População deixa de ser bem-vinda em um dos espaços da democrática Paulista
A avenida Paulista surpreende pelos seus imensos prédios margeados por calçadas largas. Muitos edifícios possuem comércio no térreo. Há jardins e espaços públicos convidativos, como o parque Trianon e a inesperada praça no quinto andar do IMS.
O Conjunto Nacional representa o que de melhor a arquitetura paulistana pôde oferecer nos anos 1950. As marquises generosas protegem o pedestre da chuva. A calçada e suas lojas se confundem com o interior do prédio, não se sabendo muito bem onde termina o público e começa o privado.
O prédio multifuncional desenhado por David Libeskind é uma obra de arte e de civilidade.
Pouco anos depois, Lina Bo Bardi concebeu o Masp com seu vão livre de tirar o fôlego. A imensa praça coberta por um museu abriga os paulistanos e suas manifestações. O músico John Cage definiu-o como a “arquitetura da liberdade”.
O convite à comunhão da avenida Paulista, com suas muitas estações de metrôs e vias de acesso, atrai gente dos diversos cantos da cidade.
No domingo, proibidos carros e ônibus, esse imenso espaço transborda de pessoas de todos os tipos: brancos e negros, os muitos sexos dos novos tempos, jovens tatuados e adultos com as bermudas de quem iniciou a vida nos anos 1960. Alguns cantam e outros dançam em meio a mágicos com ternos surrados.
A elegante avenida exercita a benesse de um país de imigrantes: a convivência dos diferentes. Nem todo mundo, porém, aprecia a comunhão.
Por determinação de alguns senhores, a praça na esquina da alameda Ministro Rocha Azevedo foi fechada ao público.
O Cetenco Plaza tem nome de prédio nos Estados Unidos, mas é uma das belas construções da Paulista. Com seus pilares de concreto, que sustentam fachadas envidraçadas, os dois prédios em diagonal acolhem um imenso jardim frequentado por executivos e muitos jovens.
Trata-se de área segura, como constata Raul Juste Lores, que há anos resgata a história da arquitetura de São Paulo aberta aos imigrantes e atenta às necessidades dos cidadãos. Há o Tribunal Regional Federal nas alturas e a Caixa Econômica Federal no térreo. Ao lado, fica a sede paulistana do Banco Central.
Os condôminos do Cetenco Plaza não se deram por satisfeitos com tamanha proteção. Resolveram cercá-lo com muros de metal e desbastaram parte de seu jardim para impor imensas placas de vidro.
A população não é mais bem-vinda em um dos aconchegantes espaços da Paulista. A cidade sitiada fechou a praça aberta desde a construção do prédio, há cerca de 40 anos, refletindo o sectarismo dos tempos atuais. Não surpreende, mas não deixa de ser triste.
Existem senhores que preferem deixar os diferentes do lado de fora da fortaleza.
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