Esforço com investimento que não se controla é o maior erro.
Talvez essa seja a frase que deveria estar escrita em letras douradas na porta de entrada de muitas empresas, lares e corações. Mas não está. Preferimos pendurar quadros com mensagens positivas, frases motivacionais como “acredite nos seus sonhos” ou “o universo conspira a favor de quem tenta”. Tudo bonito, tudo poético — mas, às vezes, perigosamente ingênuo. Sim, há um tipo de romantismo trágico nessa ideia de que tudo que se faz com amor e esforço trará frutos. Como se o destino fosse um jardineiro zeloso, recompensando quem se suja de terra. Mas a verdade é que o solo pode estar infértil, a estação errada, ou o jardineiro distraído com outra plantação. Lembro de um homem que conheci certa vez — chamemo-lo de Paulo. Tinha ele uma loja de antiguidades no centro velho da cidade. A cada peça que vendia (e isso era raro), comprava duas novas. Insistia em restaurar móveis que ninguém mais queria, em guardar cristaleiras do século XIX em um mundo que valoriza muito mais a leveza do MDF. Seu esforço era comovente. Seu amor pelo que fazia, genuíno. Mas o investimento era desgovernado, como um rio transbordando fora da margem. E, inevitavelmente, naufragou. Paulo não falhou por preguiça. Falhou por não fazer as contas. Por ignorar os sinais. Por acreditar que só o esforço bastava. E quantos de nós não somos um pouco como Paulo? Aplicamos energia em relações que já naufragaram há muito tempo, mas seguimos insistindo. Investimos tempo em projetos que nos esvaziam, mas que se tornaram parte do nosso orgulho — ou da nossa teimosia. E o mais curioso: chamamos tudo isso de persistência. Confundimos resiliência com cegueira. Existe uma beleza secreta em saber parar. Em reconhecer que o investimento está fugindo ao controle. Que o esforço, por mais nobre que seja, se transformou num sacrifício inútil. Não há vergonha alguma em recuar. Ao contrário: há sabedoria. Mas o mundo não ensina isso. Prefere os heróis que lutam até a última gota, até o último centavo, até o último suspiro. Como se a grandeza estivesse apenas na insistência. Como se só valesse a pena viver no modo épico, e não no modo lúcido. Hoje, quando vejo alguém exausto, perdido em suas tentativas, costumo perguntar: o quanto disso é real necessidade e o quanto é vaidade? Às vezes, o esforço é só um modo elegante de fugir do medo de recomeçar. De admitir o erro. De dizer: “isso não deu certo e tudo bem”. No fundo, o que nos falta não é esforço. É direção. É controle. É a capacidade de medir, de recalcular, de redirecionar. É a coragem de admitir que a energia é preciosa demais para ser gasta sem critério. Portanto, da próxima vez que você suar por algo, pare um segundo. Observe o mapa. Sinta o vento. Veja se a bússola ainda aponta para onde você queria ir. Porque remar com fervor numa direção errada só nos leva mais rápido ao abismo. E o universo, esse velho sábio distraído, talvez esteja apenas esperando você aprender a diferença entre persistência e prudência.