Subitamente diagnosticado com a Covid-19, Jair Bolsonaro convocou seus veículos de confiança e ofereceu um reconfortante relatório sobre sua saúde. “Estou perfeitamente bem!”, declarou, e atribuiu essa esplêndida condição à hidroxicloroquina, remédio indicado para malária. Pena que não possamos compartilhar sua euforia. Ao fazer um apanhado de quem deve ou não se preocupar com o vírus, foi tão categórico quanto fatalista: “É uma chuva, você vai pegar”.
É alarmante. A caminho dos primeiros 2 milhões de infectados e 100 mil óbitos nas próximas semanas, só podemos imaginar quantos brasileiros ainda tomarão essa chuva —e quantos irão encharcados para a cova.
É verdade que Bolsonaro tem trabalhado para que esses milhões sejam contaminados o quanto antes. Nas inúmeras aglomerações de que participou, sem máscara e nos braços de seus apoiadores, as imagens o mostram tirando ramela, cavoucando o nariz, disparando perdigotos e os levando em troca. Só mesmo seu histórico de atleta —exímio praticante de tiro ao alvo no Exército— explica que não tenha sido afetado antes, embora talvez não se possa dizer o mesmo dos festivos participantes de seus forrobodós.
O Dr. Bolsonaro não vacila em suas afirmações. Segundo ele, os jovens podem ficar tranquilos —mesmo que peguem o coronavírus, “a possibilidade de algo grave é próxima de zero”. Tal imunidade parece se estender também aos religiosos, presidiários, estudantes, comerciários e demais categorias que ele liberou do uso de máscara. Já os mais velhos, sim, devem se cuidar, principalmente se apresentarem “comorbidades”. Como esses coroas insistem em ser acometidos por “comorbidades”, podem ir botando suas barbas —brancas— de molho.
Já Bolsonaro está tranquilo. Se precisar, não lhe faltarão UTIs, respiradores e cânulas para intubação. E, enquanto isso, ninguém lhe perguntará pelo Queiroz.
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