quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Paulo Skaf diz que não vai disputar reeleição da Fiesp, FSP

 Bruna Narcizo

SÃO PAULO

Perto de finalizar seu quarto mandato como presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf anunciou nesta quarta-feira (19) que não irá tentar modificar o estatuto para disputar novamente a presidência da federação.

Skaf convocou uma reunião com cerca de 30 presidentes de sindicatos, que fazem parte da Fiesp, para dizer que abriria mão de uma nova reeleição.

Ele disse que já havia cumprido sua missão como presidente da entidade e que lançaria um nome para disputar a eleição em uma chapa que teria o seu apoio.

Em maio, a Folha noticiou que ele havia começado a se movimentar para tentar permanecer na presidência da entidade. Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, no entanto, Skaf teria desistido por conta dos embates que se tornaram públicos na imprensa.

Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo)
Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) - Isac Nóbrega/PR

Desde o início do ano, ex-presidentes e até o atual segundo vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, publicaram artigos na Folha afirmando que havia chegado a hora da mudança.

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Skaf já fez duas alterações no estatuto desde que assumiu a Fiesp, em 2004. Seu mandato atual termina em 2021.

Segundo pessoas ligadas à entidade, na última vez em que pediu mudança no estatuto da Fiesp, Skaf teria garantido que não viriam outras. Teria informado que pretendia se dedicar à política e que só precisava da visibilidade do cargo de janeiro a maio de 2018, quando se licenciou para disputar as eleições para o governo do estado de São Paulo.

Skaf não esconde as ambições políticas e foi candidato ao governo do estado de São Paulo nas três últimas eleições. Em 2010 e em 2014, quando Geraldo Alckmin (PSDB) foi eleito e reeleito, ele terminou o pleito em segundo lugar. Em 2018, em terceiro.

Quando perdeu as eleições, voltou ao comando da Fiesp.

Diferentemente das outras vezes em que mudou o estatuto, Skaf também não está em seu melhor momento dentro da federação e ainda tem que lidar com uma investigação feita pela Operação Lava Jato.

No final de abril, ele foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo e pela Procuradoria Regional Eleitoral no estado de São Paulo, junto com o empresário Marcelo Odebrecht e o publicitário Duda Mendonça, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e de caixa dois em montante superior a R$ 5 milhões durante as eleições que Skaf disputou ao governo do estado em 2014. Em maio, a Justiça aceitou a denúncia.

A defesa de Paulo Skaf diz que a aceitação da denúncia pela Justiça é "mera formalidade procedimental" e que está à disposição da Justiça.

"Todas as doações recebidas pela campanha de Skaf ao governo de São Paulo em 2014 estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral, que aprovou sua prestação de contas sem qualquer reparo de mérito”, afirmou.

Para que ele possa se candidatar novamente, é necessário, mais uma vez, mudar o estatuto da federação.

Ele também tem um número cada vez maior de opositores dentro da federação; alguns, aliás, fizeram parte da chapa de Skaf à reeleição em 2017.

No início do ano, reportagem da Folha mostrou o descontentamento de alguns dos principais industriais de São Paulo com o que chamavam de militarização da Fiesp —a indicação de militares para vários cargos na entidade.

A estratégia foi interpretada como uma forma de Skaf sinalizar alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro.

Pessoas ligadas à Fiesp dizem ainda que essa aproximação seria um novo caminho, percebido por Skaf, para, enfim, vencer a eleição ao governo de São Paulo. E o aumento na popularidade do presidente após a pandemia do novo coronavírus coloca a candidatura em um local mais confortável.

Doria teve a péssima ideia de fazer um rapa nas universidades e na ciência de SP, FSP

O governo de João Doria quer fazer um rapa nos fundos das três universidades estaduais, USP, Unicamp e Unesp, e na Fapesp, a fundação que financia pesquisa científica. Quer raspar o tacho do dinheiro que a contabilidade chama de “superávit financeiro”. Na conta dos balanços de 2019, trata-se de R$ 1,5 bilhão. O Orçamento do governo estadual é de R$ 239 bilhões. O déficit de 2020 está estimado em uns R$ 10 bilhões.

O plano vai abalar as universidades e arrebentar a ciência paulista, que faz boa parte da pesquisa nacional, que está sendo arrebentada por Jair Bolsonaro. Além do mais, o projeto paulista parece ilegal, pois universidades têm autonomia. Deve ser emendado na Assembleia Legislativa. Ainda assim.

Do ponto de vista da administração pública, é um incentivo ao desperdício e à falta de planejamento. Em tese, essa faca no pescoço induz o gestor a imediatismos corporativos, como torrar o dinheiro enquanto pode, antes que o Estado leve o que eventualmente possa sobrar. Logo, prejudica planos de investimento a longo prazo, plurianuais, e outras prudências e eficiências no uso dos recursos.

Governador do estado de São Paulo, João Doria
Governador do estado de São Paulo, João Doria - Governo do Estado de Sao Paulo

Esse “superávit financeiro” consiste basicamente de caixa e equivalentes de caixa. Mais não se sabe sobre esses dinheiros, pois os balanços das universidades e da Fapesp não especificam a natureza das reservas. Essas e outras satisfações poderiam constar das notas explicativas, por falar nisso, que são pouco mais do que citações da lei e de normas contábeis. Não explicam nada.

A Fapesp diz em público que esses dinheiros estão reservados e comprometidos com o pagamento futuro de projetos em andamento. Seja como for, a fundação e as universidades precisam de reservas.

O rapa na ciência faz parte de um pacotaço fiscal. O governo Doria diz que o estado está na pindaíba e que seria injusto não usar essas “sobras” das universidades e da Fapesp em gastos essenciais, em especial com pobres. Pode ser, mas com esse argumento também se pode fechar a universidade.

Quais outros recursos estão “sobrando”? A gente não sabe. Doria pretende diminuir incentivos fiscais (favores com o ICMS), fechar autarquias e assemelhados e demitir parte de seus funcionários. No projeto de lei, não mostrou as contas, o que é uma atitude que não presta. O projeto coloca em questão a utilidade de manter certas instituições, o que parece razoável, dada a multiplicidade de burocracias, e pede autorização para privatizar outras tantas, mas não explica em que condições serão prestados certos serviços, o que não é razoável.

As universidades estão no aperto em parte porque fizeram bobagem nos anos de bonança, de crescimento e arrecadação alta (as universidades paulistas têm direito a uma porcentagem fixa da arrecadação estadual). Elevaram despesas fixas (basicamente salários), tendo receitas que flutuam com o ciclo econômico. É assim que o governo do estado do Rio de Janeiro vai à falência ano sim, outro também.

As ​universidades são autônomas, mas não para fazer besteira, embora não exista um sistema racional de controle, um método que não submeta as universidades à politicagem e a desmandos de governantes chucros. Seria conveniente ter uma regra “anticíclica”: em anos bons de receita de impostos, seria necessário colocar o dinheiro em um fundo, por exemplo.

Agora, as universidades estão fazendo reservas, um “fundo”. A Fapesp de fato faz planos de médio prazo. O governo do estado quer arrombar uma porta de cofre que estava sendo consertada.​

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).