á se passaram seis anos desde que a economia dos Estados Unidos entrou na Grande Recessão, e quatro anos e meio desde que ela começou oficialmente a se recuperar, mas o desemprego a longo prazo continua desastrosamente alto.
E os republicanos têm uma teoria sobre os motivos para que isso esteja acontecendo. Uma teoria completamente errada, na verdade.
Mas eles não desistem dela - e como resultado 1,3 milhão de norte-americanos, muitos dos quais em situação financeira desesperada, perderão seus seguros-desemprego no final de dezembro. Feliz Natal.
Devemos lembrar que o desejo do Partido Republicano de punir os desempregados não surge simplesmente de uma má análise econômica; é parte de um padrão mais amplo de afligir os já aflitos e reconfortar os já confortáveis.
Mas ideias fazem diferença - como John Maynard Keynes escreveu, em uma citação famosa, elas são "perigosas para o bem ou para o mal".
E o caso do seguro-desemprego é um exemplo claro de ideias econômicas erradas, mas superficialmente plausíveis, que se revelam perigosas.
Eis o mundo como muitos republicanos o veem: o seguro-desemprego, que em geral paga aos trabalhadores elegíveis entre 40% e 50% do salário que ganhavam antes de serem demitidos, reduz o incentivo para que eles busquem novos trabalhos.
Como resultado, os trabalhadores passam mais tempo desempregados.
Uma das alegações específicas que essa linha de raciocínio faz é a de que o programa de Compensação de Emergência por Desemprego, que permite que trabalhadores recebam benefícios por prazo maior que as 26 semanas usuais, explica por que existem quatro milhões de desempregados em longo prazo hoje nos Estados Unidos, ante apenas um milhão em 2007.
Por isso, a resposta do Partido Republicano ao problema do desemprego em longo prazo é causar mais dor às pessoas desempregadas há muito tempo: se os benefícios que elas recebem forem cortados, elas sairão e encontrarão empregos.
Como, exatamente, elas encontrarão empregos se existem três candidatos para cada vaga disponível? Detalhes, detalhes.
Os proponentes dessa interpretação gostam de mencionar pesquisas acadêmicas que aparentemente confirmam a ideia de que o seguro-desemprego causa desemprego.
Eles não mencionam que essas pesquisas já têm mais de 20 anos, não foram comprovadas pelo tempo e são irrelevantes, dada nossa atual situação econômica.
A opinião da maioria dos economistas que estudam o mercado de trabalho, hoje, é a de que os benefícios aos desempregados exercem um modesto efeito negativo sobre a busca de empregos - e não exercem efeito negativo algum sobre o índice geral de emprego.
Pelo contrário: os benefícios ajudam a criar empregos, e cortá-los deprimiria a economia como um todo.
Pergunte-se de que maneira, exatamente, pôr fim aos benefícios aos desempregados criaria mais empregos.
Mas o que daria às empresas incentivo para empregar mais gente, em lugar de substituírem os seus trabalhadores atuais?
Você talvez se sinta tentado a argumentar que a concorrência mais intensa entre os trabalhadores resultaria em salários mais baixos, e que a mão de obra barata encorajaria mais contratações. Mas esse argumento envolve uma falácia de composição.
Reduzir os salários de alguns trabalhadores com relação a outros permite que aqueles que aceitam o corte de salários ganhem vantagem competitiva.
Mas se os salários de todos forem reduzidos, ninguém ficaria em vantagem. O único resultado disso seria uma queda geral de renda - o que, entre outras coisas, agravaria a carga de dívidas dos domicílios, e portanto teria efeito líquido negativo sobre o quadro geral do emprego.
O ponto é que o emprego na economia dos Estados Unidos hoje é limitado pela procura, não pela oferta. As empresas não estão deixando de contratar porque não conseguem encontrar trabalhadores; estão deixando de contratar porque não encontram compradores suficientes.
E reduzir os benefícios-desemprego, o que reduziria a renda e o consumo, só agravaria a situação.
Mas não espere que os republicanos mais importantes mudem de ideia.
O senador Rand Paul, por exemplo, recentemente citou pesquisas que sugerem que os desempregados em longo prazo encontram mais dificuldade para reingressar na força de trabalho como motivo para - adivinhe! - cortar os benefícios-desemprego em longo prazo. Na opinião dele, esses benefícios são um "desserviço" aos desempregados.
A boa notícia, se é que temos alguma, é que a Casa Branca e os democratas do Senado estão tentando transformar a expiração dos benefícios-desemprego de longo prazo em causa.
A má notícia é que eles não parecem determinados a fazer da prorrogação desses benefícios uma precondição para um acordo orçamentário, o que significa que não estão realmente dispostos a fincar pé.
Por isso, as probabilidades indicam que os desempregados em longo prazo perderão seus benefícios graças a um perfeito matrimônio entre a indiferença - completa falta de empatia pelos desafortunados - e a má interpretação da Economia. Mas essa não vem sendo a história de praticamente tudo, nos últimos anos?
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.
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