Distinção originária na colonização ajuda a explicar nova fase da epidemia de Covid-19 nos EUA
Os EUA, ao contrário do que se possa pensar, são um país culturalmente diverso, e marcas dessa variedade se refletem em uma série de estatísticas. Há, por exemplo, estados com índices de homicídios baixos como os europeus, e outros com um perfil bem mais próximo do de países da América Latina.
Nos anos 90, os psicólogos Richard Nisbett e Dov Cohen ensaiaram uma explicação para o fenômeno.
Alguns estados, notadamente do sul e do oeste do país, seriam marcados pela cultura da honra, na qual a reputação de um indivíduo é o seu maior bem e, em certas condições, ele está autorizado a recorrer à violência para mantê-la. Daí uma maior quantidade de assassinatos em brigas de bar, disputas amorosas etc. Outros traços da cultura de honra seriam o individualismo mais exacerbado, o recurso a punições mais rigorosas e maior tendência ao militarismo.
Em contrapartida, estados do nordeste e do meio-oeste seriam caracterizados por uma cultura, não exatamente coletivista, mas que põe mais ênfase no respeito à lei e no recurso às instituições para aplicá-la.
Para Nisbett e Cohen, as origens dessa distinção remontam à colonização. Enquanto o norte foi povoado por imigrantes de regiões agrícolas, o sul recebeu descendentes de pastores, que não dependiam tanto de colaborar com seus vizinhos e tendiam a resolver por si sós as dificuldades que aparecessem.
O interessante dessa distinção é que ela ajuda a explicar a nova fase da epidemia de Covid-19 nos EUA, que cresce acentuadamente em estados caracterizados pela cultura da honra, como Flórida, Texas, Arizona e Tennessee. Os mecanismos de ação seriam a maior resistência em usar máscaras, que já foram acusadas de emascular seus portadores, e a precipitação em reabrir a economia, para que cada um volte a ser senhor de seu destino.
O problema é que vírus, diferentemente de pessoas, não estão nem aí para a honra de ninguém.
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