domingo, 29 de dezembro de 2013

Fernando Haddad admite: ‘Perdi o ano’


Após derrota no IPTU, prefeito se mostra abatido e reclama, mas a presidente Dilma não dá sinais de que vai ajudá-lo a curto prazo

28 de dezembro de 2013 | 22h 48

Vera Rosa e Daiene Cardoso, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Sem dinheiro para investimentos e com dificuldades na seara política, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), não conteve o abatimento em conversa com aliados do PMDB, na semana passada. "Perdi o ano", desabafou ele, em seu gabinete, ao comentar a sucessão de derrotas, em 2013.
Até agora, porém, não há sinais de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, vá ajudar Haddad a recuperar as finanças da Prefeitura a curto prazo. Preocupado com a percepção externa de que o Brasil pode estar sendo negligente com o ajuste fiscal, o governo Dilma decidiu não mais apoiar a proposta que prevê a mudança retroativa do indexador das dívidas de Estados e municípios.
O projeto de lei complementar, assim como está, é a esperança de Haddad para recuperar a capacidade de investimento da cidade, após a Prefeitura sofrer um baque com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que barrou o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A simples troca do indexador da dívida (de IGP-DI mais 9% ao ano por IPCA mais 4%, limitada à taxa Selic), em caráter retroativo, pode aliviar em R$ 24 bilhões o débito da Prefeitura, que hoje é de R$ 56 bilhões. A equipe econômica, no entanto, não quer a aprovação da proposta pelo Senado.
Prestes a completar um ano de governo e com a imagem desgastada desde os protestos de junho, Haddad não esconde mais a mágoa com o governo federal e com dirigentes do PT. Patrocinadores do "homem novo" na política, todos temem agora o impacto de sua baixa popularidade nas campanhas de Dilma e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, candidato ao Palácio dos Bandeirantes.
A estratégia de Padilha, por exemplo, é começar a campanha pelo interior do Estado e Região Metropolitana, até a esperada recuperação de Haddad. Motivo: o PT faz de tudo para evitar que o índice de rejeição do prefeito, ex-ministro da Educação de Dilma, contamine a repaginada aposta do partido no "homem novo".
Nos bastidores, Haddad avalia que sofre cobranças injustas, que aliados do PMDB são mais bem tratados do que ele pelo Palácio do Planalto e os petistas não o defendem nem divulgam medidas positivas de sua gestão, como o Bilhete Único Mensal e a ampliação das faixas exclusivas para ônibus.
O problema, no diagnóstico do prefeito, não é a política, mas, sim, a absoluta impossibilidade de tomar crédito, até mesmo para oferecer contrapartidas em programas, como o PAC das Cidades. O pacote de investimentos do governo federal destinou R$ 8 bilhões para obras de mobilidade urbana - como construção de corredores de ônibus - e também para drenagem e recuperação de mananciais. Algumas dessas obras, porém, exigem desapropriações, que não são financiadas pelo PAC.
"Se a dívida da Prefeitura não for renegociada, a cidade ficará estagnada e quebrará em 2030", afirmou o secretário das Finanças de São Paulo, Marcos Cruz, numa referência ao ano do fim do contrato. "Politizou-se essa discussão, mas atrelar a dívida à eleição de 2014 não tem cabimento porque não se trata de um projeto com resultado imediato. O maior beneficiário com essa renegociação será o próximo prefeito."
Risco. Para a equipe econômica, porém, o risco de rebaixamento da nota do Brasil por parte das agências internacionais de rating exige mais cautela. "O projeto de renegociação da dívida não é oportuno, neste momento, porque não dá uma boa sinalização", resumiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não podemos deixar dúvida de que estamos perseguindo um superávit primário maior."
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ajudar Haddad, mas o aconselhou a não comprar tantas brigas de uma só vez. Para Lula, Haddad perdeu a batalha da política e da comunicação. "É como se estivesse num ringue, apanhando de todos os lados, sem conseguir reagir", disse, segundo relato de um ministro que esteve com ele, pouco antes do Natal.
Auxiliares do prefeito, no entanto, reclamam que, por causa dos interesses eleitorais de Dilma e de Padilha, não podem tratar o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) nem o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, como adversários. Kassab foi atingido pela investigação da máfia dos fiscais, que acabou derrubando o secretário de Governo, Antônio Donato (PT). Candidato ao governo paulista, Skaf promoveu campanha na TV contra o aumento do IPTU.
"Vocês tem de pedir para o Skaf ligar para a Luciana (secretária de Assistência e Desenvolvimento Social e filha do vice-presidente Michel Temer) e ver se está sobrando dinheiro lá", esbravejou Haddad, em reunião com aliados. O PMDB controla três secretarias. "O prefeito está muito preocupado com as contas", atestou o vereador Ricardo Nunes, líder do PMDB na Câmara. Além da dívida com a União, a cidade tem o maior débito do País em precatórios: R$ 18 bilhões.
Embora enxergue a ação de Skaf contra o reajuste do IPTU como uma oportunidade de divulgar a candidatura do PMDB em São Paulo, Temer viu exagero na campanha. "O povo vai esquecer a propaganda, mas vamos nos preparar, porque o PT não esquece", avisou Temer a um ministro do PMDB.

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