terça-feira, 4 de abril de 2023

Governo estuda programa para retirar carros velhos das ruas mediante indenização, FSP

 

BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (3) que o governo federal estuda lançar um programa para renovar a frota de automóveis no Brasil, que seria financiado com um fundo das empresas petroleiras.

Haddad falou da possibilidade após encontro com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

"Vim tratar com o vice-presidente [Alckmin] da possibilidade de estabelecer um programa que usa um fundo das petroleiras e dedicar esse fundo à transição ecológica por meio da renovação de frota de carros muito velhos que precisam ser retirados de circulação mediante indenização para que a frota seja renovada em proveito do meio ambiente", afirmou o ministro.

Ele não detalhou como funcionaria este modelo de indenização.

Fernando Haddad durante entrevista a jornalistas na sede do Ministério da Fazenda
Fernando Haddad durante entrevista a jornalistas na sede do Ministério da Fazenda - Pedro Ladeira-28.fev.2023/Folhapress

O ministro da Fazenda indicou que o programa foi uma solicitação de Geraldo Alckmin. Haddad também disse que não haveria necessidade de encontrar uma fonte de recursos para financiar o programa.

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"Vim pegar a encomenda, vou montar uma equipe para estudar e vamos dar uma devolutiva para o vice-presidente Alckmin", afirmou.

"É rápido. É um recurso que já está segregado para isso. Recurso de um fundo que já existe, não é recurso novo", completou o ministro.

O programa é uma demanda do setor automotivo, que busca estender para os carros leves o mesmo tipo de incentivo já existente para a renovação da frota de caminhões e outros veículos pesados.

No ano passado, o governo Bolsonaro criou por MP (medida provisória) um programa de retirada voluntária de circulação de veículos que não atendam aos parâmetros técnicos de rodagem ou que tenham mais de 30 anos de fabricação.

Os benefícios existentes hoje se aplicam a caminhões, implementos rodoviários, ônibus, micro-ônibus, vans e furgões. A medida foi planejada especialmente para autônomos, com frota mais antiga.

A MP de Bolsonaro deu origem a uma lei, aprovada pelo Congresso. Essa lei tem um dispositivo polêmico que permite a empresas de exploração e produção de petróleo e gás retirar dinheiro de pesquisa e inovação para aplicar na renovação da frota de caminhões e ônibus.

então presidente Bolsonaro sancionou o texto com alguns vetos, mas manteve o item.

Celso Amorim visita Rússia e encontra Putin para tratar de negociação de paz na Ucrânia, FSP

 

BRASÍLIA e SÃO PAULO

O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, realizou uma viagem discreta à Rússia e à França na última semana para prospectar cenários para uma negociação de paz no contexto da Guerra da Ucrânia.

À Folha ele diz ter ficado surpreso com a receptividade do governo de Vladimir Putin —o próprio presidente russo o recebeu, para uma conversa que durou uma hora, no Palácio do Kremlin, em Moscou.

Amorim e a comitiva brasileira conversaram com o russo, por meio de tradução simultânea em inglês, na "mesa gigante" de Putin, mobiliário de cinco metros que virou meme durante a pandemia de Covid.

O ex-chanceler e atual assessor especial do presidente Lula, embaixador Celso Amorim - Adriano Machado/Reuters

Durante as tratativas, Amorim falou em especial sobre o conflito na Ucrânia e, por iniciativa russa, de alguns temas da agenda bilateral, como o comércio de fertilizantes. Durante a viagem, foi confirmada a vinda a Brasília do chanceler russo, Serguei Lavrov, no próximo dia 17.

Segundo o conselheiro de Lula para a agenda externa, a viagem serviu para observar a receptividade russa à proposta de mediação de paz para a guerra. "Eles dizem que apreciam tanto os esforços do Brasil quanto os da China", afirma —Pequim apresentou um plano para a paz que foi esnobado pelo Ocidente.

Mas a ambição brasileira levará tempo, pondera Amorim. "Não há solução imediata. É preciso preparar um quadro para quando a vontade política se materializar. Quando ficar claro para um lado ou para o outro que o custo da guerra é maior que o de eventuais concessões, as ideias para a paz poderão fluir."

Amorim partiu na última terça-feira (28) para uma viagem de seis dias, a mando do presidente Lula. As reuniões na França tiveram o objetivo de representar a ligação com o lado Ocidental —que apoia Kiev.

Questionado, Amorim diz que não há um plano imediato para uma conversa com altas autoridades de Kiev, mas não descarta a possibilidade —o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, já fez críticas à postura neutra do governo brasileiro na guerra. A primeira parada da viagem foi em Moscou, onde houve o encontro com Putin, o chanceler Lavrov e dois auxiliares do presidente.

Amorim também almoçou com Lavrov, com quem mantém contato há anos, dos tempos em que era o chanceler brasileiro e quando atuou no mesmo período que o russo na ONU. Um aliado afirma que o assessor especial de Lula teve a missão mais de ouvir a versão dos envolvidos do que de propor soluções. Ele também não usou o termo "clube da paz", como Lula tem feito. "Deixei um pouco mais vago", afirma.

Após Moscou, o ex-chanceler foi a Paris. O principal encontro foi com Emmanuel Bonne, conselheiro do presidente Emmanuel Macron para relações internacionais, função semelhante à de Amorim.

Lula vem buscando uma forma de atuação para encerrar o conflito. A equipe do mandatário defende que o Brasil atue como um facilitador para colocar os atores envolvidos no conflito, direta ou indiretamente, em uma mesa de negociação. O petista defende, por exemplo, que o tema seja tratado em um clube de países não envolvidos diretamente nas hostilidades, como Índia e Indonésia. Essas nações, na visão do presidente brasileiro, forneceriam as condições para mediar a conversa entre os beligerantes.

O modelo é semelhante ao adotado para possibilitar um diálogo entre governo e oposição na Venezuela, ainda no primeiro mandato do petista; e, depois, para tentar solucionar a questão nuclear iraniana.

Alguns críticos de Lula e de sua iniciativa apontam que o presidente não apresentou uma proposta concreta de paz e que, por isso, suas ações terão pouca eficácia.

O presidente também quer discutir o assunto com o líder chinês, Xi Jinping, durante viagem oficial ao país asiático, na próxima semana. A viagem estava programada para acontecer na segunda quinzena de março, mas acabou cancelada após Lula receber o diagnóstico de pneumonia.

Lula também já manteve uma conversa de vídeo com Zelenski e recebeu um convite para visitar o país invadido pelas tropas russas. A guerra entre Rússia e Ucrânia completou no fim de fevereiro um ano, contabilizando mais de 250 mil mortos e 8 milhões de refugiados.