritado: “Se vocês olharem isso de forma construtiva, como a bancada do Norte olha, e conversar conosco, não tem problema nenhum. Mas, se vocês quiserem criar conflito o tempo inteiro, vocês vão viver disso até conhecer a reforma.”
Em seguida, Guedes abandonou a coletiva. Coube a Bolsonaro encerrá-la sozinho: “Pessoal, muito obrigado, eu amo Amazônia, a Amazônia é nossa”.
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