Estados necessitam de Forças Armadas? Alguns sim, outros não. Segundo a “World Population Review”, 36 dos 232 países e territórios do planeta abriram mão de exércitos.
A maioria são microestados como Andorra e as ilhas Maurício, que delegam a tarefa de proteção externa a vizinhos mais poderosos, mas há casos de nações maiores, como a Costa Rica e a Islândia, que renunciaram a manter Forças Armadas por razões políticas ou econômicas.
Especialmente a partir do século 20, com a incorporação de cada vez mais tecnologia à atividade militar, os conflitos se tornaram ridiculamente assimétricos. Forças Armadas como as brasileiras servem para dissuadir vizinhos belicamente mais fracos de tentar qualquer bobagem, mas não durariam semanas diante de uma potência militarmente sofisticada como os EUA.
O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier (esq.); o novo ministro da defesa, general Braga Netto; o comandante do Exército, general Paulo Sérgio, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior.Pedro Ladeira - 31.mar.21/Folhapress
Não estou dizendo que Washington é invencível. Os EUA acabam de perder uma guerra no Afeganistão. O que os derrotou, entretanto, não foi um exército regular e sim uma barafunda política insolúvel apoiada por uma guerrilha caótica, mas persistente.
Meu ponto é que a ideia de que Estados devem necessariamente manter Forças Armadas permanentes, estruturadas segundo um modelo padrão, não faz muito sentido. Cada país precisa, antes de mais nada, analisar suas reais necessidades. Há inimigos externos? Territórios em disputa? Planos intervencionistas?
Todo Estado que tenha litoral faz bem em manter uma guarda costeira, mas será que precisa também de uma marinha? Ela deve ter porta-aviões e submarinos nucleares? Decisões como essas cabem à sociedade, não aos militares. Assim como abrimos mão de desenvolver armas nucleares (está na Constituição), podemos renunciar a outras coisas que não nos convêm.
O que é inadmissível é que, em pleno século 21, militares sejam um foco de instabilidade institucional. Aí, no cômputo de custos e benefícios, seria melhor que não existissem.
A crise hídrica que já provoca elevação na tarifa de energia elétrica e a escalada de preços das commodities, especialmente as metálicas, elevaram as previsões de inflação para este ano. Consultorias projetam uma alta que beira 6% para o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por oito semanas consecutivas, as expectativas do mercado financeiro para a inflação não pararam de subir, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC). Na última semana, a mediana das projeções atingiu 5,31% e furou o teto da meta para este ano, de 5,25%. A aceleração põe mais pressão sobre o BC, para que continue elevando os juros, a fim de conter a alta de preços.
“Com a inflação nesse patamar previsto de quase 6% este ano, a normalização da taxa nominal de juros precisa ser rápida”, alerta o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Ele acabou de revisar de 5,2% para 5,8% a previsão do IPCA para este ano. Na sua avaliação, o Banco Central provavelmente terá que elevar a Selicpara 6,5% no segundo semestre, podendo ir a 7% ou mais. Hoje a taxa é de 3,5% ao ano.
O que está em jogo neste momento, segundo Vale, é a expectativa da inflação para 2022. Isso por causa de fatores adversos que elevaram a projeção do IPCA acima do inicialmente previsto para 2021, da recuperação mais acelerada da atividade e da turbulência do período pré-eleitoral, que deve ter impacto na taxa de câmbio.
“Subir juros é a única opção que o BC tem neste momento, já que a sua função é mirar o centro da meta de inflação (de 3,75%)”, afirma a economista Maria Andréia Parente Lameiras, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No entanto, ela pondera que a efetividade da alta dos juros para tirar o fôlego do câmbio e segurar a inflação neste momento não é total. Isso porque hoje as pressões inflacionárias se acumulam nos preços monitorados, como energia elétrica, medicamentos, planos de saúde, gasolina, por exemplo. “Com exceção da gasolina que tem influência direta do dólar, os juros impactam pouco a tarifa de energia que depende das chuvas. Além disso, os reajustes dos remédios e dos planos de saúde, já ocorreram.”
Foi exatamente o aumento nas projeções dos preços monitorados, de serviços e produtos que só podem ser alterados com aval do governo, que fez o Ipea revisar de 4,6% para 5,3% a projeção para o IPCA deste ano. Em março, os economistas da instituição projetavam um avanço de 6,4% para os preços monitorados. Mas após a mudança de bandeira tarifária da energia, dos reajustes de remédios, planos de saúde a da gasolina, a taxa subiu para 8,4%.
‘Problemaço’
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, observa que o fato de as pressões inflacionárias estarem acumuladas em alimentos e nos preços administrados é um “problemaço”. Além de esses produtos e serviços serem de difícil substituição pelos consumidores, Romão lembra que o impacto da alimentação no domicílio, que subiu 18,5% em 2020, não saiu de cena. Para 2021, o economista projeta alta de cerca 5% no preço da comida, o que não é pouco. “Não vamos ter um aumento de preços de alimentos como houve em 2020, o que é um alívio parcial porque o nível continua alto.”
Por causa da piora da crise hídrica, que pressiona o custo da energia elétrica, e os efeitos da alta da gasolina e do diesel, além da elevação dos bens industriais, Romão subiu de 5% para 5,5% a projeção de inflação para este ano. Mas ele não descarta a possibilidade de que essa previsão seja superada, se a bandeira vermelha 2 – a mais cara – para energia elétrica se mantiver até o final do ano. O economista considera ainda que os preços industriais no atacado, que subiram 25% em 2020, aumentem mais 25% este ano. Isso representa mais pressão de custos, que deve ser repassada para o varejo na medida em que a atividade for melhorando.
Foi exatamente a melhora da atividade, após a divulgação do crescimento do PIB(Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 1,2%, que superou as expectativas, que fez a Tendências Consultoria Integrada revisar de 4,8% para 5% a projeção de inflação para este ano.
“Não temos viés de alta para a inflação neste momento”, frisa Marcio Milan, economista da consultoria. Mais otimista do que seus pares, ele explica que trabalha com a expectativa de que as chuvas se regularizem no Sudeste e Centro-Oeste até o fim do ano e que ocorra redução da bandeira tarifária.
Milan admite que existe pressão em razão dos preços das commodities metálicas, mas observa que o cenário traçado pela consultoria é de reversão das cotações com a normalização dos estoques. Dada as condições atuais, ele não acredita que a inflação fure o teto da meta neste ano. No entanto, o que poderá mudar esse quadro é a aceleração da atividade e a permanência da bandeira tarifária mais elevada até dezembro.
05 de junho de 2021 | 05h00 Atualizado 05 de junho de 2021 | 12h12
Para entender o fim da pandemia, cientistas estão observando como o Sars-CoV-2 se comporta nos países que estão adiantados no processo de vacinação. Dados iniciais indicam que casos, internações e mortes estão sendo reduzidos rapidamente. Mas no Chile o resultado é outro. É importante entender o que está acontecendo por lá para evitar que o mesmo aconteça no Brasil.
Na figura 1, do gráfico abaixo, você pode observar o ritmo de vacinação em seis países. No eixo vertical, vemos a porcentagem da população que já recebeu duas doses da vacina e pode ser considerada imunizada. No eixo vertical, as datas em que cada nível de imunização foi atingido. Israel é o país que vacinou a maior fração de sua população (~60%). Em seguida existem três países onde aproximadamente 40% da população já foi vacinada: Chile, Estados Unidos e Inglaterra. Entre os três, foi o Chile que vacinou mais rapidamente. Mais abaixo, como comparação, estão a Alemanha com 20% e o Brasil, onde pouco mais de 10% da população foi vacinada com duas doses. Quando quadruplicarmos o número de vacinados, chegaremos ao nível de Chile, EUA e Inglaterra.
Na figura 2, você pode observar o número de novos casos detectados em cada um desses países durante o mesmo período. No eixo vertical, podemos ver o número de novos casos por dia por milhão de habitantes, expressos como uma média móvel (isso permite comparar países com números diferentes de habitantes). É possível observar que o número de casos por milhão de habitantes é quase nulo em Israel (que vacinou 60% da população). Na Inglaterra e USA, onde 40% da população foi vacinada com duas doses, o número de novos casos é de 50 por dia por milhão de habitantes. E mesmo a Alemanha, com 20% da população vacinada, também está com 50 casos por dia por milhão de habitantes.
O Brasil, com 10% de vacinados, ainda está longe de Alemanha, Inglaterra, EUA: estamos com 300 casos por dia por milhão de habitantes, seis vezes mais que esses países. Isso é esperado pois estamos no início do processo de vacinação e temos dificuldade em implementar medidas de distanciamento social.
O problema é o Chile. Por lá, onde mais de 40% da população foi vacinada com duas doses ainda são registrados 400 casos por dia por milhão de habitantes. Esse número vem crescendo e é muito maior que o registrado no Brasil, que, com 10% da população vacinada, tem pouco menos de 300 novos casos por dia por milhão de habitantes. Por outro lado, o número de mortos por milhão de habitantes no Chile é de 6 por dia por milhão de habitantes (comparado com 9 no Brasil e zero na Inglaterra e Israel). A questão que preocupa muitos cientistas é por que o número de casos e mortes continua crescendo no Chile.
Possíveis explicações incluem diferenças climáticas, novas cepas e o relaxamento prematuro do distanciamento social. Entretanto, uma importante diferença entre o Chile e os países em que o número de casos e mortes está caindo é o tipo de vacina utilizada. Nos EUA estão sendo usadas exclusivamente vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna). Na Inglaterra vacinas da Pfizer e da AstraZeneca foram utilizadas em proporções semelhantes. Na Alemanha 80% das doses são Pfizer e Moderna e 20% são AstraZeneca. Em Israel 100% das doses são Pfizer. Essas vacinas têm alta eficácia e efetividade. Por outro lado, no Chile, 85% das doses ministradas são de Coronavac e 15% de Pfizer.
Uma possível explicação para as diferenças encontradas no Chile é a menor eficácia e eficiência da Coronavac. Talvez Coronavac seja capaz de reduzir internações e mortes, mas não consiga impedir completamente a propagação do vírus. Quando os resultados da fase 3 da Coronavac e do estudo em Manaus forem publicados, e os de Serrana forem terminados e avaliados, é possível que essa hipótese seja comprovada ou descartada. O tempo dirá.
No Brasil iniciamos a vacinação com a Coronavac e logo em seguida começamos a usar a vacina da AstraZeneca. Hoje estamos usando 50% de cada uma delas. Com a compra de 200 milhões de doses da Pfizer, é possível que quando chegarmos a 40% da população vacinada com duas doses, mais de 50% do total de doses ministradas seja da Pfizer e o restante seja dividido entre Coronavac e AstraZeneca.
Portanto, é pouco provável que tenhamos 85% das doses vindas da Sinovac/Butantan como ocorre no Chile. Nosso futuro talvez esteja mais próximo do que ocorre hoje na Inglaterra do que ocorre no Chile. Isso é uma boa notícia. O triste é que já poderíamos estar com ~40% da população vacinada.
*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS