08 de julho de 2020 | 19h15
A melhora no astral da economia, o tema comentado nesta Coluna na última sexta-feira, ficou reforçada nesta quarta com um avanço das vendas do varejo em maio bem superior ao esperado. As projeções oscilaram em torno de um aumento de 6% a 8% nas vendas do mercado restrito (que excluem materiais de construção e veículos), mas o crescimento foi de fato de 13,9%.
A recuperação ainda está longe dos níveis anteriores à pandemia porque em março já havia recuado 2,8% e, em abril, outros 16,3%. (É bom sempre lembrar de uma peculiaridade estatística: uma queda de 100 para 50 é de 50%, mas a recuperação de 50 para os 100 anteriores terá de ser de 100%.)
Levando-se em conta que boa parte do comércio continua fechada ou sujeita a fortes restrições, o progresso em maio é auspicioso, embora tenha partido de uma base anterior muito baixa.
Esse bom desempenho se deve em boa parte aos efeitos do auxílio emergencial distribuído à população carente. É o que explica por que, apesar do recuo geral do consumo em março e em abril, as vendas dos supermercados tenham crescido 14,3% em maio e 5,2% nos cinco primeiros meses deste ano. Esse é um setor ao qual a crise não chegou, como também não chegou às farmácias.
Mas a recuperação do varejo em maio, especialmente nos segmentos de vestuário, móveis e aparelhos domésticos, deve-se, também, à demanda reprimida acumulada nos meses anteriores: porque permaneceram engaioladas pela pandemia, as famílias tiveram de adiar suas compras e voltaram a elas tão logo as lojas foram reabertas, ainda que parcialmente. Talvez porque parte dessa descompressão já tenha acontecido, o aumento das vendas nos próximos meses ficará mais limitado.
Tanto melhor se o desalento vai ficando para trás. Esse é, por si só, um fator positivo porque ajuda na recuperação por sua capacidade de restaurar a confiança. Mas não se pode ignorar que as condições gerais da economia pioraram muito: o desemprego alcança 12,7 milhões de brasileiros e já são em maior número que os empregados com carteira de trabalho registrada; as estimativas mais otimistas são de que o PIB afundará alguma coisa entre 6% e 7%; o rombo das contas públicas pode ter ultrapassado os 10% do PIB; a dívida pública bruta passou dos 81% do PIB e se avizinha rapidamente dos 100% do PIB; as cotações do dólar avançaram 33,3% neste ano, fator que encareceu as importações; um grande número de empresas está à beira da insolvência porque enfrenta um colapso de caixa, e muitas outras estão superendividadas. Nem mesmo se pode dizer que a pandemia está regredindo, porque o número de infectados e o número de mortes seguem aumentando. E há ainda a crise política.
Enfim, a ficha do Brasil continua ruim. Vai precisar de muito conserto e de andamento nas reformas tributária e administrativa, hoje emperradas. Mas a expectativa para os próximos meses é de retomada gradativa do consumo, da produção e do emprego.
CONFIRA
» Recorde nas safras
As novas projeções das safras desta temporada são ainda melhores do que as anteriores. A Conab prevê mais um recorde: uma colheita de 251,4 milhões de toneladas de grãos, crescimento de 3,9% em relação à safra anterior. E o IBGE, que também faz os levantamentos, calcula que serão 247,4 milhões de toneladas, 2,5% acima da anterior. Esse é um setor que vem confirmando as expectativas mais otimistas. Deve ajudar na recuperação do comércio e nos serviços do País, a partir do interior.
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