Já vi gente séria defendendo que se priorize a vacinação contra a Covid-19 de pretos, pardos, moradores de favelas. No caso de indígenas aldeados e quilombolas, os dois grupos foram incluídos na lista de preferências do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Categorias profissionais, como policiais, professores, motoristas de transportes públicos, também encontraram seus propagandistas. Assim como portadores de comorbidades, as frequentes e as raras.
Essa é uma daquelas situações em que todos têm razão –o que não significa necessariamente que o Estado possa ou deva atender a todas as demandas. Os pleitos estão quase sempre amparados em estudos que apontam risco aumentado de infecção, hospitalização e morte para cada um desses grupos. Nas situações em que falta uma boa pesquisa, sobram considerações pragmáticas, como o valor social da educação.
Talvez tenha sido um lapso de atenção meu, mas não vi uma única voz propondo dar preferência vacinal aos homens, muito embora pertencer ao gênero masculino seja um dos mais conhecidos fatores de risco para a Covid-19. Uma metanálise envolvendo mais de 3 milhões de pacientes em todo o mundo publicada na Nature mostrou que homens têm risco quase três vezes maior do que mulheres de parar numa UTI. A chance de eles morrerem é 40% maior que a delas.
Boa parte da maior fragilidade masculina se explica pelo fato de homens terem em geral pior saúde do que mulheres, acumulando mais comorbidades como hipertensão e cardiopatias variadas. Mas não é só. Ao que tudo indica, há também diferenças no sistema imune que tornam o homem mais suscetível a infecções.
Meu ponto é que, apesar de haver em princípio razões médicas a recomendar a priorização de homens numa campanha de vacinação, por razões sociológicas, ninguém ousa fazê-lo. Parece haver um custo reputacional em defender um estamento que passou a ser visto como o opressor.
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