quarta-feira, 31 de julho de 2019

Manda ver, Copom!, Fábio Alves*, O Estado de S.Paulo

O mercado chega à decisão do Copom hoje com baixa visibilidade: o Banco Central apenas deixou a porta aberta para um corte de juros, mas não deu nenhuma pista sobre o ritmo dessa redução, se 0,25 ponto ou 0,50 ponto porcentual, tampouco sobre o tamanho total do iminente ciclo de afrouxamento monetário.
Como há razões técnicas para justificar qualquer decisão, o Copom tem a liberdade de ser mais agressivo ou mais comedido ao iniciar o ciclo de corte de juros sem colocar em xeque sua credibilidade.
Isso porque, mesmo depois da votação em primeiro turno na Câmara dos Deputados da reforma da Previdência, cuja aprovação é tida como essencial para o início do afrouxamento monetário, o BC nem sequer endossou as expectativas de que uma redução da taxa Selic era dada como garantida nesta semana.
É, contudo, inegável que são cada vez maiores as condições para o Copom fazer um primeiro corte de 0,50 ponto. A inflação segue surpreendendo para baixo; as expectativas inflacionárias estão bem ancoradas, até pelo menos 2022; e a atividade econômica está bem aquém do esperado.
O IPCA-15 de agosto, por exemplo, subiu 0,09% em julho, abaixo da mediana das expectativas dos analistas, que previam uma alta de 0,13%. Em 12 meses, o índice acumulou alta de 3,27%, bem abaixo da meta de inflação do BC para 2019, de 4,25%. Mais importante ainda é que todos os núcleos desse índice de preços – que sinalizam a tendência da inflação nos próximos meses – desaceleraram significativamente. Alguns deles estão até abaixo de 3,0%.
As expectativas inflacionárias refletem esse comportamento benigno. Para 2020, as projeções contidas na mais recente pesquisa Focus, do BC, apontam para uma inflação de 3,90%, enquanto a meta é de 4,0%. Para 2021, as estimativas do IPCA se encontram na meta, de 3,75%. E, em 2022, essa previsão está agora em 3,50%.
Por outro lado, a estimativa para o PIB ainda aponta uma recuperação muito tímida da economia brasileira, com crescimento de 0,82% neste ano e de 2,10% em 2020.
Se o Copom baixar os juros em 0,50 ponto nesta semana, levando a Selic a 6,0%, é bastante provável que o tamanho do ciclo seja superior a 0,75 ponto, como é a projeção de algumas instituições financeiras. E se cortar 0,50 ponto e não sinalizar inequivocamente no comunicado que acompanhará a decisão de que está antecipando o ciclo, os analistas que hoje preveem um orçamento total de redução em 1 ponto porcentual vão provavelmente refazer as contas e projetar um afrouxamento mais profundo.
Por enquanto, o consenso das estimativas na pesquisa Focus aponta para juros em 5,50% no fim deste ano, permanecendo nesse patamar até o fim de 2020. Mas vem crescendo a aposta de que o Copom vai reduzir a Selic até 5,0% no fim deste ano. É possível que o BC saia de cima do muro e dê uma sinalização mais clara sobre qual o tamanho do ciclo de afrouxamento monetário no comunicado e na ata desta reunião.
Se o Copom considerar que o seu orçamento do ciclo de corte de juros é, de fato, maior do que mostra hoje o consenso das estimativas na pesquisa Focus até o fim deste ano (de 1 ponto), então o BC estaria um pouco atrás da curva, jargão financeiro para dizer que a autoridade monetária tem de acelerar os cortes em razão de uma inflação e de uma atividade econômica que perdem o fôlego mais intensamente do que o desejável.
Nesse caso, é provável o BC iniciar o ciclo com um corte de 0,50 ponto e indicar, por meio até das suas projeções de inflação no comunicado e na ata, que o ciclo de corte será mais profundo do que o consenso do mercado prevê, especialmente porque a incerteza fiscal – avanço na aprovação da reforma da Previdência – foi reduzida drasticamente.
Já o cenário externo – outro fator importante para o balanço de riscos do Copom – aponta inflação para baixo no Brasil, diante de uma desaceleração da economia global e da redução de juros pelos principais bancos centrais mundiais. O Copom pode até ser mais cauteloso no primeiro corte de juros e sinalizar que seguirá baixando a taxa básica, mas as condições para uma redução mais agressiva estão aí.
*É COLUNISTA DO BROADCAST

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