quarta-feira, 24 de julho de 2019

Um acordo promissor, Delfim Netto, FSP


Um acordo promissor

Em princípio e no longo prazo, processo cria uma boa expectativa para todos


É impossível negar a grande importância para o crescimento futuro do Brasil do acordo de dinamização do comércio entre o Mercosul e a União Europeia assinado em Bruxelas no dia 28 de junho último. 
Vinte e sete anos depois de o governo Collor ter manifestado a intenção de uma cooperação mais efetiva com o então Conselho das Comunidades Europeias (hoje a União Europeia – UE), chegou-se a um acordo. Entre 1993 e 2016, não houve qualquer avanço.
Em 2017, no governo Temer, o Mercosul tomou a iniciativa de apresentar uma proposta, respondida pela UE em janeiro de 2018, revelando o alto interesse no problema. No governo Bolsonaro, com ajustes, o tratado foi, finalmente, assinado.
Em princípio e no longo prazo, mais comércio significa maior divisão do trabalho e, logo, maior produtividade da mão de obra e maior bem-estar dos participantes do processo, o que cria uma boa expectativa para todos.
A UE tem um PIB nominal de US$ 18,7 trilhões e uma população de 513 milhões de habitantes. O Mercosul tem um PIB nominal de US$ 2,5 trilhões e uma população de 264 milhões de habitantes, com PIBs per capita nominais de US$ 36,5 mil e US$ 9.400, respectivamente.
A união gerará uma energia interna de crescimento produzida por economias de escala até aqui insuspeitada, o que podemos aproveitar para, nos próximos cinco ou seis anos, escapar da maldição da “renda média” que atraímos desde meados dos anos 1980.
Uma adequada avaliação do acordo levará algum tempo e dependerá da leitura das “letrinhas pequenas”, onde se escondem as inevitáveis medidas defensivas de ambos os lados.
Do ponto de vista brasileiro, é uma melhora surpreendente da política externa obtusa que vimos praticando. Mais, mostrou uma capacidade de coordenação do governo Bolsonaro (Bruxelas x Osaka) até aqui não revelada.
O princípio da precaução recomenda suspender o julgamento até que se conheçam os efeitos setoriais da natural redistribuição de renda interna que resultará da melhoria da realocação dos nossos fatores de produção. É desta que resultará o aumento da produtividade do trabalho, o verdadeiro nome do desenvolvimento econômico. Haverá, certamente, “vencedores” e “perdedores”, que deverão ser acomodados com políticas públicas bem focadas e bem medidas que, sem impedir a realocação física dos fatores de produção, mitiguem os seus efeitos de curto prazo. 
O acordo explicita as intenções da política econômica interna de Bolsonaro, comandada por Paulo Guedes com razoável apoio dos presidentes da Câmara e do Senado, muito importantes para sua aprovação no Congresso.
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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