Futuretransport

Em termos de mercado interno, o Brasil continua sendo um gigante com pés de barro. Com uma população de 210 milhões de habitantes, menos de 1,5% dos brasileiros comprará um veículo novo (entre carros, comerciais leves, caminhões e ônibus) em 2019 – ano difícil para a economia em geral, mas razoável para a indústria automobilística.

Em sua última reunião com a imprensa especializada, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) manteve a previsão de crescimento das vendas em torno de 11% neste para o mercado interno, somando 2,85 milhões de unidades e confirmando uma trajetória de recuperação desde a crise de 2014, quando o setor experimentou redução das vendas de até 50% para alguns segmentos.

A entidade que reúne os fabricantes de máquinas agrícolas e veículos também manteve projeção otimista para a produção, que deverá crescer em torno de 9,5%. Com isso, a indústria automobilística brasileira deverá atingir a marca 3,1 milhões de veículos este ano. Não fosse a queda de 20% nas exportações para a Argentina, o crescimento certamente seria maior.

Mas, mesmo com essa recuperação, a indústria automobilística ainda se ressente da exclusão de centenas de milhares de consumidores, que impulsionaram o setor no início da década. Com a melhora do poder de compra da chamada classe C, o Brasil chegou perto de registrar vendas de 4 milhões de unidades de veículos em 2012 (entre nacionais e importados).

Aquele movimento (que alguns consideraram artificial) levou a indústria a fazer fortes investimentos, elevando sua capacidade instalada para algo em torno de 5 milhões de unidades/ano no parque local. Só que a crise econômica embaralhou os planos, deixando fábricas ociosas – alguns segmentos sofrem até hoje com 30% de sua infraestrutura paralisada.

O desaparecimento de uma parcela considerável dos consumidores também impactou a renovação-crescimento da frota. Um levantamento do Sindipeças revela que o índice de 4,7 habitantes por veículo no Brasil estagnou entre 2016 e 2018.

Reflexo da lenta recuperação, os números só não são piores porque a população brasileira tem crescido a taxas menores nesta década. Segundo o Sindipeças, a frota brasileira tem algo em torno de 44 milhões de veículos – praticamente a mesma do início dos anos de 2010.

Desafios

No momento em que se abre para o mundo, o Brasil vai precisar encontrar mecanismos para integrar novas parcelas de consumidores. Com a economia andando de lado e a resistência do desemprego, esta inclusão pode estar muito mais longe do que o necessário para um futuro de duras e fortes competições globais.

O Brasil terá pouco mais de uma década à frente para rever processos e melhorar sua competitividade se quiser enfrentar o maduro mercado europeu ou outras regiões do mundo com as quais o atual governo pretende fazer acordos de livre comércio.

Para fortalecer e preparar sua indústria automobilística, um dos caminhos passa pela ampliação do mercado interno, em que é preciso necessariamente incluir novos consumidores. Caso contrário, o País poderá até continuar sendo lucrativo, mas com certeza limitado.

Se não resolver essa equação, a indústria terá problemas para sobreviver. Os veículos que hoje são feitos aqui podem vir de outros lugares, já que o volume interno não compensaria novos investimentos na produção de unidades cada vez mais tecnológicas e futuristas. (Futuretransport/Wagner Oliveira)