Ir aos parques Ibirapuera e Villa-Lobos no fim de semana virou uma custosa experiência de consumo. Deixou de ser um passeio barato e acessível. Desde que eles ganharam gestão privada, o primeiro em 2019 e o outro em 2022, as comidas e bebidas aumentaram consideravelmente de preço.
Os parques estão de transformando em uma espécie de shopping a céu aberto. A entrada é livre, mas o custo da permanência só sobe. O que se pretende é tirar os mais pobres do parque, mantê-los na periferia e deixar o lazer em algumas áreas verdes só para os abonados.
Uma forma de fazer isso é esgotando o limite de renda do consumidor. Outra é ostentando luxo. Se não pode pagar uma mísera água de coco para toda sua família, a pessoa não vai ao parque. Isso faz parte de processo de gentrificação, de elitização dos espaços. É o mesmo que vem acontecendo no centro da cidade. Mais do que um caso isolado, é um imperativo do mercado e uma política de governo.
Quem vai ao parque só para passear ou praticar esportes precisa se alimentar e se hidratar. Há bebedouros no Ibirapuera, mas muita gente gosta de comprar água. Se for essa a decisão, vai ter de pagar até R$ 10. No caso de um café expresso, o desembolso será de R$ 12.
Os preços no Ibirapuera, localizado na zona Sul, atingiram os níveis dos estabelecimentos das regiões de mais alta renda da cidade. Um litro de água de coco sai por R$ 27, meio litro, por R$ 17, e uma tigela de açaí, por R$ 48. Uma tapioca com manteiga custa R$ 28. Em um dos restaurantes locais, o Selvagem, um café da manhã vale R$ 119. Para estacionar no parque gasta-se R$ 18 por três horas
Estabelecimentos refinados estão ocupando o lugar, como o restaurante italiano Bottega Bernacca. Uma filial foi instalada ali neste ano. As massas custam de R$ 79 a R$ 130. Outro exemplo é a Casa Nubank Ultravioleta, destinada aos clientes premium do banco. Quem não está nessa condição tem de desembolsar R$ 150 para entrar no local.
O Villa-Lobos, na zona Oeste, segue na mesma toada. Antes da concessão para a iniciativa privada tinha a sua entrada principal cheia de barracas que vendiam, por valores razoáveis, pastel e água de coco, por exemplo. Era um ambiente popular. Hoje todo o comércio está dentro do parque e os preços estão no padrão do Ibirapuera. Aliás, o estacionamento custa R$ 23 para ficar entre 5h30 e 19h30. Algumas voltas no carrossel saem por R$ 40.
Há, inclusive, uma empresa, a Cia do Tomate, que, desde 2023, comercializa uma área de 1,2 mil metros quadrados no Villa-Lobos para a realização de piqueniques ou para as pessoas passarem um tempo num espaço privativo. O preço para um grupo de quatro amigos ficarem simplesmente sentados no local, durante três horas, com almofadas e guarda-sóis, é de R$ 200.
Se quiserem acesso aos jogos, como badminton e basquete, o valor sobe para R$ 1.260. Com um lanchinho, salta para R$ 1.560. O pacote mais caro da Vila Picnic é de R$ 6.500 para eventos com 50 pessoas. Dá direito a comidas, água e suco e acesso a várias atividades recreativas para crianças e adultos.
Isso pode parecer conversa de pobre, mas exibe um problema de todos os tempos no Brasil: tirar os menos favorecidos de vista. O aumento de preço tem muito a ver, provavelmente, com as quantias pagas pelos comerciantes que operam nos parques às concessionárias. Não é o caso, porém, de extrapolar e transformar o Ibirapuera e o Villa-Lobos em lugares só para privilegiados.
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