sexta-feira, 7 de maio de 2021

Perguntas à queima-roupa, Ruy Castro , FSP

 Uma Comissão Parlamentar de Inquérito, por definição, destina-se a inquirir e buscar respostas. Donde, se a CPI da Covid está lhe parecendo chocha, obrigando-o às vezes a ir fazer um café para acordar, a culpa não é das respostas ensaboadas dos depoentes. É da maioria dos senadores, que não sabe perguntar. Como colaboração, eis algumas dicas de quem tem passado a vida fazendo perguntas.

Regra básica: nenhuma pergunta pode ficar sem resposta. Para isso, deve ser formulada de modo a, diante de respostas como “não sei”, “não me lembro” ou “sou ministro da Saúde, não me compete julgar”, suscitar pronto repique. Exemplo: “Qual é a sua atitude ao ver suas recomendações de distanciamento e máscara contrariadas pelo presidente ao provocar aglomerações?”. Resposta: “Isso é feito sem o meu conhecimento”. Repique: “Ao tomar conhecimento, o senhor fala com ele sobre isso?”. Se sim, “O que ele responde?”. Se não, “Por que não?”.

Em vez de conceder aos senadores o absurdo de 15 minutos para fazer uma pergunta, o chefe dos trabalhos deveria limitar cada senador a três perguntas, feitas uma de cada vez, com direito a repique, e cada qual com a duração máxima de um minuto. A pergunta à queima-roupa obriga o depoente a também ser direto na resposta. E nenhuma pergunta precisa de mais de um minuto para ser formulada —exceto por exibicionismo ou tentativa de obstrução.

Aliás, o Planalto precisa escolher melhor os senadores a quem fornece as perguntas a fazer na CPI. Há dias, um senador bolsonarista desfiou uma lista de estudos pró-cloroquina, entre os quais o de um cientista francês no jornal France Soir. O senador, pecuarista de origem e mais familiarizado com berne, carrapatos e outras endemias vacuns, chamou o jornal de “France Só-Ir”.

Nenhum senador é obrigado a saber francês. Claro que, se souber, lerá artigos científicos franceses com mais facilidade.

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