04 de julho de 2020 | 05h00
A maioria dos funcionários americanos não está com pressa de voltar ao escritório em tempo integral, mesmo depois que o coronavírus estiver sob controle. Mas isso não significa que eles querem trabalhar em casa para sempre. Como mostram dados diversos, é provável que o futuro, para eles, seja feito de uma semana dividida entre a casa e o escritório.
Pesquisas recentes mostram que empregados e empregadores apoiam esse arranjo. E estudos sugerem que trabalhar alguns dias por semana em cada local pode ser a solução para cancelar os efeitos negativos de cada um e colher os benefícios de ambos. “Não podemos pensar em tempo integral e tempo nenhum”, disse Nicholas Bloom, professor de Economia da Universidade de Stanford, cuja pesquisa identificou vínculos causais entre o trabalho remoto e o desempenho dos funcionários. “Acredito firmemente que, no pós-covid, teremos meio período de escritório.”
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O lucrativo negócio do retorno ao trabalho
De acordo com uma nova pesquisa da Morning Consult, 47% dos que trabalham remotamente afirmam que, quando for seguro voltar ao trabalho, o arranjo ideal seria continuar trabalhando em casa de 1 a 4 dias por semana. Outros 48% trabalhariam em casa todos os dias, e apenas 14% retornariam ao escritório todos os dias.
É provável que os profissionais que podem trabalhar de casa tenham mais educação, renda mais alta e, até agora, venham escapando dos cortes de emprego mais graves da pandemia. Isso pode mudar à medida que a economia continuar sofrendo, o que, segundo analistas, pode afetar as políticas de trabalho em casa de diferentes maneiras: os empregadores podem entrar em pânico e voltar a seus hábitos antigos, ou incentivar o trabalho remoto para cortar custos imobiliários.
Na Pesquisa sobre Incerteza Empresarial – realizada pelo Atlanta Fed, Stanford e Universidade de Chicago –, os empregadores previram que, após a pandemia, 27% de seus funcionários de tempo integral continuariam trabalhando em casa, pelo menos por alguns dias por semana. Outras pesquisas de empresas mostraram que elas esperam que pelo menos 40% dos funcionários continuem trabalhando remotamente.
Em todas as organizações, o trabalho foi mais eficaz quando os funcionários ficaram em casa 1 ou 2 dias por semana, segundo pesquisa da Humu, uma empresa de tecnologia administrada pelo ex-chefe de recursos humanos do Google. “Isso cria uma mudança, na qual o tempo de escritório fica para o trabalho colaborativo, para o trabalho inovador, para realizar essas reuniões. E o tempo de casa é para trabalho focado”, afirmou Stefanie Tignor, diretora de dados e análises da Hamu.
Dificuldades
Nos EUA, alguns experimentos anteriores com trabalho remoto, como na Best Buy e no Yahoo, foram encerrados porque os gerentes concluíram que os trabalhadores remotos não eram responsáveis o suficiente e sentiam falta da colaboração interpessoal.
Mas nas pesquisas sobre trabalho remoto têm sido difícil provar que a localização dos trabalhadores causou certos efeitos e saber se os efeitos seriam diferentes se seus concorrentes, parceiros e clientes também estivessem trabalhando em casa.
A pandemia obrigou as empresas americanas a experimentar o trabalho remoto em larga escala. E, até agora, os resultados têm sido bastante positivos – mesmo com o enorme estresse da pandemia, a começar pelas escolas fechadas.
Na pesquisa da Morning Consult, realizada entre 16 e 20 de junho com uma amostra representativa de 1.066 americanos, que declararam que seus trabalhos podiam ser realizados remotamente, quase 2/3 disseram ter gostado de trabalhar em casa e apenas 20% disseram que não (os demais não sabiam ou não tinham opinião). Três quartos estão satisfeitos com a maneira como suas empresas lidaram com a transição; apenas 9% não estão. Cinquenta e nove por cento se disseram mais propensos a se candidatar a um emprego que oferecesse trabalho remoto.
Dos 87% que querem continuar trabalhando em casa alguns dias, mesmo depois que for seguro voltar ao escritório, a opção preferida é trabalhar remotamente de 1 a 4 dias por semana. As pessoas de 18 a 44 anos têm uma propensão ligeiramente maior de preferir esse arranjo, assim como as pessoas com formação superior e renda mais alta. As mulheres são um pouco mais propensas que os homens a dizer que querem trabalhar em casa todos os dias.
Mas persistem algumas desvantagens do trabalho remoto. A maioria das pessoas sente falta das conexões sociais no trabalho, constatou a pesquisa. No estudo de Bloom sobre uma empresa de viagens chinesa, metade dos trabalhadores remotos queria retornar ao escritório quando o experimento terminasse. Seus motivos eram solidão, estigma e preterições na hora da promoção. Esses e outros motivos são a razão pela qual Box e outras empresas querem que os funcionários retornem.
A configuração de trabalho ideal, muitos dizem, pode ser aquela em que todos trabalhem em casa ou no escritório nos mesmos dias da semana, e todos saibam quais são os dias para colaboração e quais são os dias para trabalho focado. Pode ser algo difícil de conseguir, pelo menos enquanto o coronavírus ainda representar um risco grave, pois se recomenda que as empresas tenham agendas escalonadas para proporcionar um distanciamento físico maior dentro dos escritórios. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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