domingo, 13 de abril de 2025

Barrados em Dallas, Ruy Castro FSP

 Há duas semanas, um cientista francês a caminho de um congresso no Texas foi barrado no aeroporto de Dallas. Teve seu celular investigado e foi chutado de volta para Paris sem mais aquela. O cientista, não identificado, viajava pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica, instituição séria, financiada por seu governo.

O pretexto para impedi-lo de entrar nos EUA foram comentários que ele teria feito sobre a selvagem política de Trump contra a universidade americana, cortando verbas para a pesquisa e sangrando a vida acadêmica. Segundo os agentes do aeroporto, os comentários teriam caráter "terrorista".

A imagem mostra um protesto em frente ao Lincoln Memorial. Um boneco com cabelo laranja e vestindo um jaleco de cientista segura um cartaz que diz 'STAND UP for SCIENCE'. Ao fundo, há uma grande placa com a palavra 'SCIENCE' e a frase 'MAKE SCIENCE GREAT'. Algumas pessoas vestindo jalecos brancos estão visíveis ao fundo.
Manifestantes protestam em defesa da ciência e contra os cortes e demissões no setor promovidos pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, no Lincoln Memorial, em Washington - Kent Nishimura - 7.mar.25/Reuters

Como o cientista não parecia ser uma celebridade, por que o teriam escolhido para levar uma geral ao desembarcar? No passado, as representações diplomáticas dos países sob ditadura informavam a seus chanceleres sobre possíveis inimigos nos países em que estavam baseados. Era difícil para um brasileiro entrar, digamos, em Portugal sob Salazar ou na Espanha sob Franco, se suas opiniões sobre eles desagradassem aos embaixadores dos dois países. Não lhe concederiam nem o visto de entrada.

Hoje, sob a ditadura da inteligência artificial, um suspiro contra Trump por um anônimo em qualquer birosca do planeta irá no ato para uma nuvem ao alcance do governo americano. Mas o caso do cientista francês é grave, por ser uma agressão à liberdade acadêmica e à circulação de informações na área científica. É uma das estratégias de Trump para asfixiar o pensamento.

Em 1988, também fui barrado em Dallas e tive a mala revistada, mas por motivo menos nobre. A pedido de meus amigos da Playboy brasileira, eu estava levando para a Playboy americana um pequeno estoque de microbiquínis de uma butique carioca para uma reportagem. A agente, fardada, severa e assustadora, desconfiou que eu estava traficando biquínis para fins imorais.

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Custei, mas convenci-a da inocência dos biquínis e da minha própria. Só depois, ao abrir a mala no hotel, descobri que ela me surrupiara um microbiquíni.

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