A extrema direita tem um talento indiscutível: se apodera de símbolos consagrados para defender o golpismo bolsonarista. Foi assim com a bandeira, o hino e as cores que representam todos os brasileiros.
É assim ao comparar os horrores da ditadura de 1964 ao rigor da lei com a qual é tratada por atacar a democracia.
Repete a dose ao tentar transformar o batom na representação do que juram ter sido um ato de resistência pacífica contra o Supremo Tribunal Federal. Michelle Bolsonaro ajudou a replicar a imagem do cosmético nas redes sociais e ao segurá-lo durante a sua fala em defesa da anistia para os envolvidos no 8 de janeiro, como Débora Rodrigues dos Santos, mais conhecida como a pichadora da estátua "A Justiça".
O deputado Nikolas Ferreira teve a pachorra de comparar a cabeleireira a Rosa Parks. A ativista negra norte-americana é lembrada por não ceder seu lugar no ônibus para um homem branco, ato corajoso de desobediência civil diante da lei segregacionista da época. Um marco na luta contra o racismo nos Estados Unidos. A comparação feita pelo parlamentar do PL é um acinte à história dos direitos humanos, mas alimenta a massa delirante bolsonarista.
A cabeleireira, precisamos repetir mil vezes, não estava sozinha na praça dos Três Poderes e, num ato impensado, subiu na obra de Alfredo Ceschiatti. Ela não é julgada por ter pichado uma estátua. As acusações são as mesmas enfrentadas pelos integrantes do grupo ao qual ela pertencia: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada. Não importa que ela carregasse apenas um batom.
Num passado não tão distante, o cosmético deu nome à articulação feminina no período da Constituinte. Tratado como chacota no início, o "Lobby do Batom", formado por parlamentares e representantes da sociedade, foi estratégico para garantir avanços na igualdade de gênero.
O que a extrema direita faz é mais do mesmo: tenta sequestrar e manchar o símbolo de um movimento democrático para manipular a opinião pública e alçar a mártir mais uma potencial candidata em futuras eleições.
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