segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Dez coisas que os cidadãos podem fazer para enfrentar a crise climática, além de xingar Bolsonaro, Nabil Bonduki, FSP

 

Hoje, quando se inicia a COP26, é redundante falar sobre o retrocesso que Bolsonaro significou para a agenda do clima no Brasil, entre os muitos desastres que seu governo provocou.

Isso era mais que previsível na campanha de 2018, quando prometeu sair do Acordo de Paris e afirmou que o objetivo do seu governo era "destruir". Só quem nega as evidências científicas sobre o papel antrópico na elevação da temperatura da Terra, como mostrou o relatório do IPCC divulgado em agosto, ainda defende o presidente nessa questão.

Como o impeachment é improvável, perdemos quatro preciosos anos em um momento crucial, pois o papel do governo central é insubstituível na estruturação de uma estratégia para cumprir com sucesso os compromissos do Acordo de Paris.

Exemplo do papel que o governo federal pode desempenhar foi a estruturação de uma política de proteção às florestas durante os governos do PT, que foi responsável pela redução do desmatamento na Amazônia (de 27,8 mil km² em 2004 para 4,9 mil km² em 2014), componente que é o nosso principal vilão na emissão de gases de efeito estufa.

Não por acaso, nesse período, o Brasil passou a ser considerado uma potência ambiental, se tornou uma liderança global no esforço de enfrentamento da crise climática e um dos principais protagonistas nas COPs. Hoje é um pária.

Apesar do atual ministro do Meio Ambiente buscar recuperar a credibilidade do Brasil, não é crível que Bolsonaro possa mudar de postura, vide seu esforço isolacionista na Cúpula do G20, em Roma, e sua ausência na COP26 em Glasgow. Resta apenas esperar pelo fim desse governo e trabalhar para que o próximo enfrente a questão com determinação e ousadia para fazer o que precisa ser feito.

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Enquanto isso, as prefeituras e os governos dos estados poderiam ter assumido um papel de maior protagonismo. Ao contrário do presidente, alguns prefeitos e governadores têm assumido, no discurso, uma postura de enfrentamento da crise. Planos climáticos têm sido elaborados, um avanço que na prática têm gerado poucas ações efetivas.

Frente a essa situação, o que os cidadãos comuns podem fazer para contribuir para o enfrentamento da emergência climática, além gritar "fora, Bolsonaro", de espernear nas redes sociais, de se organizar para denunciar e resistir aos crimes ambientais visíveis nos quatro cantos do país?

Apesar de não ter o alcance de políticas governamentais, pequenas iniciativas urbanas de mudança no modo de vida, no consumo e no comportamento, em mobilidade, energia e gestão de resíduos sólidos, podem ter um papel relevante para gerar pequenas contribuições na redução de emissões que, multiplicadas por milhões, poderiam ter um resultado significativo. Entre elas, poderíamos citar:

  1. Deixe seu carro em casa e use o transporte coletivo. Além de economizar (o litro de gasolina ultrapassou R$ 6), lembre-se que o transporte individual motorizado a gasolina é o principal responsável pelas emissões dos gases de efeito estufa nas cidades e que assim você contribui para mitigar as mudanças climáticas. A mobilidade responde por 62% das emissões em uma cidade como São Paulo, segundo o inventário realizado pela prefeitura.
  2. Abasteça o carro com etanol, caso seja inevitável utilizá-lo. O etanol de cana reduz de 73% as emissões de CO2, se usado em substituição à gasolina. Sua consciência fica um pouco menos pesada.
  3. Ande a pé ou de bicicleta para realizar atividades cotidianas de curta e média distância. Não existe combustível mais limpo que a mobilidade ativa. Dois quilômetros de caminhada e cinco quilômetros de bicicletada (em ida e volta) levam cerca de uma hora, o mesmo tempo que você passaria na academia para se exercitar. Você economiza na mobilidade e na academia, povoa o espaço público e reduz as emissões.
  4. Depois de perder o hábito de usar o carro, livre-se dele (ufa!) e aplique o dinheiro para, eventualmente, pegar um táxi. Você não se preocupará mais com estacionamento, seguro, IPVA, manutenção, multas e risco de roubo ou acidentes. A cidade ficará melhor e menos poluída e você contribuirá com um carro a menos a emitir CO2.
  5. Não pense que isso vai ser temporário e o carro elétrico resolverá o problema ambiental da mobilidade motorizada individual por não usar combustível fóssil. Além de caro, ele mantém todos os demais problemas de um carro. Sua bateria precisará ser abastecida por energia elétrica, cada vez mais escassa e que, a depender da fonte, pode causar emissões para ser gerada.
  6. Reduza o consumo de eletricidade. A energia estacionária gera 29% das emissões da cidade. Revise as instalações elétricas da sua moradia, colocando lâmpadas mais econômicas e sensores que desligam as luzes quando o cômodo está desocupado. Proponha a mesma iniciativa nas áreas comuns dos condomínios e, ainda, que apenas um elevador fique ligado nas horas de baixa circulação.
  7. Instale painéis de energia solar com células fotovoltaicas em sua casa ou edifício, transformando a casa em uma microusina elétrica. A energia solar gerada na edificação e não utilizada será jogada na rede elétrica, reduzindo a conta da luz e contribuindo na geração de energia com uma fonte renovável. Em cerca de três a cinco anos, a economia cobre o investimento.
  8. Reduza a geração de resíduos sólidos (lixo) e, sobretudo, sua destinação aos aterros sanitários, que geram 9% das emissões. Separe os resíduos gerados em sua casa em três frações: secos, que devem ser reciclados; orgânicos, a serem compostados; e rejeitos, a única fração que deve ser destinada aos aterros sanitários (de 10% a 20% do total).
  9. Instale um minhocário ou uma composteira em sua moradia, para onde deve destinar os resíduos orgânicos. E se a prefeitura não tiver uma coleta específica para os recicláveis, procure uma cooperativa de catadores ou um catador que frequenta o bairro e lhe entregue os resíduos secos.
  10. Recuse embalagens de materiais não recicláveis, como bandejas de isopor. Não use e recuse, sempre que possível, pratos, talheres e copos descartáveis. Opte sempre que possível por embalagens retornáveis. Agora que a pandemia arrefeceu, utilize as compras online e o delivery de restaurantes apenas quando for indispensável, pois eles geram uma infinidade de embalagens imprestáveis.

As pessoas comuns precisam entender que o enfrentamento da crise climática não é só assunto das cúpulas de chefes de Estado, dessas COP que ocorrem todo ano, mas que é uma questão relacionada com nosso cotidiano.

É claro que iniciativas como as apontadas, para ganharem escala, requerem ações efetivas do poder público, como melhor transporte coletivo, ciclovias, calçadas qualificadas, campanhas educativas de gestão de resíduos e financiamento para a instalação de painéis solares.

Mas, enquanto isso não vem, elas geram um efeito demonstração educativo necessário para mudar as mentalidades e do modo de vida urbano, indispensáveis na mitigação da crise climática.


A retomada da American Airlines em uma palavra, The News

 

TURISMO

(Imagem: Brasil Travel News | Reprodução)

Cancelamentos. Nesse final de semana, a American Airlines cancelou mais de 1.300 voos, alegando mau tempo, mas, principalmente, falta de colaboradores.

A situação não é uma exclusividade da American Airlines, afinal, a Southwest Airlines também teve que cancelar mais de 2.000 voos recentemente. 

O que está acontecendo?

O mercado de trabalho está mais restrito em todos os setores. Só em agosto, mais de 4,3 milhões de pessoas pediram demissão nos EUAdeixando o país com mais de 10 milhões de vagas de emprego abertas

No caso das companhias aéreas, no entanto, a situação teve um agravante. O segmento teve queda recorde na demanda, seguida por uma recuperação absurda.

  • As coisas devem, inclusive, piorar, já que o número de passageiros aumentará consideravelmente com a reabertura das fronteiras no próximo dia 08. 

A solução encontrada:

A American Airlines disse que, a partir de hoje, quase 1.800 comissários voltarão de licença, e outros no início de dezembro. Além disso, a companhia pretende contratar mais de 600 comissários. Resta ver se, em meio à “Grande Renúncia”, vão conseguir.

sábado, 30 de outubro de 2021

Descasamento de objetivos na COP 26, Celso Ming*, O Estado de S.Paulo


30 de outubro de 2021 | 08h00

Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26) que começa neste domingo em Glasgow, Escócia, está mais carregada de ceticismo do que de boas expectativas. 

Os comentaristas já apontaram dificuldades que comprometem seus resultados, como a pandemia, a ausência de importantes chefes de Estado e de governo e a falta de recursos para as iniciativas dos países em desenvolvimento.

Mas nenhuma explicação seria completa se não começar pelo enorme descasamento entre os macro-objetivos da agenda ambiental atual e da COP 26.

O primeiro é o que já foi definido no Acordo de Paris, em 2015, que é de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais

Essa meta implica drástica substituição da energia de fonte fóssil por energia de fonte renovável. É por isso que a questão climática passa pelo equacionamento da transição energética e também por que as grandes negociações se concentram sobre a maneira de administrar essa transição.

COP 26
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26) começa neste domingo em Glasgow, Escócia, mais carregada de ceticismo do que de boas expectativas. Ilustração: Marcos Müller/Estadão

Hoje, o potencial de geração de energia renovável (eólicasolarhidrogênio verde) corresponde a não mais que 15% da matriz energética mundial. Estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE) apontam para a necessidade de se chegar a pelo menos US$ 4 trilhões em investimentos por ano até 2030 – para garantir a neutralidade das emissões até 2050. Mas o principal obstáculo não é o financeiro. É o tempo necessário para a maturação desses investimentos e a pressão enorme que já começa a existir sobre materiais e matérias-primas. Essa transição exigirá o desmonte de trilionárias instalações de petróleo, carvãogás natural e frotas de veículos e a substituição correspondente de mão de obra.

Paradoxalmente, para essa substituição está sendo necessária disponibilidade de energia fóssil. É em parte o que explica a atual disparada dos preços do petróleo e do gás natural no mercado global. A escassez já é tanta que Alemanha e China tiveram de reativar termoelétricas a carvão mineral. 

Outro macro-objetivo global é o combate à exclusão social. Só a China precisa incorporar ao mercado de trabalho e de consumo 400 milhões de pessoas. A Índia tem quase 1 bilhão nessas condições. Uma transição energética rápida demais conspira contra esse objetivo.

O risco é o de que, também desta vez, os maiorais do mundo assinem esmeradas declarações de intenção – que, de resto, não serão eles, mas seus sucessores que deverão cumprir – que podem não se traduzir em ações eficientes para o clima.

 Hoje já não é preciso tanto esforço como antes para convencer as autoridades de que é preciso agir para reverter o excessivo aquecimento do planeta. Mas falta compatibilizar objetivos e esse é o fator que pode emperrar tudo, inclusive o andamento desta cúpula. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA