terça-feira, 4 de abril de 2023

Joel Pinheiro da Fonseca - Nova regra fiscal é avanço possível, mas não mexe no elefante na sala, FSP

 Temos finalmente uma regra fiscal, que é menos restritiva do que era o teto (pois permite aumento real —limitado— do gasto) e que nos dá um horizonte de ajuste. Isso é um ganho, e o mercado reconheceu esse fato.

Ela, contudo, está longe de ser perfeita, assim como o teto também tinha defeitos. Entendo as principais críticas: ela tem metas improváveis de superávit; e esses resultados virão quase que unicamente do aumento de receita, não do corte de gastos.

Há uma discussão puramente semântica sobre se eliminar isenções e exceções tributárias constitui um "aumento da carga tributária". Assim como outras discussões do tipo (como a célebre "educação é gasto ou investimento?") que versam sobre definições, ela não altera a realidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que divulgou na quinta-feira o novo arcabouço fiscal do governo juntamente e com presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entre outros líderes - Pedro Gontijo - 30.mar.23/Senado Federal

Sim, no plano do governo, empresas e talvez indivíduos pagarão mais imposto do que pagam hoje, seja graças ao fim de alguma isenção ou fechamento de brecha jurídica. É o caso de sites de apostas. Esse tipo de correção é virtuosa, ao trazer mais isonomia. Outro caminho é a reinterpretação de regras da Receita Federal para favorecer o Estado; esse já é mais danoso. Ambos, contudo, aumentarão a carga tributária e, portanto, terão impacto no crescimento. Fica faltando o outro lado: a redução de gastos. Por que é tão difícil seguir por esse caminho?

Na semana passada ficamos sabendo que há milhares de "filhas solteiras de servidores públicos falecidos" —e muitas de solteira não têm nada— que ganham mesada do Estado brasileiro num custo total de R$ 3 bilhões ao ano. Novamente, é pouco perto do ajuste necessário, mas que mesmo esse pouco seja considerado uma impossibilidade jurídica devido ao "direito adquirido" —ou privilégio adquirido— já nos mostra que mexer no "muito" seria ainda mais difícil.

Outro exemplo: o Judiciário brasileiro é notoriamente caro para padrões mundiais. Gastamos (ou será que "investimos"?) 1,8% do PIB com o Judiciário e Defensoria Pública. Países desenvolvidos em geral não passam de 0,4%. Será que, em contrapartida, contamos com uma Justiça muito mais célere e confiável que a deles? Deixo essa resposta com o leitor.

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O Brasil fez a opção por um Estado social, que garante acesso a educação e saúde para todos, bem como transferências de renda. Isso garante que jamais teremos um "Estado pequeno" para padrões mundiais. Isso não é um problema. Mas junto desse Estado social, e usando dele como escudo, há um mar de privilégios e transferências de renda espúrias que, se não for atacado, colocará a perder qualquer esforço pelo equilíbrio fiscal. Aliás, todo o emaranhado de políticas sociais e de emprego clama por estudos de impacto para saber o que devemos aumentar e o que devemos reduzir.

O custo econômico de aumentar a carga vai se tornando proibitivo. Há, contudo, uma luz: a regra proposta pelo governo garante algum tempo. Tempo precioso para aí sim trazer a agenda positiva: a reforma tributária. O peso da arrecadação extra pode ser compensado pelos ganhos de eficiência trazidos pela simplificação dos impostos, essa sim uma reforma econômica liberal que foi sabotada pelo governo anterior. Se ela sair, será um golaço para o governo. Mas sem ilusões: o fiscal voltará logo mais.

Datena pede a Boulos que 'peite' Lula e sugere chapa com ambos; veja vídeo, FSP

 O apresentador José Luiz Datena sugeriu ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) que "peite" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em vídeo gravado de uma conversa com a presença dos dois que ocorreu no último sábado (1º).

O apresentador José Luiz Datena ao anunciar na TV nesta quinta-feira (30) sua desistência de concorrer ao Senado em 2022
O apresentador José Luiz Datena - Reprodução/Band

Recém-filiado ao PDT, Datena sugere no vídeo a Boulos, pré-candidato a prefeito de São Paulo, que ambos formem uma chapa na eleição.

"Se você peitar o PT e nós sairmos candidatos, se você falar para o Lula: eu quero o Datena como vice e sinto muito, nós podemos sair", diz Datena na conversa, em torno de uma mesa, com Boulos e outras pessoas.

O deputado federal não se manifestou sobre a sugestão e manteve-se em silêncio. Ele tem repetido que seu vice será do PT, parte de um acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva firmado no ano passado.

A conversa ocorreu na casa de Boulos, num encontro em que participaram corintianos ilustres, como o ex-jogador Neto. O futebol tomou grande parte da noite, até que Datena começou a falar de política

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A tese do apresentador expressa no vídeo é que Boulos é o único nome da esquerda capaz de ser o substituto de Lula, e por isso o PT vai fazer de tudo para sabotá-lo.

"O PSOL é um partido que está surgindo, com força importante. Tem o único cara de esquerda capaz de ser o substituto do Lula. E o PT não aceita isso, vai querer fazer o [Fernando] Haddad", diz o apresentador, ao que Boulos reage: "É isso mesmo".

Datena prossegue: "[O PT] Não quer que você [Boulos] seja eleito, para você se fuder na eleição, [e dizerem] tá vendo, o Boulos não tem potencial".

Após refugar na última hora de diversas candidaturas nos últimos anos, Datena voltou a flertar com um projeto eleitoral recentemente. Na conversa, ele diz a Boulos que sair candidato sem o PT seria melhor.

"Se o Lula naufragar na política econômica, ele vai te empurrar para baixo. Se você sair candidato pelo PSOL sem o PT, não tem esse risco", diz.

Ainda de acordo com Datena, Lula talvez não chegue ao fim do mandato. "O Lula não sei se aguenta o mandato. E o PT, não é que não gosta de você [Boulos], não gosta do Lula também".

Boulos disse em uma rede social que o encontro foi "uma conversa informal sobre futebol e política". "Lamento profundamente que alguém tenha vazado uma conversa privada na tentativa de criar polêmica", declarou. Procurado, Datena não se manifestou.


Defensoria pede para ficar de fora do teto do novo arcabouço fiscal, FSP

 Em reunião no Ministério do Planejamento na última quinta-feira (30), representantes da DPU (Defensoria Pública da União) pediram para ficar de fora das regras previstas na nova âncora fiscal, apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na semana passada.

O ideal, segundo os técnicos, seria criar uma exceção, a exemplo do que deve acontecer com o piso da enfermagem e o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). Na avaliação deles, é preciso que a nova âncora leve em consideração também os impactos para as políticas de direitos humanos.

Imagens do atendimento da Defensoria Pública da União em sua nova sede no Palácio da Agricultura em Brasília
Imagens do atendimento da Defensoria Pública da União em sua nova sede no Palácio da Agricultura em Brasília (Foto: Ailton de Freitas/DPU) - DPU

Segundo foi apresentado, a Emenda Constitucional 80/2014 havia estipulado um prazo de oito anos para que a DPU se interiorizasse e que todas as unidades jurisdicionais contassem com um defensor.

A meta não foi alcançada. Hoje ela está presente em 29% dos municípios que são sedes de seções e subseções judiciárias e tem um quadro de 680 defensores para todo o país.

O orçamento da DPU é de pouco mais de R$ 700 milhões. Para que a meta de interiorização fosse alcançada, estima-se que precisaria ser 300% maior. O valor é bem menor que de outros órgãos judiciais, como a AGU (Advocacia-Geral da União), que conta com R$ 4 bilhões, por exemplo.

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Durante o encontro, o diretor da Secretaria de Articulação Institucional do ministério, Luciano Severo, prometeu levar a demanda à ministra Simone Tebet. Ficou combinada também a retomada do diálogo ao longo da execução orçamentária.