segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Dança das cadeiras na Alesp

Dança das cadeiras leva novatos para a Assembleia de São Paulo 31/12/2012 - 05h00 | da Folha.com Aumentar tamanho da letra Diminuir tamanho da letra Compartilhar Imprimir Enviar por e-mail Comente NATÁLIA PEIXOTO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A Assembleia Legislativa de São Paulo ganhará sete novos parlamentares em 2013, nomes que entram para substituir os deputados estaduais que foram eleitos prefeitos no interior paulista em outubro. Entre o time de suplentes que serão diplomados amanhã estão ex-vereadores, como Alcides Amazonas (PC do B), e o cantor Leandro Scornavacca (PSD), membro do grupo KLB. Com as mudanças, o PT perde um deputado para o PP e deixa de ser a maior bancada isolada da Casa. Os petistas entram no novo ano empatados com os tucanos, com 22 parlamentares. Mesmo os mais experientes na carreira legislativa dizem que não vão dispensar as aulas e a consultoria jurídica oferecidas pela própria Assembleia Legislativa. No grupo dos diplomados há dois ex-vereadores. Editoria de Arte/Folhapress Além de Amazonas, sindicalista ligado ao setor de transporte que foi vereador na capital entre 2001 e 2004, Alexandre da Farmácia (PP) diz que estudará uma forma de adaptar alguns de seus projetos de lei municipais, elaborados durante seus cinco mandatos como vereador em São José dos Campos. Sua intenção é transformá-los em leis estaduais. "Minha ideia é ajudar os municípios com as demandas orçamentárias", diz. Apesar de ter sido eleito suplente pelo PR, aliado do PT, Alexandre da Farmácia assumirá a vaga por seu atual partido, o PP. Procurada, a assessoria de imprensa do PR afirmou que não reclamará a vaga, pois não tem costume de fazer isso com quem sai sem conflito. ESTREIAS Dilador Borges, novo deputado pelo PSDB, também diz que vai recorrer às aulas da Casa para entender o processo legislativo antes de começar sua atuação como deputado. "Sou novato, preciso me inteirar", afirma. Outro representante do PSDB que chega à Assembleia é Antônio Ramalho, presidente do Núcleo Sindical da legenda e atual vice-presidente da Força Sindical. O sindicalista se classifica como "tucano do bico vermelho": "Rico não precisa de político, quem precisa de uma política bem administrada é o pobre", afirma. Ramalho diz que pretende trabalhar para aumentar a oferta de habitação popular no Estado. CANTOR Outra estreia aguardada na Assembleia é a do cantor Leandro Scornavacca, o "L" do grupo pop KLB. Leandro concorreu pelo DEM em 2010 defendendo o combate à pedofilia. Contou com o voto de 62.398 eleitores, o que lhe valeu o posto de primeiro suplente. Depois disso, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que as regras da Lei da Ficha Limpa só teriam validade em 2012. Com isso, Leandro perdeu a vaga de primeiro suplente da chapa DEM-PSDB para o tucano Geraldo Vinholi, agora eleito prefeito de Catanduva. Em 2011, Leandro, ao lado do seu irmão Francisco Scornavacca --o Kiko, eleito suplente de vereador em São Paulo-- trocou o DEM pelo PSD. Amanhã, ele assume a cadeira de deputado na vaga de Gil Arantes (DEM), eleito prefeito em Barueri.

Leia mais em: http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2012/12/31/danca-das-cadeiras-leva-novatos-para-a-assembleia-de-sao-paulo.jhtm

Reajuste do Salário Mínimo, por Amir Khair


Sempre acham ruim quando há qualquer tipo de política que amplie os ganhos na base da pirâmide', diz economista, para quem o mínimo é referência fundamental na economia. Ele também destacou medida sobre isenção de imposto no pagamento de PLR
Publicado em 29/12/2012, 13:48
Última atualização às 13:48
  
São Paulo – Para o professor Amir Khair, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a crítica ao aumento do salário mínimo é mais ideológica do que técnica. Segundo ele, quem fala em impacto negativo “é porque não conhece contas públicas, só tem visão míope para despesa e não consegue enxergar que o salário mínimo gera arrecadação pública”. Da mesma forma, o mestre em finanças públicas considera positivo o anúncio de isenção de Imposto de Renda para parte dos pagamentos de participação nos lucros ou resultados (PLR). “As políticas que garantem mais renda para os assalariados são progressistas. Esse aumento da renda vai para o consumo ou para a poupança. Em ambos os casos, você está criando uma circulação de riqueza, que é a essência da atividade econômica”, afirma.
S mínimo média-ano (Arte: Júlia Lima/RBA)Em edição extra do Diário Oficial da União na quarta-feira (26), foram publicados o Decreto 7.872, que fixa o salário mínimo em R$ 678 a partir de 1º de janeiro (aumento de 9%), e a Medida Provisória 597, sobre a tributação progressiva da PLR. Pagamentos até R$ 6 mil estarão isentos. O governo também enviou mensagem submetendo a MP ao Congresso.
Khair considera o mínimo uma “referência fundamental” na economia, por proporcionar aumento do poder aquisitivo e mais equilíbrio na distribuição de renda. “A crítica tem mais caráter ideológico do que técnico. Sempre acham ruim quando há qualquer tipo de política que amplie os ganhos na base da pirâmide.”
O Dieese divulgou nota técnica na qual destaca a política de valorização do salário mínimo em vigor nos últimos dez anos. Nesse período, o aumento real (acima da inflação) atingiu 70,5%. Em abril de 2002, o mínimo era de R$ 200. O instituto diz que 45,5 milhões de pessoas têm o mínimo como referência no rendimento. Desse total, pouco mais de 20,7 milhões são beneficiários do INSS e 12,6 milhões empregados no mercado de trabalho, além de 7,7 milhões de trabalhadores por conta própria, 4,2 milhões de trabalhadores domésticos e 202 mil empregadores.
Ainda segundo o Dieese, que atualizou a série histórica do salário mínimo, levando as médias anuais para reais de janeiro de 2013 (deflacionados pelo ICV calculado para o município de São Paulo), os R$ 678 representarão o maior valor real da série desde 1984.

Refém da inflação

(Arte: Júlia Lima)
Khair considera preocupante a interrupção do ciclo de cortes na taxa básica de juros, conforme decisão da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2012. “A grande barreira para um crescimento econômico firme é o governo ficar refém do fantasma da inflação, que é um fenômeno mundial. Existe mais ou existe menos dependendo de como o mundo está organizado”, observa. “O governo só tem controle sobre os preços administrados. Fora isso, o que comanda a inflação é o fator externo. A Selic não tem nada a ver com a inflação. A Selic deveria ficar no nível da inflação (aproximadamente 5%), que é o que fazem os países emergentes. O regulador da inflação é o preço internacional.” A taxa básica foi mantida em 7,5% ao ano. A próxima reunião do Copom ocorrerá em 15 e 16 de janeiro.
Segundo Khair, o mercado externo responde por 60% da inflação. Outros 20% vêm dos preços administrados, caso das tarifas públicas – nesse item, ele critica a política do governo em relação aos combustíveis, que ao segurar o preço teria colocado a Petrobras “de joelhos”. Os 20% restantes são dos serviços. “Não vou sacrificar o desenvolvimento econômico por causa de apenas 20%.”
Evolução sal mín (Arte: Júlia Lima/RBA)

Apesar de você, o Brasil vai crescer

Autor(es): Ernesto Lozardo
Valor Econômico - 28/12/2012
 

Há uma orquestrada crítica à política econômica embasada na teoria de equilíbrio geral macroeconômico como se na vida real isso pudesse acontecer. Trata-se de um referencial teórico, pois a trajetória do desenvolvimento econômico é um processo de permanente desequilíbrio.
A arte da política macroeconômica consiste em administrar, e não torturar, fundamentos da estabilidade. Refiro-me a três críticas de profissionais que pretendem mitigar a construção de um ambiente propício aos investimentos privados no Brasil.
A primeira diz respeito aos critérios de investimentos no programa de infraestrutura do governo Dilma Rousseff. O governo pretende assegurar a menor tarifa possível e o menor custo do capital de investimento. Isso não significa que essa política atrairá somente empresas de "segunda categoria" para realizar as obras de logística modal e de infraestrutura. O programa de investimentos visa reduzir o famigerado "custo Brasil", aumentando a eficiência dos sistemas de transportes. Os projetos de concessões públicas para a construção de ferrovias (10 mil km) e rodovias (7,5 mil km) interligará todas as regiões aos 12 principais portos da costa brasileira. As concessões de rodovias e ferrovias exigirão investimentos da ordem de R$ 133 bilhões: R$ 79,5 bilhões até 2017 e o restante, R$ 53,5 bilhões, ao longo de duas décadas.
Uma política econômica responsável prioriza o crescimento com redução das desigualdades sociais
O objetivo é reduzir o custo atual do sistema modal de transporte. Esse sistema está 40% acima do dos Estados Unidos, ou seja: o sistema de transporte no Brasil custa 11% do PIB e nos Estados Unidos é inferior a 8% do PIB.
O BNDES fará sua parte, aportando, em média, 65% dos recursos necessários em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos com taxa de juros subsidiada. Os restantes 35% serão capital próprio das concessionárias. Estas complementarão os recursos por meio de empréstimos ao custo do mercado de capitais. A composição do custo de construção da obra deve assegurar tanto a menor tarifa como uma taxa de rentabilidade possível, considerando serem sistemas de transportes, e cada um deles guarda riscos distintos.
O "custo Brasil" resume-se à baixa capacidade competitiva tecnológica e inovadora do setor industrial em relação à concorrência internacional. Com o objetivo de reduzir essa deficiência econômica, há um grande empenho público e privado na promoção da inovação tecnológica. A Finep investirá R$ 15 bilhões em projetos de inovação tecnológica industrial. A CNI - Confederação da Nacional da Indústria, em conjunto com o Senai, conta com um aporte de R$ 1 bilhão do BNDES, para a criação de 27 centros de pesquisas em inovação tecnológicas para atender à competitividade da industrial nacional.
O governo federal lançou um ambicioso programa da pesca. Serão investidos mais de R$ 4 bilhões para aumentar a produção e o consumo de peixe na dieta dos brasileiros.
Por último, mas não apenas isso, o governo federal, em conjunto com a iniciativa privada, vai remodelar os principais portos e aeroportos do país. Cabe, também, lembrar os investimentos pertinentes à realização da Copa do Mundo e da Olimpíada. Em face dessas iniciativas, prevê-se que, até 2017, os investimentos estarão acima de 25% do PIB. O país viverá uma fase de "canteiros de obras e de pleno emprego".
A segunda crítica afirma que o governo optou por estimular o consumo em vez dos investimentos. Os programas de investimentos mencionados anulam essas alusões. O fato é que, o governo federal estimulou o consumo e os investimentos, porém, cada um em seu devido tempo. Estimular o consumo foi prioritário para evitar o desemprego e perda maior da dinâmica industrial. Houve aumento na inadimplência do crédito bancário, mas isso é responsabilidade de quem cede e de quem toma empréstimo, mas não do governo.
No tocante aos custos da produção, baixaram-se os impostos de bens de consumo duráveis, bem como a desoneração da folha de pagamento de 40 setores da indústria. Reduziu-se a taxa básica de juros, exigiram-se mais recursos subsidiados do BNDES, e o real foi desvalorizado. Foram medidas emergenciais da política macroeconômica para contra-atacar o contágio da crise externa sobre a economia brasileira. Os resultados obtidos foram positivos: reduziram-se o desemprego, os custos da produção e do capital.
A terceira crítica alega que o Banco Central abandonou seu triplo mandato (câmbio flexível, meta inflacionária e superávit primário), substituindo-o por um novo tripé (câmbio fixo, metas de juros e de crescimento). Esse mandato foi criado tanto para controlar as expectativas futuras de preços como assegurar sua estabilidade, e permitir a redução dos juros. Em 1999, não havia crise financeira global e, tampouco, guerra de moedas entre países, causando valorização do real, transferindo renda e empregos nacionais para o exterior. O tripé original está consolidado de forma institucional e social. Em face da imprevisibilidade política e econômica existentes nos Estados Unidos e na União Europeia, bem como um cenário menos dinâmico da economia chinesa, é justo que o BC adapte os eixos do tripé da estabilidade ao cenário internacional e não se deixe levar pela ideologia neoliberal. No entanto, vários ex-dirigentes do BC acreditam, cegamente, no que Milton Friedman, prêmio Nobel de economia, apregoava: "o que importa é a política monetária".
Um mandato de política econômica minimamente responsável prioriza o crescimento com redução das desigualdades sociais, a competitividade econômica e a estabilidade do poder de compra da moeda nacional. O Brasil caminha nessa direção.
Parafraseando a canção de Chico Buarque: apesar das críticas ideológicas neoliberais sobre os fundamentos do crescimento, amanhã o Brasil viverá outro dia.
Ernesto Lozardo é professor de economia da EAESP-FGV e autor do livro "Globalização: a certeza imprevisível das nações

Confronto que endurece


Tão palavrosos como dirigentes partidários e como militantes, nos seus governos os petistas são um fracasso de comunicação até aqui inexplicável. E pagam preços altíssimos por isso, sem no entanto se aperceberem dos desastres e suas consequências. Ou melhor, às vezes percebem, e até se autocriticam, mas com atraso de anos.
Para aturdir os governantes e dirigentes petistas, deixando-os à mercê da pancadaria, nem é preciso um canhonaço como foi o mensalão. Um aparelho de ar refrigerado em pane é suficiente. Nada mais normal do que a quebra de uma máquina. Mas há cinco dias os usuários do aeroporto Santos Dumont se esfalfam em queixas e acusações; e, no outro lado, a presidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Secretaria de Aviação Civil (a que veio mesmo?) e a Infraero apanham, inertes, dos meios de comunicação e da estimulada opinião pública.
No governo imenso, cheio de assessorias de comunicação próprias e contratadas, a ninguém ocorreu romper o marasmo burocrático e dirigir-se à população com as explicações devidas.
A quebra foi assim-assado, tomaram-se tais providências, e, depois, o reparo está demorando ou não deu certo por tais motivos, diante dos quais estão tomadas as seguintes providências, e por aí afora.
Nada de difícil ou especial. Aquilo mesmo que se espera ao buscar o carrinho ou, se tucano, ir pegar o carrão e não o encontrar pronto na oficina. Aborrece, mas se a explicação não falta e é honesta, o provável é perceber-se uma situação desagradavelmente normal na era das máquinas. E nada mais.
No aeroporto Tom Jobim deu-se o mesmo, com a pane local de um transformador. Mas tudo virou um problema enorme de falta de geração de energia, de apagão.
Até os índios do Xingu e do Madeira foram condenados, com o brado destemido de Regina Duarte a favor da inundação das terras indígenas e da floresta: "Viva Belo Monte! Essa [um aparelho de ar refrigerado quebrado] é a prova de que precisamos de uma nova estrutura em energia!"
Talvez, contra o calorão do Santos Dumont, comprar um aparelho novo fosse mais barato e eficiente do que construir uma hidrelétrica na Amazônia. Bem, depois a atriz se disse preocupada também com o calorão na Copa do Mundo. A qual, aliás, será no inverno. Mas o que interessa é ter aproveitado a bobeada do governo petista.
Desde a entrevista de Lula em Paris, sentado a meio de um jardim de hotel, com uma jovem entrevistadora mal improvisada, para gaguejar grotescos esclarecimentos do mensalão, logo serão dez anos.
A inesgotável oratória de Lula, com sua mescla de populismo político e ativismo social, nesse tempo contornou a maioria dos percalços que o sistema de comunicação dos governos petistas não encarou. Com o julgamento do mensalão e com as cenas que ainda promete, o governo Dilma Rousseff é o alvo do agora exaltado antilulismo ou antipetismo (a rigor, não são o mesmo). Assim, neste embate endurecido, tende a ser o 2013 que veremos.
Daniel Marenco/Folhapress
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

    domingo, 30 de dezembro de 2012

    Recuperando a História, por Suely Caldas


    Mais um ano se foi. O 2.º do governo Dilma, o 10.º de gestão petista e o 18.º de estabilidade econômica e inflação sob controle. Mesmo resumidamente, recuperar a história é bom, traz luz às novas gerações. Então, vamos lá.
    Hiperinflação liquidada com o Plano Real e um programa de governo para modernizar a economia deram, há 18 anos, o imprescindível impulso para desenhar o Brasil atual. Em oito anos de governo faltaram tempo e apoio do Congresso para FHC realizar tudo o que planejou: a reforma do Estado avançou, a educação progrediu, a infraestrutura deu passos, mas faltaram as reformas política, tributária, previdenciária e trabalhista. O sistema de saúde andou pouco e o combate à pobreza só engatinhou com a criação de programas sociais, entre eles o Bolsa-Escola e o Vale-Gás, que deram origem ao Bolsa-Família.
    Ao chegar ao governo, em 2003, Lula enfrentou desconfiança de empresários, banqueiros, agentes do mercado financeiro e quem mais faz girar a roda da economia. Ele seria capaz de dar continuidade aos avanços de FHC e completar as reformas? Ou daria curso às incendiárias e inexequíveis propostas do PT, como o calote na dívida pública? O pragmatismo de Lula e a habilidade política de seu ministro da Fazenda, Antônio Palocci, funcionaram e a confiança foi recuperada. Claro, Lula assimilou e adotou integralmente (sem tirar nem pôr) o modelo econômico do antecessor e prometeu completar as reformas. Para evitar a óbvia identificação com FHC, passou a adotar o bordão "nunca antes na história deste país".
    Mas logo começaram a surgir os escândalos de corrupção, e com eles morriam os planos de reforma e aprofundamento do programa econômico. Primeiro foi o caso Waldomiro Diniz - assessor estratégico do então ministro José Dirceu que aparecia em fita recebendo propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira -, em fevereiro de 2004. Um ano depois, o mensalão. Depois, outros e mais outros a alimentar a convicção de que "nunca antes na história deste país" houve tanta corrupção no governo.
    Os escândalos atrapalharam, as reformas foram abandonadas, mas Lula conseguiu trazer para a economia os efeitos do boom de crescimento econômico do mundo, ajudado pela ação firme e autônoma do Banco Central (BC). Os avanços no combate à pobreza foram a principal marca de sucesso do governo Lula. Pouco melhorou a qualidade na educação, a saúde foi um desastre, a economia seguia no feijão com arroz, mas ele conseguiu manter a inflação contida e com média de 5,78% nos oito anos e PIB com crescimento médio de 4%.
    Errou quem imaginou que Lula escolhera um poste para esquentar a cadeira de presidente até sua volta em 2014. Dilma Rousseff começou a se diferenciar do padrinho já no discurso de posse, ao avisar que não iria tolerar a corrupção e o malfeito. No primeiro ano de governo, demitiu seis ministros acusados de corrupção, todos herdados de Lula. Na política, pouco cedeu ao troca-troca com partidos aliados e, na economia, vai-se diferenciando de Lula e FHC, introduzindo mudanças e construindo um modelo muito próximo ao que vigorou no governo militar de Geisel.
    Intervenções miúdas do Estado na economia privada; endividamento do governo; proteção à indústria (sobretudo a automobilística), favorecida por tarifas de importação altas, desvalorização cambial e juros subsidiados; e uso de bancos públicos e empresas estatais (caso da Petrobrás) para controlar a inflação e estimular o consumo são identidades dos modelos Geisel e Dilma.
    Tal modelo não foi capaz de estimular o investimento - nem em produção nem em infraestrutura. E, pior, tem atraído desconfiança e insegurança nos investidores em relação ao futuro, reconhecidas pelo BC em seu último Relatório de Inflação. Até os melhores feitos de Dilma - a redução da taxa de juros Selic e taxa de desemprego baixa - ficam perdidos em meio ao desânimo geral. E a disposição de fazer o País crescer a qualquer custo tem contrastado com resultados medíocres do PIB: média de 1,85% nos primeiros dois anos.
    Um feliz 2013!

    O fim e o começo - MARTHA MEDEIROS

    Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas 2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis. 

    Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém. Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas. 

    Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular. 

    Qual o mundo que você precisa exterminar da sua vida? 

    Sugestão: o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito. 

    O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim. 

    O mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo. 

    O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro. 

    O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega. 

    2012 prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito? 

    Então que venha um 2013 do outro mundo para todos nós.

    Os limites do crescimento, por Celso Ming


    Em praticamente todos os países, a política econômica está voltada prioritariamente para a criação de empregos que, por sua vez, está condicionada à geração de riquezas. Mas até quando se pode contar com o crescimento econômico?
    Nas últimas semanas, a pergunta vem sendo objeto de debates na imprensa mundial com base em trabalho publicado em agosto pelo economista Robert J. Gordon, professor de Macroeconomia da Northwestern University, Cambridge, Estados Unidos.
    A avaliação de Gordon é de que a contagem regressiva para um período de crescimento zero já começou. Ele parte do princípio de que o avanço econômico global desde o século 17 está associado a revoluções industriais. A primeira delas cobriu o período que vai de 1750 a 1830 e se seguiu à invenção da máquina a vapor. A segunda, entre 1870 e 1970, foi consequência da utilização intensiva da energia elétrica e do petróleo e foi marcada pela produção em série. A terceira, que teve início nos anos 60, baseia-se no avanço da informática e da Tecnologia da Informação.
    Gordon entende que os ganhos de produtividade baseados na Tecnologia da Informação vão se esgotar rapidamente e que, logo depois, virá o anoitecer.
    Embora entre os pressupostos da política econômica estejam os de que o crescimento econômico durará para sempre, as teorias sobre seu colapso vem lá de trás. Começaram no século 18, com o economista inglês Thomas Malthus, que chegou à conclusão de que a população mundial crescia muito mais depressa do que a produção de alimentos. Se não houvesse drástico controle da natalidade, estariam próximos os dias da grande fome e da estagnação econômica.
    Nos anos 70, o Clube de Roma publicou um livro intitulado Os limites do crescimento, que provocou um vendaval. Partiu do princípio de que os recursos naturais estavam em fase de esgotamento e que, mais dia menos dia, o crescimento estancaria.
    Mais ou menos no mesmo sentido, ficou famosa uma frase do biólogo americano Edward Osborne Wilson: “Precisaríamos de mais quatro planetas Terra se for para sustentar toda a população do mundo aos padrões de consumo dos Estados Unidos”.
    Uma a uma, essas predições vêm sendo desmentidas – ou adiadas. A revolução verde que multiplicou a produção dos alimentos, grandes descobertas de petróleo e de matérias-primas, a reciclagem dos materiais e certo controle do desperdício foram fatores que afastaram a ideia do fim do crescimento.
    É provável que a era iniciada com a Tecnologia da Informação tenha mais fôlego e mais o que dar do que imagina Gordon. Também não se pode descartar de antemão que novas descobertas (como a produção de energia elétrica a partir da fusão nuclear, há anos perseguida por importantes centros de pesquisa) inaugurem nova era de intenso crescimento.
    No entanto, como aponta o Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, pouco ou quase nada sabem os especialistas e os centros de projeção sobre o crescimento a longo prazo. Provavelmente, em consequência dos seguidos desmentidos das teorias malthusianas e de variações sobre elas, a ideia dos limites do crescimento desperta pouco interesse. Mas a crise global e o alastramento do desemprego podem levar mais gente a procurar mais luz e mais respostas para a questão.

    UM CALOTE DE R$ 44 BILHÕES



    Depois da farra do crédito fácil, que alavancou o crescimento do País até 2010, nova classe média dá calote recorde e a economia brasileira patina. Impacto chegou a diferentes setores da economia

    30 de dezembro de 2012 | 2h 06
    O Estado de S.Paulo
    A técnica em enfermagem Wedna Bispo, 31 anos, ganha R$ 1,2 mil por mês e até outro dia devia quase R$ 34 mil na praça. Não consegue lembrar tudo que comprou, mas estava pendurada na loja de material de construção, em dois cartões de crédito, no banco e na faculdade. Estica prazo daqui, renegocia dali, agora só falta discutir R$ 2,6 mil com o curso de enfermagem. "Minhas dívidas viraram uma bola de neve. Se você não controla, só se lasca." Wedna admite ter se perdido nas compras, mas hoje percebe que o descontrole não foi só dela: num dos cartões de crédito, a administradora lhe deu limite para gastar R$ 1,2 mil por mês - exatamente o valor de seu salário.
    Wedna é uma típica brasileira da nova classe média enrolada na armadilha do crédito fácil. Como ela, milhões de pessoas atraídas pela oferta de crédito abundante nos bancos se atiraram às compras em 2009, 2010 e no início de 2011. Este ano, a conta chegou. Para muitos, foi como acordar de um surto coletivo de embriaguez: as doses de crédito a mais desaguaram num calote total de R$ 44,2 bilhões em bancos, financeiras e no cartão de crédito. Para comparar, em 2010, a inadimplência total era de R$ 23,7 bilhões, quase a metade de hoje. As contas foram feitas pela economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
    O reflexo do aumento da inadimplência e do maior comprometimento da renda das famílias com dívidas foi além do balanço dos bancos e respingou em setores da economia real. Depois do avanço de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, o País patinou e cresceu 2,7% em 2011 e deve avançar apenas 1% este ano. Para os especialistas, o impacto pode persistir até 2014.
    A ressaca só não é maior porque muitos inadimplentes renegociaram dívidas para limpar o nome. Foram pelo menos 15 milhões de pessoas apenas nos mutirões organizados - em escala recorde - por duas empresas de serviços financeiros, a Serasa Experian e a Boa Vista Serviços. "Tivemos uma bolha de crédito para o consumo. E a bolha sempre estoura com a inadimplência", diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.
    Segundo várias avaliações, a maior parte dos inadimplentes são famílias emergentes que melhoraram de vida nos últimos anos e migraram da base para o miolo da pirâmide social. Parte dessa massa de 40 milhões de pessoas está tateando o mercado de crédito e acabou se perdendo no uso do cheque especial, do cartão de crédito e do financiamento sem entrada com parcelas a serem pagas em cinco anos ou mais.
    O Instituto GEOC, que reúne 17 empresas de cobrança de dívidas, captou uma mudança significativa no perfil dos inadimplentes. Cinco anos atrás, o principal motivo para deixar de pagar a prestação era a perda do emprego. "Hoje o consumidor está empregado e o motivo é que tomou mais crédito do que podia", diz Jair Lantaller, presidente do instituto. Estudo do Ibope e da Serasa Experian, encomendado pelo GEOC, mostra que 87% dos inadimplentes e 69% de quem está com os pagamentos em dia chegam ao fim do mês sem dinheiro. "O brasileiro está cada vez mais endividado", confirma Lantaller.
    Exageros. Passada a euforia, apareceram os exageros do festival de empréstimos. Não foram só os consumidores que erraram nas contas. Os bancos estavam entusiasmados com a nova classe média e emprestaram sem muito critério. O governo, empolgado com o aumento da renda da população, colocou os bancos federais para inundar a praça com crédito e alavancar a economia.
    O gerente de uma grande concessionária Volkswagen de São Paulo conta que há cerca de dois anos, na disputa pela classe C, os bancos pagavam comissões às concessionárias e aos vendedores de 5% a 10% do valor financiado - prática depois proibida pelo Banco Central. "O crédito era automático. Se o nome não estava sujo, era aprovado", diz o gerente. "Na época, por exemplo, tinha muito camelô comprando carro bom e, como não tinha comprovação de renda, o banco pedia só o extrato bancário."
    Um dos sinais mais marcantes dessa fase de exageros só apareceu mais tarde, na forma de um indicador que o mercado não costumava prestar atenção: de repente, os bancos descobriram que muitos dos que compraram carros em parcelas a perder de vista não pagaram sequer a primeira prestação. No Banco Votorantim, um dos líderes no financiamento de veículos, de 4% a 5% dos clientes deram calote já na primeira parcela entre 2010 e 2011. É o dobro dos 2% que o mercado costuma aceitar como índice máximo desse tipo de inadimplência.
    Para piorar, o sistema de checagem dos clientes era limitado. Os bancos não tinham acesso aos dados sobre o comprometimento total da renda do comprador. Até abril deste ano, o Sistema de Informações de Créditos (SCR), do BC, só informava dívidas individualizadas acima de R$ 5 mil. Mesmo que o tomador tivesse vários contratos abaixo desse valor, não era identificado pelo sistema. Assim, a loja vendia um carro sem saber que a renda do cliente já estava comprometida em outras compras.
    Hoje, dentro do governo, já há quem reconheça - com a condição de permanecer no anonimato - que houve exageros nas concessões de empréstimos em 2010. "Os bancos emprestavam sem entrada e por prazo superior à vida útil do bem. Se não tivéssemos atuado, o ajuste seria traumático", afirma uma fonte do BC, lembrando que a autoridade monetária tomou uma série de medidas no fim daquele ano para frear o crédito.
    Os bancos são pragmáticos e encaram a inadimplência por outro ângulo: é o preço pago para transformar em clientes 36,2 milhões de pessoas que abriram conta em banco entre 2002 e 2011. "Os bancos não erraram, foi o preço que tivemos de pagar pela bancarização", diz um alto executivo de uma das maiores instituições financeiras do País. "Fomos compelidos pelas circunstâncias a essa velocidade."
    Política de consumo. O estímulo à popularização do crédito e o incentivo às compras foram produtos de uma política de crescimento baseada no consumo. Começou com o governo Lula, na crise de 2008, e foi reforçada com as reduções temporárias de impostos para a compra de carros, eletrodomésticos e material de construção. O governo mandou seus bancos de varejo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, abrirem os cofres para financiar o consumo. Em abril de 2009, o então presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, foi demitido porque demorou a cumprir a ordem do ex-presidente Lula.
    No esforço de guerra para ampliar o crédito, o BB comprou quase metade do Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes. A Caixa comprou o Panamericano, mas essa estratégia deu errado porque o banco, que na época pertencia ao apresentador Silvio Santos, estava quebrado. Com a movimentação das instituições estatais, a banca privada sentiu-se pressionada a segui-las para não perder mercado.
    Além da pressão de Brasília, as instituições privadas sofreram outro tipo de influência para turbinar a oferta de crédito. Na visão dos investidores, havia uma demanda por crédito reprimida no País e os bancos que se lançassem agressivamente na conquista desses consumidores ganhariam mais mercado. Foi com a promessa de abocanhar parte desse crescimento que o Santander levantou mais de R$ 14 bilhões com a abertura de seu capital no Brasil, em 2009. A operação foi, na época, a maior do tipo já realizada no País.
    O caso do banco Votorantim foi exemplar. Na visão do mercado, o banco pisou forte demais no acelerador depois que o BB tornou-se sócio e passou a usá-lo como linha auxiliar na política oficial de estímulo ao consumo. Experiente no ramo de carros usados, o Votorantim passou a atuar também com veículos novos, segmento no qual a competição é maior. Como resultado, sua fatia no financiamento total de veículos saltou de 12% para 21% entre 2008 e 2011.
    A onda de calotes, que envolveu todo o sistema financeiro, pegou forte no Votorantim. De janeiro a setembro, a instituição registrou prejuízo de R$ 1,6 bilhão ante lucro de R$ 455 milhões no mesmo período de 2011. Desde o fim do ano passado, o banco passa por um processo de reestruturação. "Os impactos ainda são relevantes, mas os números estão melhorando e o pior ficou para trás", diz o presidente do Votorantim, João Teixeira, que assumiu o cargo em setembro de 2011 para colocar a casa em ordem.
    Para analistas, a ressaca da onda de calotes deve se estender até meados do ano que vem, em algumas instituições até 2014. "Em 2012, os bancos foram mais criteriosos e a turma ruim (de maus pagadores) está indo embora", diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). "A água limpa que está entrando no lamaçal é pouca, por isso a inadimplência vai demorar a cair", afirma Luiz Rabi, assessor da Serasa Experian. /MÁRCIA DE CHIARA, CLEIDE SILVA, RAQUEL LANDIM, MELINA COSTA E DAVID FRIEDLANDER

    Sem pagamento, 200 mil carros são leiloados no País



    30 de dezembro de 2012 | 11h 05
    AE - Agencia Estado
    SÃO PAULO - A bolha do crédito farto ajudou o Brasil a ocupar pela primeira vez, em 2010, o quarto lugar na lista dos maiores mercados de veículos do mundo, posição que vem sendo mantida. Neste ano, as vendas devem atingir o recorde de 3,8 milhões de unidades. Muitos dos consumidores que ajudaram o País a chegar a esse posto, contudo, hoje penam para pagar as prestações ou tiveram o carro retomado por falta de pagamento.
    O índice de inadimplência em veículos passou de 2,5% dos contratos em 2010 para 5,6% neste ano. O calote vem caindo, depois de atingir o pico de 6,1% em maio, mas ainda é alto. Em valores, um total de R$ 10,5 bilhões em parcelas deixou de ser pago, muito acima do saldo de R$ 3,8 bilhões de dois anos atrás.
    "O estrago neste ano foi muito maior do que o imaginado", diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Parte dos devedores são pessoas que compraram o primeiro carro zero, atraídas por planos de pagamento sem entrada, prazos de 60 a 80 meses e "parcelas que cabiam no bolso".
    Com mais da metade das prestações a vencer, o consumidor se deu conta de que o saldo devedor era bem maior que o valor do bem - que deprecia-se em média 15% ao ano. "Hoje, com o saldo devedor de um financiamento feito há dois anos é possível comprar um carro mais moderno e com juro menor", diz Paulo Garbossa, da consultoria ADK.
    O juro hoje é menor em consequência da política adotada pelo Banco Central. Caiu de 40,6% na média anual no fim de 2010 para menos de 35%. Os automóveis também estão mais baratos em razão da concorrência de novas marcas e alguns modelos são lançados a preços mais baixos que os antigos.
    Bancos e associações não divulgam a quantidade de carros retomados por falta de pagamento. Mas dados de empresas de leilões dão ideia do tamanho do problema. Segundo quatro grandes grupos que atuam no Estado de São Paulo, entre 180 mil e 200 mil veículos foram retomados por falta de pagamento nos últimos dois anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

    Impasse atrasa ainda mais obra da Transnordestina



    Controlada pela CSN, concessionária quer R$ 8,2 bilhões, quase o dobro da estimativa inicial; ferrovia só deve ficar pronta em 2015

    29 de dezembro de 2012 | 17h 40
    Sergio Torres/ENVIADO ESPECIAl SALGUEIRO(PE)
    Prevista para funcionar a partir de 30 de dezembro de 2014, penúltimo dia da gestão da presidente Dilma Rousseff, a ferrovia Transnordestina não será inaugurada antes de 2015. A obra, iniciada em 2006, entrou em ritmo ainda mais lento neste segundo semestre, a partir do acirramento de um impasse financeiro já antigo entre o governo federal e a concessionária Transnordestina Logística S/A (TLSA).
    Na assinatura do protocolo de intenções em 2005, foi anunciado que a ferrovia custaria R$ 4,5 bilhões. As obras começaram em julho do ano seguinte. Em 2008, já havia um novo preço firmado em contrato: R$ 5,4 bilhões. A TLSA vem alegando que esse valor, em razão de contratempos surgidos no decorrer da obra, está subdimensionado.
    A concessionária quer agora R$ 8,2 bilhões. Sem esse aporte financeiro adicional, a TLSA argumenta que não haverá meios de entregar a Transnordestina completa a tempo de ser inaugurada por Dilma. A ferrovia é uma das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
    A solicitação da TLSA, controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), não é bem vista pelo governo. A concessionária quer que o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que já banca 50% dos recursos (R$ 2,7 bilhões), aumente a participação.
    O fundo regional é gerenciado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que recusou-se a divulgar os valores até agora liberados para a construção da ferrovia. Também envolvido no financiamento da ferrovia, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contribuiu com R$ 900 milhões, já liberados.
    O governo resiste a dar o dinheiro requerido pela concessionária e insiste que a obra deve ser inaugurada ainda no governo Dilma. Mas deu à CSN a possibilidade de obter empréstimos nas instituições públicas.
    "Para que os trabalhos da Transnordestina não sejam interrompidos, o governo federal, através da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e do BNB, autorizou a obtenção de empréstimo, por parte da Transnordestina Logística S.A, o que permitirá que as frentes de trabalho continuem mobilizadas e o cronograma das obras não apresente maiores postergações", informou em nota o Ministério da Integração Nacional, sem revelar os valores dos empréstimos.
    A ferrovia foi planejada para levar até os portos de Pecém (Ceará) e Suape (Pernambuco) a produção agrícola do cerrado do Piauí, especialmente soja. A linha férrea partiria da cidade piauiense de Eliseu Martins até Salgueiro, no sertão pernambucano. No município, a Transnordestina se dividiria. Um braço seguiria até o litoral pernambucano. Outro, dobraria à esquerda no rumo norte, até a costa cearense.
    A primeira previsão é de que a ferrovia, no trecho Piauí-Pernambuco, seria inaugurada em 2010, ao final do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O trecho Piauí-Ceará ficaria pronto em 2013.
    Nada disso aconteceu. Foi dado um novo prazo, 2012, que se encerra sem que a obra tenha alcançado nem sequer 20% do trajeto. A nova previsão passou a ser dezembro de 2014. Embora faltem dois anos, o prazo não será cumprido, de acordo com avaliações reservadas tanto do governo quanto das próprias CSN e TLSA. Só falta tornar isso público.
    De interesse estratégico para o governo, a ferrovia é vista como um futuro polo indutor de progresso de uma região cronicamente problemática, caracterizada pela pobreza de sua população, pelo ainda presente êxodo para as regiões metropolitanas, e sempre sujeita a secas muito intensas, como a que já dura dois anos. 
    A soja produzida no cerrado do Piauí chega hoje aos portos de exportação em carretas que circulam na maioria das vezes por estradas em péssimo estado de manutenção. A Transnordestina resolveria esse problema logístico, ao entregar a carga nos terminais portuários de maneira bem mais segura, econômica e ambientalmente limpa.
    A previsão da safra de soja do Piauí em 2013 é de 1,48 milhão de toneladas, 17% a mais do que o registrado neste ano. Estão plantados 101,4 mil hectares dos 506,8 mil destinados até agora ao cultivo do grão nesta nova fronteira agrícola brasileira.
    Nas negociações com o governo, CSN e TLSN argumentam, na tentativa de obter mais financiamentos públicos, que a ferrovia é fundamental para o desenvolvimento do interior do Nordeste, para o crescimento expressivo das exportações e para a entrada no País do dinheiro obtido na venda da soja no mercado externo. E que, apesar dessa importância, o retorno para o investidor é muito baixo em um primeiro momento. O lucro, se vier, será a longo prazo, dizem executivos da companhia encarregados das discussões com o governo.

    Lula queria inauguração no fim do segundo mandato

    O planejamento da Transnordestina desenvolveu-se durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva...
    O planejamento da Transnordestina desenvolveu-se durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006). A ideia de Lula era inaugurar em 2010, ao final de sua segunda administração, a ferrovia pela qual seriam escoadas as toneladas de soja produzidas nos municípios do sul do Piauí.
    Controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, a Transnordestina Logística S/A recebeu a concessão da obra, ainda quando se chamava Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN).
    A meta era abastecer os dois principais portos nordestinos (o cearense Pecém e o pernambucano Suape) com a soja, um dos pilares da pauta de exportações agrícolas brasileiras.
    De acordo com o plano, nos cinco anos seguintes à inauguração, a ferrovia estaria capacitada para transportar até 30 milhões de toneladas de grãos, minérios e cargas variadas ao longo de suas três linhas de circulação.
    Logo o acordo entre Lula e Steinbruch começou a dar errado. O início dos trabalhos data de 2006, mas o ritmo da obra nunca foi considerado ideal pelo governo. Já em 2007, o presidente notou que não conseguiria inaugurar a obra da forma como pretendia. A partir daí, começaram os desentendimentos que resultaram no atual impasse.
    Naquele ano, a então ministra da Casa Civil, hoje presidente Dilma Rousseff, inconformada com a demora na elaboração do planejamento executivo, criticou Steinbruch publicamente. Ela avisou, à época, que “o governo não vai aceitar que essa obra seja empurrada com a barriga”.
    Com o respaldo de Lula, Dilma falou ainda que o governo financiava “quase tudo” da construção da ferrovia pioneira.
    “Ele (Steinbruch) entra com apenas R$ 570 milhões de um total de R$ 4,5 bilhões”, reclamou a então ministra do segundo governo Lula.

    Favelas e enchentes no traçado da ferrovia

    Origem dos obstáculos pode ser creditada tanto ao acaso quanto a um planejamento açodado, feito às pressas na tentativa de agradar ao então presidente Lula

    29 de dezembro de 2012 | 18h 05
    Sergio Torres/ENVIADOS ESPECIAIS SALGUEIRO(PE)
     A ferrovia Transnordestina enfrenta obstáculos cuja origem pode ser creditada tanto ao acaso quanto a um planejamento açodado, feito às pressas na tentativa de agradar ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
    Neste segundo caso, está a aprovação de um traçado, que, ao aproveitar a antiga malha ferroviária de Pernambuco, esbarrava em favelas crescidas junto aos trilhos abandonados. Barracos foram construídos na faixa de domínio da linha férrea, que é de 15 metros de cada lado.
    Apontado como possível postulante à sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT), o governador Eduardo Campos (PSB) recusou-se a atender a requisição da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de remover as 1.019 famílias invasoras nos municípios de Ribeirão, Gameleira e Escada, próximos a Recife.
    No momento, os entendimento entre a Transnordestina Logística (TLSA) e o governo pernambucano apontam para a realocação de 600 famílias para imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas são negociações difíceis, já que parte dos moradores não aceita a transferência. Os envolvidos na busca de solução estimam que o problema não será resolvido antes do fim de 2013.
    Pode ser posta na conta do acaso a necessidade de construção de barragens contra enchentes no sul da Zona da Mata de Pernambuco. Cheias registradas em 2011 em terras margeadas pelos rios Ipojuca e Una levaram o governo estadual a planejar com urgência a construção das barragens em áreas pelas quais a Transnordestina passaria. Está sendo necessário modificar a rota da ferrovia, com desvio de 45 km, o que implicará em mudanças na relação de terras passíveis de desapropriação.
    Empecilhos inusitados surgiram a partir do início da obra. Na cidade de Custódia, no sertão de Pernambuco, a linha do trem passaria em cima de uma igreja do século 18. Para agradar aos fiéis, a concessionária construiu uma nova igreja, para substituir a antiga. Só que o Ministério Público recorreu e a Justiça Federal proibiu a demolição do patrimônio histórico e religioso.
    O jeito foi planejar um desvio de 9 metros, distância que, garante a empresa, não afetará a construção. Quem vai definir se afeta ou não é o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, que prepara um laudo sobre os possíveis efeitos da passagem do trem próximo a uma igreja centenária.