Mais de 600 mil mortos pela Covid, fome, inflação e desemprego em alta, abismo fiscal à vista, destruição ambiental. No exterior, o presidente do Brasil virou motivo de chacota. Não é possível que deputados experientes do centrão e de partidos mais gelatinosos como o PSDB e o PDT estejam satisfeitos com este governo. Ainda assim, votaram a favor da PEC dos Precatórios, cujo principal beneficiário é Bolsonaro.
A PEC dos Precatórios tem muitos vícios e pouquíssimas virtudes. É verdade que permitirá pagar bolsas a famílias muito carentes, mas ela detona de forma burra o teto de gastos, que permitiu ao país manter os juros baixos por um bom tempo, legaliza o calote em decisões da Justiça e permitirá uma farra de gastos eleitorais não prioritários. Esse último elemento é parte da explicação para o comportamento dos políticos, já que a PEC engordará as verbas para o "orçamento secreto" e para o fundo eleitoral.
Ainda assim, a sabedoria política convencional reza que políticos deveriam afastar-se de presidentes que se tornam impopulares, não tentar salvar-lhes a pele, em especial quando não há identificação histórica com eles. A hiperfragmentação partidária brasileira desafia a sabedoria política convencional. Os três anos de Bolsonaro escancararam isso.
Não houve presidente que, no campo da retórica, batesse tanto no centrão. Bolsonaro foi eleito prometendo fazer o grupo passar a pão e água. O leitor se lembrará da musiquinha entoada por um bajulador de quatro estrelas. Mas foi ao centrão que Bolsonaro recorreu quando as coisas ficaram feias. É do centrão que o presidente é hoje refém.
O bloco saiu mais convencido de sua própria importância, o que baixou o custo de aliar-se a quem perca eleições. Mesmo que um congressista amorfo vá até o fim com Bolsonaro (e surfe nas verbas de fim de mandato), ele sabe que será chamado a ajudar o próximo governo, seja ele qual for.
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