Com base no movimento de reajuste salarial, policiais militares articulam candidaturas em sete capitais
A reportagem de Fernanda Mena publicada no caderno em que a Folha mostrou o que foi a ditadura militar no Brasil esclarece que a Polícia Militar não se tornou o que é hoje —extremamente violenta— só porque herdou os métodos do regime de exceção. Em muitos aspectos, ela é assim desde a sua implantação, na época do Império, uma guarda armada a serviço das elites, um pequeno exército operado pelas oligarquias.
No Rio, a instituição é ainda mais antiga: em 13 de maio de 1809, dia do aniversário do príncipe regente, dom João 6º criou a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da Corte, inspirada na gendarmerie francesa. Ruy Castro desfia seu modus operandi no romance histórico “Era no Tempo do Rei”: “era um dilúvio de fardas azuis”; “seus homens já chegaram à briga na rua da Quitanda brandindo suas talas, distribuindo lambadas por atacado e planejando apurar futuramente quem fora o responsável pelo conflito”.
O historiador Luiz Antônio Simas tem uma tese: “A discussão sobre o que deu errado na Polícia Militar parte de um pressuposto equivocado. O problema das PMs não é ter dado errado. É ter dado certo. Escorpiões não foram feitos para voar como pássaros”.
A questão atual é o surgimento de escorpiões voadores. Incentivados por políticos —Wilson Witzel, durante a campanha, prestava continência até para escoteiro mirim e, eleito governador, ensaiou inventar o posto de general honorífico da PM—, preparam-se para uma aventura inédita.
Com base no movimento que reivindica reajuste de salário e que tem estimulado motins nos estados, policiais militares articulam candidaturas a prefeito em sete capitais. Já nas eleições de 2018 foi registrado um aumento de mais de 300% na participação de agentes de segurança nos Legislativos estadual e federal. Cansados de servir a quem manda bater, eles mesmos querem mandar.
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