segunda-feira, 14 de abril de 2025

Pensador nazista ajuda a entender Trump, Hélio Schwartsman, FSP

 O Trump 2.0 vem em versão bem mais autoritária do que a de sua primeira passagem pela Casa Branca. Um nome que me ocorreu ao notar a diferença de voltagem foi o do filósofo e jurista alemão Carl Schmitt, mas não havia topado com nenhum artigo ligando os dois personagens nos órgãos de imprensa estrangeiros que acompanho.

Resolvi dar um Google para sanar eventual cochilo e encontrei um livro inteiro dedicado ao assunto. Trata-se de "Trumpism, Carl Schmitt, and the Threat of Anti-Liberalism in the United States", de Roberta Adams.

Como observa a autora logo nas primeiras páginas, quando analisamos as ações de Trump pelas lentes schmittianas, o que parecia ser um amontoado de contradições e gestos exuberantes ganha súbita coerência. Nos capítulos que seguem, Adams vai destrinchando vários nacos do pensamento de Schmitt e mostrando como o trumpismo se adequa a ele.

A imagem mostra um homem com o rosto de Donald Trump sentado em um trono, vestido como um rei, com uma coroa e um manto vermelho. Ele está apontando com uma mão, enquanto uma multidão de figuras sombreadas está diante dele, ouvindo. O fundo é de uma cor azul clara.
Annette Schwartsman

Antes de continuar, um alerta. Schmitt é a versão jurídica de Martin Heidegger. Os dois pensadores se envolveram profundamente com o nazismo, do qual jamais se retrataram. Mas suas ideias, embora controversas, são vistas como mais do que mero epifenômeno do nazismo e por isso continuam a ser estudadas pela academia.

Adams inicia o livro mostrando como a distinção schmittiana entre amigo e inimigo, que, para o alemão, deve ser o fundamento do Estado e serve para conferir autoridade total ao soberano, inclusive para eliminar os indesejáveis, funciona à perfeição para descrever a forma como Trump vê seu poder.

Por essa lógica, quem vota contra Trump é o inimigo e, portanto, carece de legitimidade. Apenas contar os votos dessas pessoas já configura uma espécie de violação ao princípio da autoridade. Daí a desqualificar qualquer voto contra Trump como fraudulento é só um pulinho.

Para Adams, o liberalismo e o trumpismo operam sob paradigmas incompatíveis. Podemos, portanto, esperar mais violência se as instituições democráticas liberais tentarem mais uma vez conter Donald Trump.

Não é animador, mas é realista.

helio@uol.com.br

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