domingo, 8 de dezembro de 2013

Subir na vida é 'mais fácil' hoje para 63%


Pesquisa da CNI mostra que sentimento de prosperidade é maior no Nordeste, onde o porcentual que acredita na mobilidade social é de 73%

08 de dezembro de 2013 | 2h 09

LUIZ GUILHERME GERBELLI - O Estado de S.Paulo
Há um sentimento de prosperidade entre os brasileiros. Hoje, 63% da população acha mais fácil avançar socialmente do que há dez anos, mostra uma pesquisa inédita feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o padrão de vida do brasileiro. O levantamento também revela que esse sentimento positivo é maior no Nordeste, onde 73% da população acha mais fácil melhorar de vida.
Os sinais de prosperidade estão diretamente ligados aos ganhos econômicos que ocorreram nas últimas décadas. Em 1994, o Plano Real trouxe a estabilidade, o fim da inflação e a renda do trabalhador deixou de ser corroída. Nos últimos anos, houve uma grande expansão do emprego formal e a inserção de milhões de brasileiros no mercado de consumo.
"Mais de 30 milhões de pessoas entraram na classe média. E esse movimento foi ajudado pela formalização", afirma Renato da Fonseca, gerente de pesquisa da CNI. "Nos últimos anos, o País cresceu e o desemprego caiu muito, o que fez com que as pessoas conseguissem negociar salários melhores e aumentassem a renda."
A sensação positiva é tão grande que a pesquisa revelou que 77% dos entrevistados consideram o padrão de vida melhor ou muito melhor do que o dos seus pais. Além disso, 84% dos entrevistados projetam que os filhos terão uma condição de vida melhor ou muito melhor.
O levantamento da CNI também apurou que, para o brasileiro, o País se tornou majoritariamente uma nação de renda média: 75% se declaram integrantes da classe média, 21% afirmaram ser da classe baixa, e 2% estão na classe alta - o restante não soube ou não quis responder. "Esse número está até acima do que alguns estudos têm mostrado, que apontam a classe média como aproximadamente 55% da população", afirma Marcelo Neri, ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"O Brasil viveu uma grande transformação nos últimos 20 anos, especialmente nos 10 anos passados", afirma. Durante esse processo de crescimento, diz Neri, houve mais fermento na base da sociedade, especialmente para indivíduos mais pobres e para grupo tradicionalmente excluídos.
Na avaliação dele, a classe média tem se mantido "surpreendentemente" forte no Brasil, mesmo com a desaceleração da economia nos últimos anos. "Eu acho que, de uma maneira surpreendente, a nova classe média passou pelo teste de amortecedor. Na verdade, a gente mede esse grupo não pelo PIB, mas pela renda e consumo", diz ele. Se em 2012 o crescimento foi revisado de 0,9% para apenas 1% na semana passada, o consumo per capita avançou 8,9% no País. "É verdade que os segmentos que mais cresceram foram os extremos da distribuição de renda. Não foi uma mudança tão favorável para a classe C."
Os dados do Ipea mostram que a renda dos 5% mais ricos cresceu 14% em 2012, enquanto a dos 5% mais pobres avançou 21%. "Mas nenhum segmento da população teve um crescimento inferior a 6,5% reais por pessoa", diz Neri.
Apesar dos sinais de prosperidade, há um forte medo entre os brasileiros de regredir. Pelo levantamento da CNI, 77% dos entrevistados estão preocupados em perder o padrão de vida alcançado nos últimos anos, 74% temem não ter dinheiro suficiente para se aposentar e 71% se preocupam em ficar sem trabalho, perder o emprego, ou ter de fechar o negócio próprio nos próximos 12 meses. O levantamento também mostra que 46% acham difícil manter o padrão de vida nos últimos 10 anos. "É interessante que as pessoas digam que é mais fácil subir socialmente, mas exista preocupação em não perder o padrão de vida. Isso pode até refletir um movimento de subida e descida", diz Fonseca.
O estudo da CNI foi feito em parceria com o Ibope. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 143 municípios. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro máxima é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

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