O volume de energia gerada por grandes empresas para consumo próprio dobrou de 2009 para cá e deve dar novo salto com a pressão da sociedade em torno de uma agenda mais sustentável. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que a capacidade instalada dos chamados autoprodutores cresceu de 12.834 megawatts (MW), em 2009, para 25.314 MW, no ano passado. Essa escalada se deve ao avanço de térmicas, sobretudo daquelas movidas por biomassa. O potencial de geração do setor de açúcar e álcool, por exemplo, cresceu 181%, segundo a EPE.
Daqui para frente, no entanto, o avanço da autoprodução deve ser pautado pela aposta de empresas como Vale, Braskem, Votorantim e Hydro em projetos eólicos e solares. Esse movimento tem sido impulsionado pela falta de projetos hídricos, que hoje enfrentam inúmeras barreiras por causa dos impactos ambientais, e pela maior competitividade da energia renovável – durante anos chamada de alternativa.
Atualmente, as fontes eólica e solar são consideradas as mais competitivas do mercado, com preço abaixo de R$ 100 o MWh. Nos leilões de 2019, o preço da energia hídrica ficou acima de R$ 158 o MWh; a biomassa, R$ 187; e a térmica a gás natural, R$ 188. Mas o aumento das chamadas fontes intermitentes – que dependem das condições do tempo – exigirá maior preparo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no planejamento do sistema (ver mais abaixo).
Os novos projetos das empresas integrantes da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape) são um exemplo dessa transformação. Segundo o presidente da entidade, Mario Menel, há cerca de R$ 24 bilhões em investimentos programados para os próximos anos. Todos de empreendimentos eólico, solar e de biomassa – e nenhum hídrico. Isso deverá acrescentar 5,19 mil MW (apenas de autoprodução). “Essa é a tendência a partir de agora porque, além de competitiva, é mais fácil de licenciar.”
“O interesse está crescendo também pela segurança de abastecimento diante da possibilidade de falta de energia elétrica.”
Com a demanda em alta, a Weg, fabricante de turbinas eólicas e demais itens do sistema de geração de energia pelo vento, está com a produção tomada até o fim de 2022. “Já fechamos contratos e não temos condições de atender mais nada antes do fim do próximo ano”, informa João Paulo da Silva, diretor de Energia da empresa. Pelos contratos, a Weg se encarrega também de operar e fazer a manutenção dos equipamentos por 10 a 20 anos.
A empresa também é a maior distribuidora de sistemas de energia solar no Brasil para geração distribuída – até 5 MW, suficiente para abastecer, por exemplo, shopping centers, comércios, postos de combustíveis e residências. “O interesse está crescendo, não só pela economia na conta de luz, mas também pela segurança de abastecimento diante da possibilidade de falta de energia elétrica”, diz Silva. A Weg também fornece sistemas para grandes usinas.
De acordo com Silva, hoje as energias eólica e solar custam, por MW/hora, cerca de 40% menos que a hídrica e metade do valor daquela gerada por térmicas a gás. O investimento para a construção de uma usina, no entanto, é “altíssimo”, segundo ele, na casa dos R$ 4,5 milhões por MW instalado.
Outro ponto que tem atraído as empresas é que há modelos diferenciados hoje para se tornar autoprodutor. Ao contrário do que ocorria no passado, quando as empresas construíam suas próprias usinas e arcavam com o risco da construção, agora há opções que eliminam esses problemas. A Casa dos Ventos, empresa responsável pelo desenvolvimento de um terço dos projetos eólicos em operação e em construção no País, tem desenhado soluções inovadoras.
As empresas firmam um contrato com a Casa dos Ventos para uma determinada capacidade de energia. Quando o projeto estiver concluído, ela terá a opção de se tornar acionista do empreendimento e virar autoprodutora. Nesse formato, a desenvolvedora já fechou contratos com Vulcabrás, Vale, Tivit, Anglo American e Braskem do complexo Rio do Vento, de 504 MW.
No caso da Braskem, o diretor de energia Gustavo Checcucci afirma que o objetivo é alcançar a meta de neutralidade de carbono até 2050 e reduzir 15% das emissões de gases de efeito estufa até 2030. Atualmente a empresa produz 25% da energia consumida em suas unidades por meio de cogeração – processo que permite a produção de calor e de energia ao mesmo tempo com um tipo de combustível.
O diretor Regulatório e Comercial da Casa dos Ventos, Fernando Elias, conta que a demanda pelos projetos cresceu tanto que a empresa decidiu ampliar o complexo Rio do Vento em 534 MW. Além disso, o parque eólico Babilônia Sul (360 MW), que começará a ser construído na Bahia em outubro, será inteiramente destinado a contratos com autoprodutores. “A expectativa é que essa capacidade seja dividida entre quatro ou cinco empresas.”
CONFIRA AS HISTÓRIAS
Suzano gera energia equivalente à da cidade de São Paulo
Maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo e uma das maiores na área de papéis da América Latina, a Suzano gera toda a energia que necessita com o resíduo do eucalipto após o processamento da parte usada na produção da celulose.
Segundo Paulo Henrique Squariz, gerente executivo de Energia da Suzano, a eletricidade gerada hoje pela empresa equivale ao consumo da cidade de São Paulo. Além de abastecer as 11 fábricas no País, ainda tem um resíduo para ser enviado ao sistema elétrico nacional.
Veja abaixo como é o processo de geração de energia elétrica da biomassa do eucalipto.
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