Não é o suficiente. O anúncio, pelo Facebook, de que expurgou uma rede bolsonarista de desinformação é muito importante. É chave, até. Chave porque, pela primeira vez, põe as manobras de fake news na antessala do presidente da República. É um presente para o Supremo. Ao fazer este elo, entre fake news e alguém muito próximo de Jair Bolsonaro, amplia em muito o impacto do inquérito aberto pela Corte. Mas não podemos perder de vista um ponto: 35 contas, 14 páginas e um grupo, além de mais 38 contas no Instagram. Alcance de pouco menos de 900 mil pessoas no Face, um pouco mais no Insta. É pouco. A rede bolsonarista é bem mais ampla do que isso.
Isto quer dizer algo simples: o Facebook não dá conta de manter limpa a sua plataforma. Não está sozinho, diga-se. O Twitter também não dá. Mas também é verdade que o Twitter tem muito menos recursos do que o Face.
É importante demais que esta ficha caia.
O Facebook é uma corporação que está entre as cinco maiores dos EUA, candidata a chegar ao US$ 1 trilhão de valor no mercado. Há outras quatro gigantes de tecnologia com o mesmo tamanho, mas não há empresa maior no mundo. Esta corporação gigantesca tem quase 30% da população mundial entre seus usuários ativos. São 2,6 bilhões de pessoas como nós. Está na ponta da compreensão do comportamento humano via inteligência artificial. Talvez alguma chinesa rivalize, mas não bate. Se algum algoritmo sabe interpretar como nos comunicamos, como interagimos ou mesmo como nos sentimos online, é o Facebook.
Esta rede bolsonarista que foi desativa na última quarta-feira vem crescendo desde 2018. Desde o ano da eleição presidencial. Após alertas da imprensa, informações colhidas a partir da CPMI no Congresso Nacional e de ajuda estratégica do Atlantic Council, o Facebook enfim identificou a rede e a expurgou. Identificou entre seus gestores um assessor direto do presidente, outro de seu filho 03, o deputado Eduardo Bolsonaro, além de mais gente ligada ao grupo político.
E não é a principal rede bolsonarista. É uma pequena parte dela.
Vamos botar num parágrafo o que sabemos. Um vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, acompanhado de um rapaz que vindo do interior da Paraíba esta em seu primeiro emprego no Palácio do Planalto e mais uma trupe ainda mais jovem, lideram juntos uma rede de desinformação num país que está entre as dez maiores economias do mundo.
Usando técnicas razoavelmente simples — contas falsas e robôs para se fazerem passar por um volume muito maior de pessoas — sequestram o debate público desta nossa democracia. Se aproveitam dos algoritmos que já tendem a exacerbar emoções nas redes para, então, criar artificialmente consensos. Tomando de assalto o regime, fraudando a conversa da sociedade em ano eleitoral, radicalizam uma parte da população e vencem.
Não aconteceu só aqui. Aconteceu também na mais antiga e mais rica democracia do planeta, os Estados Unidos. Aconteceu na Itália e no Reino Unido.
E uma das maiores corporações do planeta, na ponta da tecnologia, da inteligência artificial, da compreensão do comportamento humano conseguiu, enfim, desbaratar uma pequena parte desta rede.
Não é o suficiente. As plataformas sociais — inclua-se na lista YouTube, que pertence ao Google, e Twitter — servem ao sequestro de democracias as mais estáveis. Não há ponto de exclamação ou adjetivo que dê a ênfase necessária à gravidade do problema.
Mas ao menos uma coisa é possível dizer. A todos. É pouco. Não é nem de perto o suficiente.
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