William Deming, um dos pais da qualidade total, dizia que nada pode ser melhorado antes de poder ser medido. No caso das fake news, que já há alguns anos flagelam a saúde, a economia, a democracia e as relações sociais em todo o mundo, essa questão, aparentemente, foi resolvida. A conta anual que a sociedade paga em razão da anomalia é da ordem de US$ 78 bilhões, segundo estudo da Universidade de Baltimore, nos Estados Unidos.
O mesmo Deming afirmava que os defeitos não são gratuitos. Alguém os produz e são pagos por eles. O estudo da Universidade de Baltimore dá uma pista de quanto essa indústria mundial de fake news fatura globalmente, formada por um grande contingente de profissionais de “relações não públicas”.
Uma máquina de desinformação pirata, bem remunerada e estruturada nos moldes de grupos terroristas. Não tenhamos dúvidas: o divisionismo e a desinformação são hoje dois negócios lucrativos.
Não convém subestimar o nível de sofisticação e o alcance dessa indústria criminosa: por exemplo, conhecidas por sua acurácia, metodologia e rigor, as divulgações de produções científicas e de renomadas pesquisas e estudos de mercado, que influenciam as decisões, respectivamente, da comunidade científica e do mundo dos negócios, começam a sofrer ataques danosos desses “terroristas digitais”, ataques difíceis de serem revertidos ou desmentidos.
Em contraste com os prejuízos avassaladores das fake news, não custa lembrar que, do outro lado da moeda, para cada dólar investido em bom jornalismo, cerca de cem retornam em benefícios à sociedade. Um cálculo do professor de jornalismo de Stanford James T. Hamilton, em seu belíssimo “Detetives da Democracia”.
Com a aspiração de proporcionar um ambiente informativo cada vez mais crível e alinhado aos pilares da Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG, na sigla em inglês), diretores de comunicação associados à Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) decidiram lançar uma iniciativa conjunta de combate às fake news.
Denominado “Aliança Aberje de Combate às Fake News – movimento empresarial contra a desinformação”, o projeto tem o objetivo de fazer dos colaboradores das empresas, além de qualquer pessoa contrária à propagação de fake news, verdadeiros agentes multiplicadores no combate à desinformação. A ideia é que, ao tornar as organizações mais imunes a notícias falsas, a sociedade como um todo se torne igualmente mais imunizada.
Calcada nos parâmetros éticos das atividades de comunicação, como o jornalismo, a publicidade, as relações públicas e o marketing, a iniciativa segue o código de princípios do International Fact-Checking Network.
Uma pesquisa da Aberje, ainda em 2018, mostrava que as notícias falsas já preocupavam 85% das organizações do país. Indicava ainda os danos financeiros e reputacionais que poderiam ocorrer com marcas que se vissem em meio a campanhas de desinformação.
A educação midiática, portanto, é relevante em qualquer lugar do planeta. No Brasil, no entanto, parece uma questão fundamental. No maior país da América Latina, as fakes news encontraram um terreno fértil para prosperar e, assim, se tornar uma tendência de consequências ainda imprevisíveis e ameaçadoras, que precisam ser combatidas em todas as frentes, inclusive a empresarial.
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