Sempre presente na discussão dos principais problemas da mobilidade, a Associação atuou de inúmeras maneiras, ora sugerindo soluções, ora participando, ao lado de outras entidades na elaboração de projetos, se esforçando em interpretar as alternativas e determinar diagnósticos escorados em criteriosas análises técnicas.
Realizar Congressos e Seminários, além de produzir conhecimento técnico para auxiliar na resolução dos graves problemas da mobilidade urbana, tem sido a missão da ANTP desde sua fundação há mais de quatro décadas.
Uma consulta à nossa biblioteca, cruzando os temas impactantes de cada época com artigos e ensaios produzidos então, demonstrará essa sincronia entre o problema, sua reflexão e, muitas vezes, as soluções possíveis para compreendê-lo, buscar formas de resolvê-lo ou, em última instância, mitigar seus efeitos.
Isso pode ser corroborado numa visita às milhares de Comunicações Técnicas apresentadas em nossos vinte Congressos, às centenas de artigos publicados nas mais de 150 edições da Revista dos Transportes Públicos (desde 1978), às publicações específicas presentes em vários cadernos e revistas técnicas produzidos em todos esses anos.
Não há tema que já não tenhamos debatido e estudado à exaustão. Ou que tenhamos divulgado para abrir o debate e permitir ampla participação de técnicos e especialistas na busca por melhor compreensão e melhorias.
Um simples exemplo pode ser visto no ano de 1979, quando nossa Revista, então em seus primórdios, divulgava estudos do ministério dos transportes na época em que este propunha o estímulo a corredores e faixas exclusivas de ônibus. Nesta mesma edição um artigo, decorrência de um debate iniciado em nosso 2º congresso, realizado em Porto Alegre no ano de 1979, apresentava a inédita proposta de criação do vale transporte.
Ainda em 1979, o ônibus padron resultava de um projeto proposto pela ANTP e desenvolvido pelo Geipot e EBTU - Empresa Brasileira de Transportes Urbanos. Da mesma forma, nossa marca esteve presente de forma decisiva na construção e aprovação da Lei Federal 9.503 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, promulgada em 23 de setembro de 1997 pelo Congresso Nacional, que colocou a segurança, a vida humana e os cidadãos como focos centrais. Podemos falar da criação da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano no Governo Federal e, em seguida, o Estatuto das Cidades, que se tornaram os embriões do Ministério das Cidades, criado para dar atenção, convergência e integração às políticas públicas urbanas; o Estatuto do Idoso; o Estatuto da Pessoa com Deficiência; o Estatuto das Metrópoles e a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
A esses exemplos podemos somar inúmeros outros e de diversos temas tão importantes quanto, mas deixamos ao leitor e a seu espírito investigativo o prazer de descobrir a riqueza da contribuição que fornecemos ao mundo dos transportes públicos.
Uma instituição assim, escorada em 42 anos de contribuições inestimáveis a estudiosos e gestores públicos, a governos e empresas operadoras, a universidades e fundações, a associações da sociedade civil, independente de paixões partidárias ou injunções de natureza política, deixou sua marca de forma indelével no mundo da mobilidade. Impossível falar hoje de qualquer tema da área da mobilidade sem citar um estudo sobre ele em nossa biblioteca; ou um debate realizado em um de nossos congressos e seminários; ou um artigo, por menor que seja, presente em uma de nossas publicações técnicas. Não à toa, fomos (e somos) parceiros das principais entidades e instituições públicas e privadas do mundo do conhecimento. (Editorial da ANTP)
HISTÓRIA
Entrevista com Rogério Belda, metroviário, publicada no livro "ANTP 40 ANOS: SONHAR AINDA É PRECISO".
"Dizem que a melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo. Eu acho que era mais ou menos isso que nós estávamos fazendo em 1977. E nada se faz sozinho". Rogério Belda relembra a maneira como Plínio Assmann, fundador da ANTP, referiu-se ao nascimento da entidade.
Belda lembra vividamente como tudo começou: "A possibilidade de criação de uma entidade nacional que congregasse o setor do transporte público tornou-se evidente quando Plínio e outros membros do Metrô/SP participavam de um congresso da União Internacional de Transporte Público (UITP), em Nice, na França", ele conta. "Aquele era o modelo ideal, e Plínio disse: vamos fazer uma versão brasileira. Foi quando nos demos conta de que a ANTP era mais que absolutamente necessária, o que nós, de certa forma, já sentíamos há algum tempo, mas também perfeitamente possível".
As circunstâncias da época já eram percebidas plenamente por Plínio, para ele um estrategista nato: "Já existia no Brasil uma experiência de transporte público, mas as pessoas não se davam conta disso. Por esse motivo era importante fazer no Brasil uma espécie de UITP, mas com caráter nacional. E isso foi o que Plínio enxergou antes de todo mundo, dando forma a um sentimento que era coletivo, mas que não se realizava porque faltava a iniciativa".
Belda relata que, ao voltar de Nice, Plínio já tinha a ideia amadurecida. "O que restava, então, era partir para a prática, reunir as pessoas da área, catalisar as experiências e as necessidades, construir um campo de atividade administrativa e urbana que não existia, pois as pessoas atuavam isoladas, cada qual trabalhando em seu cantinho, como numa ilha". O pouco de representação nacional que havia então se dava através do GEIPOT, "mas esse organismo era governamental, não era associativo", diz Belda.
Ideia posta, o passo seguinte era realizá-la. Belda diz que três pilares foram essenciais para a concretização do plano de se constituir uma entidade nacional na área de transportes públicos. "O Maurício Cadaval começou a realizar um cadastro das entidades que lidavam com transportes coletivos no Brasil. Ele fez uma pesquisa com estas entidades via questionários, além de um esboço de estrutura e funções do que seria uma organização nacional que se dedicasse aos temas do transporte público".
O segundo pilar, conta Belda, foi Lúcia Vergara, "que pelo fato de ser bilíngue fazia o contato com a UITP". O terceiro pilar, emenda Belda, foi Peter Alouche, "que passou a ser uma espécie de embaixador da causa".
Por meio do cadastro montado por Maurício Cadaval teve início, então, um trabalho de contato, não diretamente com as entidades, de maneira formal, mas com as pessoas, e foi-se percebendo que havia um interesse em que essa ideia prosperasse. "Fomos descobrindo que as pessoas sentiam a necessidade de uma organização nacional, mas faltava a faísca inicial, alguém que assumisse a função de organizar e estruturar essa ideia, tirá-la do papel e do campo das vontades".
Belda atribui essa latência em todos os que atuavam no setor à época ao estágio de urbanização que o país alcançara. "Já havia projetos na área de transportes públicos em muitas cidades, e uma produção de estudos técnicos já bem avançada e consistente", ele diz.
Dado o passo inicial, a ANTP começou a brotar e a enrijecer seus músculos já no primeiro semestre de 1977. Belda cita como decisivos os contatos feitos por Plínio Assmann com autoridades do governo federal e com entidades de outros estados para obter adesão à formação da comissão provisória encarregada da organização da nova entidade, comissão que ficou assim constituída: Plínio Assmann, do Metrô/SP; Carlos Weber, da RFFSA; Fernando MacDowell, do MetrôRio; Jarbas Haag, da SMT de Porto Alegre; Luis Silva Leal, CTU de Recife; Walter Bodini, da Fepasa.
"Na época eu era Gerente de Planejamento de Transporte do Metrô e participei da Comissão com as funções de coordenador".
Além dos membros da Comissão, Belda lembra que a ANTP contou, ainda, com o apoio em seu nascimento de Alberto Silva, então presidente da EBTU, e de Stanley Baptista, que presidia a RFFSA. Belda frisa que o economista Sérgio Cidade de Resende, do Metrô do Rio, ficou incumbido de elaborar a proposta de estatuto para a nova entidade, enquanto Lúcia Vergara cuidou dos preparativos para a realização da assembleia de criação.
A parte jurídica ficou a cargo do advogado Benedito Dantas Chiaradia. Assim, aos 30 de junho de 1977, no auditório da CESP, em São Paulo, com a aprovação dos estatutos, constituiu-se a primeira diretoria: Plínio Assmann, presidente e Carlos Aloysio Weber, vice-presidente. Os demais diretores: Ivan Wolff (EBTU), Fernando Mac Dowell, Oliver Hossepian Salles de Lima (Fepasa), Roberto Vicchi (de Belo Horizonte) e Rogério Belda.
"Eu acabei sendo indicado o Diretor Executivo, e, na fase inicial de constituição da ANTP, contei com o entusiasmo de Nazareno Affonso, em São Paulo, e de César Cavalcanti de Oliveira, em Recife".
Belda lembra o conselho que recebeu de Plínio: "Adote uma postura aditiva de felicidade", ele me disse. "Ele queria dizer, com isso, que deveríamos tornar a ANTP uma entidade que aproximasse as pessoas e assim promovesse a soma de suas experiências. Após quarenta anos, fico feliz em dizer que cumprimos nossa missão. A ANTP nasceu com essa energia, e graças a ela não só manteve-se viva e fiel a seus ideais como continua atraindo novas gerações".
Ele finaliza: "A ANTP, uma entidade que nasceu focada no transporte público, e predominantemente governamental, tornou-se, nas palavras de William Aquino, uma ONG cidadã dedicada à mobilidade urbana".
CONGRESSO INAUGURAL
O 1º congresso deu-se em abril de 1977, no Rio de Janeiro, com visão otimista e boas perspectivas para os transportes urbanos e grande ênfase nos sistemas sobre trilhos.
Em Porto Alegre, em agosto de 1979, ocorre o 2º Congresso, que deu especial destaque ao usuário do transporte público, chamado a integrar o debate. Visto como uma figura que só atrapalhava a boa operação do sistema de transporte, passa a ser estudado e levado em consideração.
Começava-se a entender, finalmente, que os esforços do setor deveriam ser dirigidos sobretudo a uma das pontas da equação: O PASSAGEIRO DOS TRANSPORTES PÚBLICOS.
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