quinta-feira, 10 de abril de 2025

A elitização dos parques de São Paulo, FSP

 Vicente Vilardaga

São Paulo

Ir aos parques Ibirapuera e Villa-Lobos no fim de semana virou uma custosa experiência de consumo. Deixou de ser um passeio barato e acessível. Desde que eles ganharam gestão privada, o primeiro em 2019 e o outro em 2022, as comidas e bebidas aumentaram consideravelmente de preço.

Os parques estão de transformando em uma espécie de shopping a céu aberto. A entrada é livre, mas o custo da permanência só sobe. O que se pretende é tirar os mais pobres do parque, mantê-los na periferia e deixar o lazer em algumas áreas verdes só para os abonados.

Barraca no Ibirapuera
Barraca de comidas e bebidas no parque Ibirapuera: preço de meio litro de água de coco é R$ 17

Uma forma de fazer isso é esgotando o limite de renda do consumidor. Outra é ostentando luxo. Se não pode pagar uma mísera água de coco para toda sua família, a pessoa não vai ao parque. Isso faz parte de processo de gentrificação, de elitização dos espaços. É o mesmo que vem acontecendo no centro da cidade. Mais do que um caso isolado, é um imperativo do mercado e uma política de governo.

Quem vai ao parque só para passear ou praticar esportes precisa se alimentar e se hidratar. Há bebedouros no Ibirapuera, mas muita gente gosta de comprar água. Se for essa a decisão, vai ter de pagar até R$ 10. No caso de um café expresso, o desembolso será de R$ 12.

O restaurante italiano Bottega Bernacca inaugurou uma filial no parque neste ano
O restaurante italiano Bottega Bernacca inaugurou uma filial no parque neste ano

Os preços no Ibirapuera, localizado na zona Sul, atingiram os níveis dos estabelecimentos das regiões de mais alta renda da cidade. Um litro de água de coco sai por R$ 27, meio litro, por R$ 17, e uma tigela de açaí, por R$ 48. Uma tapioca com manteiga custa R$ 28. Em um dos restaurantes locais, o Selvagem, um café da manhã vale R$ 119. Para estacionar no parque gasta-se R$ 18 por três horas

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Estabelecimentos refinados estão ocupando o lugar, como o restaurante italiano Bottega Bernacca. Uma filial foi instalada ali neste ano. As massas custam de R$ 79 a R$ 130. Outro exemplo é a Casa Nubank Ultravioleta, destinada aos clientes premium do banco. Quem não está nessa condição tem de desembolsar R$ 150 para entrar no local.

Alameda no Ibirapuera: parque vem perdendo apelo popular e está mais elitizado
Alameda no Ibirapuera: parque vem perdendo apelo popular e está mais elitizado

O Villa-Lobos, na zona Oeste, segue na mesma toada. Antes da concessão para a iniciativa privada tinha a sua entrada principal cheia de barracas que vendiam, por valores razoáveis, pastel e água de coco, por exemplo. Era um ambiente popular. Hoje todo o comércio está dentro do parque e os preços estão no padrão do Ibirapuera. Aliás, o estacionamento custa R$ 23 para ficar entre 5h30 e 19h30. Algumas voltas no carrossel saem por R$ 40.

Há, inclusive, uma empresa, a Cia do Tomate, que, desde 2023, comercializa uma área de 1,2 mil metros quadrados no Villa-Lobos para a realização de piqueniques ou para as pessoas passarem um tempo num espaço privativo. O preço para um grupo de quatro amigos ficarem simplesmente sentados no local, durante três horas, com almofadas e guarda-sóis, é de R$ 200.

O parque Villa Lobos ganhou uma área para a realização de piqueniques privativos
O parque Villa Lobos ganhou uma área para a realização de piqueniques privativos

Se quiserem acesso aos jogos, como badminton e basquete, o valor sobe para R$ 1.260. Com um lanchinho, salta para R$ 1.560. O pacote mais caro da Vila Picnic é de R$ 6.500 para eventos com 50 pessoas. Dá direito a comidas, água e suco e acesso a várias atividades recreativas para crianças e adultos.

Isso pode parecer conversa de pobre, mas exibe um problema de todos os tempos no Brasil: tirar os menos favorecidos de vista. O aumento de preço tem muito a ver, provavelmente, com as quantias pagas pelos comerciantes que operam nos parques às concessionárias. Não é o caso, porém, de extrapolar e transformar o Ibirapuera e o Villa-Lobos em lugares só para privilegiados.

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