domingo, 30 de março de 2014

Energia solar carrega casas e carros


Montadoras americanas levam expertise de seus carros elétricos para fora da garagem e garantem uso da energia do sol durante a noite

30 de março de 2014 | 2h 03

Todd Woody, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Apesar de cada vez mais proprietários de casas gerarem sua própria eletricidade com painéis solares, eles ainda precisam da eletricidade de alguma distribuidora depois que o sol se põe. Agora, fabricantes automotivas dizem que podem ter uma solução, armazenando essa energia não poluente em baterias de carro para uso posterior.
A Honda vai introduzir na próxima terça-feira uma casa experimental em comunidade ambientalmente consciente para mostrar tecnologias que permitem que a habitação produza mais eletricidade do que consome. Este é um exemplo de como companhias de energia solar e fabricantes automotivas estão convergindo para um objetivo comum: criar a casa autossuficiente, tendo uma bateria de carro como centro nevrálgico.
Agora que a construção civil e os transportes respondem por 44% das emissões de gases do efeito estufa nos Estados Unidos, companhias automobilísticas veem cada vez mais os carros movidos a células de hidrogênio ou totalmente elétricos como veículos que atenderão aos ditames ambientais e levarão ao desenvolvimento de novos produtos e serviços de energia fora da garagem. Ford, Tesla Motors e Toyota estão perseguindo estratégias similares.
"É um novo mundo em termos de veículos que operam não como artefatos isolados, mas como parte de um sistema energético maior, e creio que a maior oportunidade para as montadoras é imaginar como seus veículos se tornarão parte desse sistema", disse Daniel Sperling, diretor do Instituto de Estudos do Transporte na Universidade da Califórnia em Davis, que forneceu o terreno do edifício e a tecnologia de aquecimento e iluminação para a Honda Smart Home. 
O coração da casa de 180 metros quadrados da Honda é um quarto adjacente à garagem imaculada que contém um conjunto de baterias de íon de lítio capaz de gerar 10 quilowatts-hora acomodado numa caixa preta. A bateria é uma versão menor de uma que aciona o Honda Fit inteiramente elétrico estacionado na garagem.
Perto da bateria fica uma caixa branca maior chamada de Sistema de Gestão de Eletricidade da Casa. Ela é o cérebro da residência, decidindo quando explorar a eletricidade renovável gerada por um conjunto de painéis solares de 9,5 quilowatts-hora instalado no telhado para carregar a bateria de carro ou armazenar a energia solar.
Excedente. O painel solar tem cerca de duas vezes o tamanho de um tipicamente encontrado numa casa comparável de subúrbio. A quantidade de eletricidade gerada pelos painéis e armazenada no conjunto de baterias faz com que a casa até opere sem a rede elétrica.
A casa envia a eletricidade excedente para a rede. E se as distribuidoras ficarem sobrecarregadas, por exemplo, no verão quando as temperaturas sobem e cada um liga seu aparelho de ar condicionado, a provedora local de eletricidade pode enviar um sinal à casa que então vai enviar eletricidade solar para a rede e ajudar a evitar blecautes.
Uma casa de tamanho similar consumiria 13,3 megawatt-horas de eletricidade por ano enquanto uma casa inteligente geraria um superávit estimado de 2,6 megawatts-hora por ano.
"Podemos levar nossa emissão de carbono abaixo de zero", disse Michael Koenig, o chefe do projeto da Honda Smart Home, na sala de visitas da casa arejada e bem iluminada enquanto uma reprise de McHale's Navypassava numa grande televisão de tela plana embutida na parede. Com um iPad, ele controla todas as funções da casa, da iluminação ao sistemas de energia, e que mostrava a geração de 4,2 quilowatts de eletricidade da casa numa manhã parcialmente ensolarada enquanto consumia 0,84 quilowatt.
"O sistema calculará a carga de eletricidade da residência para o dia com base no histórico da casa além da produção de energia solar esperada e só comprará eletricidade ao preço mais baixo", disse Koenig. O Honda Fit EV na garagem foi modificado para aceitar eletricidade diretamente também do painel solar.
Economia. Para reduzir ao mínimo o consumo de eletricidade, a Honda e a universidade instalaram várias tecnologias para poupar energia. Um sistema geotérmico aproveita o calor do solo embaixo da casa para aquecimento e resfriamento enquanto uma iluminação automatizada com aproveitamento eficiente de energia ajusta o tom dos LEDs para imitar a luz do dia. Ao anoitecer, por exemplo, as luzes deixam de emitir tons azuis, que conforme se descobriu interferem no sono.
A empresa também usou cinzas vulcânicas nas fundações das casas para evitar de produzir concreto, que é um processo que produz muito carbono. Mas Steve Center, vice-presidente do Escritório de Desenvolvimento de Negócios Ambientais da Honda, disse que a companhia não espera vender essas inovações de construção "verdes" e qier se concentrar no potencial de vender tecnologia de gestão de energia doméstica e sistemas de baterias para casas, construtoras e companhias de eletricidade.
"Vemos muitas coisas convergindo", disse Center. "Haverá novos modelos de negócios como compartilhamento de energia doméstica e armazenamento de energia, usando as baterias particulares de carros."
Em 2013, a Honda e a SolarCity criaram um fundo de US$ 65 milhões para financiar a instalação de painéis solares para clientes da Honda. A Ford fez acordo com a SunPower para dar a compradores de seus carros elétricos um desconto nos painéis solares da companhia. Um protótipo do carro elétrico-híbrido plug-in C-Max da Ford usa painéis solares de 1,5 metro quadrado no seu teto para carregar a bateria do carro. Ele dispensa a eletricidade da rede.
"Há uma razão comercial no mercado de casas se os preços das baterias continuarem caindo", disse Mike Tinskey, diretor de infraestrutura e eletrificação de veículo global da Ford. "Você poderia carregar a bateria do carro à noite usando elétrons potencialmente mais limpos e a custo mais baixo que poderia usar durante o dia quando as tarifas são mais altas."
Obstáculos. Isso ameaçaria as receitas das companhias de eletricidade, que têm criado obstáculos a esses sistemas. Na Califórnia, a SolarCity ofereceu a clientes conjuntos de baterias de íons de lítio de 10 kWh fabricados pela Tesla Motors para armazenar eletricidade gerada por painéis solares. Mas as três grandes distribuidoras de energia do Estado têm sido lentas em conectar tais sistemas à rede, alegando que os donos de casas poderiam usar as baterias para armazenar eletricidade quando as tarifas estão baixas e vendê-la quando sobem.
Os reguladores até agora se alinharam com as companhias de energia solar. A California Public Utilities Commission ordenou em outubro que as distribuidoras obtenham 1.325 megawatts de armazenamento de energia até 2020 para ajudar a equilibrar a rede à medida que mais fontes de eletricidade renovável, mas intermitente, entram em operação.
A comissão também emitiu uma decisão preliminar, em outubro, que orientou as distribuidoras a conectarem sistemas de armazenamento de energia domésticos na rede sem nenhum custo adicional. Com as instalações de energia solar aumentando nos EUA e subsídios estaduais pagando 60% do custo de sistemas de energia caseiros instalados na Califórnia, as fabricantes automotivas esperam que mais donos de casa vejam seu carro elétrico como fonte de eletricidade de reserva.
A casa média nos EUA consome cerca de 30 quilowatts-hora por dia, segundo a United States Energy Information Agency. "Há um potencial imenso para veículos a célula de combustível servirem como fonte de eletricidade", disse Center. /TRADUZIDO POR CELSO PACIORNIK

Rebelde sem calça


Criticada por fazer pornô para pagar escola, jovem compra briga e vira musa de trabalhadoras do sexo

29 de março de 2014 | 16h 00

Paulo Nogueira
Até ontem, o nome Belle Knox era tão familiar à maioria dos americanos quanto o do Soldado Desconhecido. Hoje, ela tem mais buscas no Google que Justin Bieber e o papa Francisco juntos. E, ao contrário das sisters do BBB, em geral célebres apenas por seus 15 minutos de fama, tudo indica que Belle veio para ficar. Assim como sua ex-identidade secreta: Miriam Weeks, que, aos 18 anos entrou em direito na Duke, uma das melhores universidades dos EUA, e cuja família não tinha dinheiro para pagar seus estudos. Até que a ficha caiu para a caloura: pôs no Google "como ser uma atriz pornô" e enviou suas fotos. Choveram convites e num piscar de olhos ela estava literalmente deitando e rolando. Porém, ai, porém...
Belle. 'Eu sou eu, não uma pesquisa do Google. Sou uma estudante da Duke' - Dave Kotinsky/Getty Images
Dave Kotinsky/Getty Images
Belle. 'Eu sou eu, não uma pesquisa do Google. Sou uma estudante da Duke'
Belle pensava que ia se manter anônima, como Clark Kent que põe o óculos e ninguém o reconhece? "Fui ingênua. Vivemos numa sociedade em que denunciar pessoas é uma atitude aceitável." Não deu outra: um colega reconheceu-a num vídeo e botou a boca no trombone. A reação foi sísmica. Hostilizaram a jovem até com ameaças de morte. Houve quem rosnasse que merecia ser estuprada. Que deveria ser expulsa da faculdade. Fez queixa à polícia e ouviu evasivas desdenhosas.
O anátema não ficou por aí. Como o pai de Miriam é um clínico de interior, o tabloide New York Post titulou: "Médico patriota volta do Afeganistão e descobre que sua princesa virou periguete pornô". Foi então que a moça comprou a briga: "Me chamo Miriam Weeks, meu nome de guerra é Belle Knox e uso minha Letra Escarlate com orgulho." Era uma alusão ao clássico romance de Nathaniel Hawthorne (traduzido por Fernando Pessoa), que descreve uma comunidade puritana de Boston no século 17 na qual a jovem Hester Pryne é condenada a levar a letra "A" de adúltera bordada em seu peito.
Já "Belle" é uma homenagem à heroína do desenho A Bela e a Fera, que prefere os livros aos marmanjos sarados da aldeia. E cabia uma referência à Bela da Tarde, a obra-prima de Buñuel em que a personagem de Catherine Deneuve, uma burguesa que de dia bate ponto num bordel, adota o nome de Belle de Jour. E ronrona: "Antes à tarde que nunca".
O episódio desnudou as perversões da educação nos EUA. Das dez melhores universidades do mundo, oito são americanas; entre as cem melhores, quase a metade (a USP está em 85º lugar). Na Duke, apenas 12% dos candidatos conseguem uma vaga. Um dos professores é o brasileiro Miguel Nicolelis - para a revista Science, um dos 20 cientistas mais importantes do mundo. Só que a Duke também é proibitiva: custa US$ 60 mil anuais (cerca de R$ 135 mil). De 1978 a 2013, o custo de uma boa universidade americana aumentou 1.120% - o dobro da inflação na saúde e o quádruplo do índice de preços ao consumidor.
Miriam até cogitou ser garçonete do McDonald’s. Mas fez as contas e viu que no máximo daria para pagar um curso de tricô por correspondência.
Nos EUA, com a ética protestante descrita por Max Weber, os pais de classe média encorajam os filhos adolescentes a ralar como babás ou entregadores de jornal. O caldo entornou porque Miriam não se mostrou contrita e apologética. Mais articulada que um caminhão de fefeleches, proclamou que não era uma vestal e que ao costurar para fora juntou a fome com a vontade de comer. "Amo o sexo, com eles ou com elas, e sempre amei filmes pornô." Glup!
Na TV, Belle chutou o pau da barraca com a veemência de um beque de fazenda. No The View, talk show há 17 anos no ar, a caloura enfrentou a ferocidade virtuosa de Barbara Walters, decana das telejornalistas, que espumou: "Foi com seus pais que viu filmes pornôs?". Dr. Drew, um médico midiático, surtou: "Se fosse seu pai, a obrigava a beber arsênico!".
O caso realçou a indefectível hipocrisia social quando se fala de sexo e/ou pornografia. Como reza um ditado da indústria pornográfica, "os americanos se masturbam com a mão direita e apontam um dedo ultrajado com a esquerda". Consumir pornografia é considerado uma parte saudável da sexualidade adulta - mas os atores pornôs são vilificados, ainda que o ofício seja completamente legal. Como Miriam alfineta: "Se você curte nosso trabalho, por que quer arruinar nossas vidas?".
Outra questão são os efeitos da ubiquidade da internet - que uma moça de 18 anos como Miriam, que vê pornôs desde os 12, absorveu desde a mamadeira. Hoje, a idade média da primeira exposição à pornografia não solicitada é de 11 anos. 35% dos downloads da web são pornográficos (1 bilhão por mês), e 25% das buscas no Google. Como observou Millôr Fernandes, "é estarrecedor o interesse que o sexo ainda desperta, depois de tantos milhares de anos de uso".
Belle Knox segue acumulando a Duke e os pornôs. Ocupa a segunda posição no ranking de atrizes do Pornhub, o terceiro mais popular site do gênero (14,7 bilhões de visitas em 2013). Já inúmeros outros jovens americanos só frequentariam faculdades se assistir a vídeos pornôs fosse uma atividade remunerada.
Miriam decidiu: vai se especializar em direito das mulheres. "Recebi milhares de e-mails de trabalhadoras e ex-trabalhadoras do sexo, me agradecendo por lhes dar uma voz." E, para chilique das âncoras politicamente imaculadas do The View, se define como uma feminista: "Eu sou eu, e não uma pesquisa do Google. Sou uma moça americana. Sou uma estudante da Duke. E, nos filmes, sou uma vadia que quer ser castigada. Quem consegue adivinhar qual dessas é uma personagem?"
A resposta talvez seja: todas e nenhuma. Afinal, Miriam Weeks provou que, mais do que Belle Knox, ela é a bela e a fera juntas.
PAULO NOGUEIRA, ESCRITOR E JORNALISTA, É AUTOR DE O AMOR É UM LUGAR COMUM 

Não cantaremos a internet


Com a toxicodependência cognitiva que causa, ela deve ser proibida em aula, diz professor

29 de março de 2014 | 16h 00

Julio Groppa Aquino
Meu pai morreu há exatos 20 anos; ele não conheceu a internet. Nem minha mãe, que se foi logo depois. Nem Guimarães Rosa, nem Clarice Lispector, nem Carlos Drummond - de quem parafraseio o título acima. É bem provável que Cazuza tampouco. Michel Foucault, certamente não. Teriam eles nos legado o que legaram caso tivessem sido interceptados pelo imperativo informativo-comunicacional perpetrado pelo advento da rede mundial de computadores? Teriam eles páginas próprias? Valer-se-iam do Google para construir seus feitos? Responderiam a nossos e-mails?
Fibra ética e vontade política de levar longe ideias que mereceriam ser lembradas por novas gerações - Jonne Roriz/Estadão
Jonne Roriz/Estadão
Fibra ética e vontade política de levar longe ideias que mereceriam ser lembradas por novas gerações
As discussões no Parlamento brasileiro em torno do Marco Civil da Internet constituem uma ocasião propícia para que ganhemos alguma distância reflexiva acerca desse fenômeno sociocultural sem precedentes na história humana, cujos efeitos sobre nossos modos de vida se mostram não apenas incontáveis, mas também cada vez mais sombrios.
Sobretudo para aqueles responsáveis pela educação das novas gerações, um dilema prosaico se perfaz a cada dia: jogar a toalha, ou não, para o uso dos aparatos comunicacionais em sala de aula. Alguns mais afoitos dirão que se trata do ensino de modos adequados de apropriação das tais TICs (tecnologias de informação e comunicação), ou, em termos mais pedagogicamente corretos, da boa alfabetização digital. Já que supostamente não se poderia viver sem tais tecnologias, que as tornássemos nossas aliadas na lida do ensinar.
Outros, mais sóbrios talvez, revelam-se incapazes de evitar uma atitude de desconfiança em relação a um mundo em que ver e ouvir converteram-se em ações inimaginavelmente mais sofisticadas do que imaginar e reinventar o que se viu/ouviu. Um mundo em que os pequenos acontecimentos da vida não mais afetam por sua singularidade e, em última instância, por sua falta de sentido imediato. Um mundo em que os pequenos feitos cotidianos passam a ganhar veridicidade apenas quando convertidos em uma imagem fotográfica a mais postada naquele desfiladeiro sem fim de banalidades confessionais que chamamos de Facebook. Um mundo também de espionagem, de delação e de falcatruas virtuais, erigido sob a batuta de uma presumida participação democrática, autônoma e paritária, já que ancorada no usufruto do direito a opinar sobre todas as coisas, em qualquer tempo ou circunstância. Um mundo, enfim, em que internauta se converteu em sinônimo fático de ser vivente.
Nada contra a internet. Longe disso. Sou um perfeito escravo dela, assim como uma parcela crescente dos bilhões de conterrâneos planetários meus. Mas, em sala de aula, sua entrada é terminantemente proibida. A justificativa para tanto tem menos a ver com a ditadura que ela instaurou em nossos modos tão instantâneos quanto indiferentes de ser, de pensar e, sobretudo, de conviver e mais com a toxicodependência cognitiva que ela vem causando nas novas gerações. Vítimas comuns de algo que poderíamos designar, sem qualquer ensejo estigmatizador, como "síndrome de abstinência virtual", as novas gerações vêm se apropriando dos aparatos comunicacionais (cujo exemplo magno são os smartphones) como extensões do próprio corpo, e jamais como o que de fato são: eletrodomésticos portáteis. E já que não carregamos esses para dentro de uma sala de aula, não há o mínimo sentido para fazê-lo com aqueles.
O que está em causa numa sala de aula são precisamente os embates narrativos típicos do encontro entre os mais velhos e os mais novos; nada além. E o que designa o tom narrativo de um professor é a morosidade, a persistência e o rigor do pensamento. Nenhum artifício. Nenhuma surpresa. Nenhuma sedução. Apenas um rude trabalho.
Daí a incongruência absoluta entre a ambiência pedagógico-escolar e os conteúdos despejados a fórceps pela indústria cultural, essa que encontrou na internet seu terreno fértil e braço forte. Isso significa que não se pode reduzir o âmbito da literatura a Caetano Veloso, o da música a Ivete Sangalo, o da sociologia ao Big Brother, o do pensamento à Wikipedia. Trata-se de grandezas de diferentes ordens, por assim dizer e na melhor hipótese. O diferencial entre elas reside no fato de que o terreno educacional é o abrigo dos mortos, esses que, paradoxalmente e sem cessar, nos ensinam a viver.
Àqueles devotados à educação no presente, toca-nos uma espécie de apego a um anacronismo pedagógico radical, consubstanciado num tríplice gesto: responsabilidade intelectual inquebrantável, vontade política de levar ao longe algumas ideias que mereceriam ser lembradas pelas novas gerações, bem como alguma fibra ética para suportar o tranco dessa escolha.
Restemos nós, esquecidos pelo mundo, entre livros velhos, empoeirados e malcheirosos. Restemos nós, esquecidos do mundo, a entoar aquilo que já ninguém mais quererá testemunhar. Alguém distraído, quem sabe, se comoverá conosco ou, tanto melhor, em nosso lugar.
Só então Drummond virá em nosso encalço: "Depois morreremos de medo / e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas".
JULIO GROPPA AQUINO É LIVRE-DOCENTE DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA USP