Presidente conseguiu soterrar um debate legítimo com uma sucessão de bobagens
Jair Bolsonaro conhece algumas fórmulas, talvez até a da água.
Uma que ele agora demonstra dominar é a fórmula para determinar o nível intelectual dos opositores. É um teste simples —trata-se de tomar tabuada, mais especificamente a multiplicação de 7 por 8.
Poderia se resumir a uma grosseria, mas acaba sendo mais do que isso. Expressa por quem nomeou um ministro da Educação que se atrapalha com a ortografia, a fórmula do presidente provavelmente resultará negativa se aplicada a seu governo.
O que só faria confirmar outra fórmula, essa levada ao estado da arte por Bolsonaro: a de acertar tiros no casco de seu próprio navio.
Ele conseguiu soterrar um debate legítimo (as universidades públicas são eficientes?) com uma sucessão de bobagens que, agrupadas, produziram imagens de protesto na rua, país afora, da avenida Paulista à fronteira com a Colômbia. Nem os tuítes de Olavo de Carvalho tinham derivada tão alta.
Para atacar a educação, o governo recorreu a outra fórmula que conhece como ninguém, a das metáforas. Até Onyx Lorenzoni aprendeu: disse que cortar nas universidades é como economizar para comprar um vestido de festa.
Bolsonaro, aqui, trocou as variáveis. Deixou de lado as metáforas casamenteiras e mirou logo o estômago. Talvez por não considerar que o investimento na educação seja algo assim, digamos, essencial, ele e Abraham Weintraub decidiram compará-lo ao gasto com chocolates.
A cena de apresentação da metáfora diz muito sobre o governo. Para defender o contingenciamento, o ministro discorreu sobre a importância de, em determinados momentos, guardar o chocolate para comer depois. “Deixa para depois de setembro, segura um pouco”, afirmava ele. Bolsonaro não esperou setembro chegar. Enquanto o ministro falava, o presidente já mastigava o pedaço que enfiara correndo na boca. As fórmulas teatrais acabam por contar mais do que escrito no roteiro.
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