Nos últimos dias, o ministro Abraham Weintraub começou um processo de estrangulamento financeiro das universidades, aparentemente motivado pela antipatia política que nutre pelas ciências humanas. Seu principal argumento é dizer que o dinheiro gasto com inutilidades comofilosofia e sociologia seria mais bem empregado no ensino básico.
Logo que tomou posse, Weintraub deixou claro que não faria qualquer tipo de perseguição ideológica e lembrou que foi perseguido pela esquerda na Unifesp, onde lecionava.
Duas semanas depois, numa transmissão pelo Facebook, sugeriu que estudava retirar recursos das áreas de filosofia e sociologia, copiando iniciativa desastrosa e logo revista no Japão —sugestão que o presidente Jair Bolsonaro em seguida, pelo Twitter, ampliou para todas as ciências humanas.
Na semana passada, o ministro anunciou, em uma entrevista, que havia punido com cortes orçamentários três universidades que não tiveram bom “desempenho acadêmico” e fizeram “balbúrdia”, como “sem-terra dentro do campus” e “gente pelada dentro do campus”.
Tão logo ficou evidente que a medida era ilegal, o ministro transformou a punição a instituições que haviam sediado eventos considerados impróprios em uma punição generalizada a todo o sistema universitário federal. Justificou que não se tratava de corte, mas de contingenciamento.
Em vídeo postado no Twitter, sugeriu que os recursos das universidades seriam mais bem aproveitados no ensino básico.
A oposição das ciências humanas, que seriam “inúteis”, a atividades que seriam produtivas, como a veterinária, a engenharia e a medicina, é completamente falsa e é um equívoco ainda maior contrapô-las ao ensino fundamental.
O ensino de ciências humanas nas universidades se ocupa predominantemente da formação dos professores da educação fundamental, nas áreas de português e língua estrangeira, geografia, história, filosofia e sociologia, além da formação específica em pedagogia.
Cerca de 700 mil professores formados em alguma das ciências humanas são responsáveis hoje por educar 27 milhões de brasileiros matriculados na educação fundamental.
Os cursos de humanas não apenas formaram esses professores em atividade como precisam ainda completar a educação de outros 400 mil que lecionam disciplinas de humanas sem ter formação específica. Precisam, por fim, formar novos professores para substituir esses trabalhadores à medida que se aposentam.
A educação de um contingente profissional chave para o país não parece tarefa inútil e, até onde se vê, não tem qualquer relação com gente pelada nos campi.
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