Casos como o do estudante Michael Cerqueira, morador do Capão Redondo, são cada vez mais comuns
08 de dezembro de 2013 | 2h 09
O Estado de S.Paulo
Educação sempre foi prioridade na casa do estudante Michael Cerqueira, no Capão Redondo, região carente da zona sul de São Paulo. O incentivo para se dedicar aos estudos veio dos pais - ele porteiro e ela cozinheira -, que não completaram o ensino fundamental.
O empenho da família valeu a pena. Hoje, o jovem de 19 anos cursa administração pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, em 2014, embarca para um intercâmbio de seis meses na Regent's University de Londres, Inglaterra.
Felizmente casos como o de Michael estão se tornando comuns no País: cada vez mais o brasileiro está valorizando o estudo para melhorar o padrão de vida. Uma pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 95% da população considera a educação essencial ou muito importante para uma pessoa vencer na vida. Entre cinco opções possíveis, a educação superou capacidade, inteligência e talento (94%), trabalho duro (89%), conhecer as pessoas certas (82%) e nascer numa família rica (31%).
"A educação é ponto número um na agenda de competitividade do País", afirma Renato da Fonseca, gerente de Pesquisa da CNI. "A ideia de que a educação ajuda a mudar de vida faz muito bem ao Brasil porque aumenta a pressão por uma educação de qualidade. As pessoas vão perceber que não basta somente um diploma."
Os saltos de Michael para chegar à FGV foram ousados. Boa parte da vida escolar foi cursada em escola pública, no colégio estadual Miguel Munhoz Filho. "A escola é até boa na região. Mas, se quisesse dar passos maiores, teria de buscar outas alternativas."
E ele buscou. Teve a ajuda de duas professoras, que montaram um "cursinho rápido"e o indicaram para projeto bolsa talento do Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), mantido pelo empresário Marcel Telles, um dos responsáveis pelo fundo 3G ao lado de Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira. Aprovado, passou a frequentar diariamente a Vila Nova Conceição, onde estudou no colégio Lourenço Castanho até ser aprovado na FGV. "Foi o grande momento de mudança na minha vida. Era uma nova escola, com ritmo muito mais forte."
Movimento. Os números do Ministério da Educação confirmam que a procura pela educação tem crescido no Brasil. Entre 2001 e 2012, o número de matrículas na educação superior subiu de 3,062 milhões para 7,052 milhões. "Não há dúvida de que a variável mais importante para o crescimento social é a educação", afirma o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes. "As pessoas permanecendo mais tempo na escola aumentam de produtividade e conseguem elevar a das empresas." Hoje, há um consenso entre economistas que o crescimento potencial do Brasil só será maior se a economia brasileira melhorar a produtividade. A relação entre anos de estudo e aumento salarial tem taxa de retorno alta no País, segundo Marcelo Neri, ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e presidente do Ipea. Para cada ano de estudo, o salário da pessoa sobe 15%.
Um levantamento do instituto também apurou a educação no topo da prioridade entre jovens de 15 a 29. A educação foi escolhida por 85,2% dos entrevistados. Na sequência, apareceram melhorias no serviço de saúde (82,7%) e acesso a alimentos de qualidade (70,1%).
Em outro recorte, levando-se em conta a opinião dos entrevistados com mais de 30 anos, a educação ficou em segundo lugar (80,5%), atrás da melhoria da saúde (86,6%).
"A classe C sempre foi apontada como sinônimo de consumo, cartão de crédito e carro. Mas eu acho que a letra c da classe c está mais para carteira de trabalho, e forçando até um pouco, para canudo", afirma Neri. / L.G.G.
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