A taxa de desemprego no Brasil ficou em 12,9% entre março e maio de 2020. O número foi divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na terça-feira (30), e é parte da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita mensalmente.
12,7 milhões
foi o número de pessoas desempregadas entre março e maio de 2020
O número de pessoas desempregadas está longe de sua máxima na série histórica, iniciada em 2012. No trimestre correspondente de 2019, eram 13 milhões de desempregados – a taxa era de 12,3%. No início de 2017, esse número bateu 14 milhões, à taxa de 13,7%. Durante a pandemia, a taxa de desemprego também não está em sua máxima na série e subiu apenas 0,6 ponto percentual em relação a um ano antes.
NÚMERO DE DESEMPREGADOS
Existe um consenso entre economistas de que a economia brasileira deve sofrer em 2020 sua pior retração anual desde 1900, primeiro ano da série do PIB (Produto Interno Bruto).
Abaixo, o Nexo explica por que isso não se reflete na taxa de desemprego. E quais números mostram melhor a crise no mercado de trabalho no Brasil em meio à pandemia do novo coronavírus.
As vagas fechadas
Para entender o desemprego em níveis não tão altos em meio à pandemia é necessário explicar o que o IBGE considera como uma pessoa desempregada. Uma pessoa desempregada é aquela que não só tem idade para trabalhar (acima de 14 anos) e não está trabalhando, como também está procurando emprego e tem disponibilidade para assumir um posto.
Portanto, nem todo mundo que não está trabalhando está tecnicamente desempregado. A pessoa que perde o emprego e não procura trabalho não entra na conta dos desocupados.
Isso explica a grande diferença existente entre o número de pessoas que perderam o emprego e o número de pessoas desempregadas, pela lógica oficial, no período entre março e maio de 2020.
DISPARIDADE
O gráfico acima mostra como nem todos que perderam o emprego durante a pandemia ficaram tecnicamente desempregados (desocupados). Isso porque não procuraram trabalho e, portanto, não entraram na estatística oficial.
OCUPADOS
Quase 7,8 milhões de postos de trabalho foram perdidos entre março e maio, na comparação com o período entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. A queda de 8,3% foi a pior da série histórica. Mas nesse mesmo período, o número de desempregados aumentou apenas em 368 mil.
A força de trabalho
Essa diferença de 7,4 milhões entre pessoas que perderam o emprego e pessoas que ficaram desempregadas aparece nos números do IBGE na redução da força de trabalho.
A força de trabalho é composta por pessoas em idade de trabalhar que estão trabalhando ou procurando emprego – ou seja, as ocupadas e as desocupadas.
Com menos pessoas trabalhando ou procurando emprego, a força de trabalho sofreu sua pior retração na série histórica do IBGE. Pela primeira vez em cinco anos, a força de trabalho ficou abaixo de 100 milhões de brasileiros.
7%
foi a queda na força de trabalho, a pior na série histórica do IBGE, desde 2012
Ao mesmo tempo a população fora da força de trabalho também aumentou na maior taxa da série histórica. No trimestre entre março e maio, foram 75 milhões de pessoas em idade de trabalhar que não estavam na força de trabalho – um aumento de 9 milhões (13,7%) em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.
Se a população fora da força de trabalho aumentou em 9 milhões, e a população dentro da força de trabalho diminuiu em 7,4 milhões, essa diferença se deve a um aumento de pessoas em idade de trabalhar no Brasil no trimestre. Esse acréscimo foi de 1,6 milhões de pessoas.
O desalento
Mesmo para quem está fora da força de trabalho há diferentes classificações. O IBGE criou uma categoria chamada “força de trabalho potencial” para se referir a pessoas que, em outras circunstâncias, poderiam estar trabalhando.
Esse grupo é formado por dois tipos de pessoas. O primeiro são as pessoas que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis. É o caso, por exemplo, de homens e mulheres que estão fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos.
O segundo são os desalentados. O desalento ocorre quando uma pessoa quer trabalhar e estava em busca emprego, mas desistiu de procurar porque perdeu a esperança. Essa pessoa está desanimada sobre suas possibilidades, e saiu da força de trabalho – sequer entrando na conta da taxa de desemprego.
Durante a pandemia do novo coronavírus, o desalento atingiu um patamar recorde. O número de desalentados já estava alto antes, sem ter diminuído após a crise de 2015 e 2016, cujos efeitos no mercado de trabalho nunca foram realmente dissipados. Mas a crise da pandemia levou a uma nova alta – o desalento agora atinge mais de 5,4 milhões de pessoas no Brasil.
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O perfil dos que não buscam emprego
Durante a pandemia, o IBGE está publicando também uma outra versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios chamada Pnad Covid-19. Essa pesquisa traz indicadores específicos relativos à pandemia em duas vertentes: saúde e trabalho.
Nessa pesquisa, o IBGE apontou alguns dos motivos pelos quais muitos dos brasileiros que não estão procurando emprego. Além daqueles que simplesmente não querem trabalhar, há os que não estão procurando porque falta vagas no local onde mora ou que não o fazem por adesão ao isolamento social.
Nos dados de trabalho para o mês de maio, o IBGE mostrou quem são as pessoas que deixaram de procurar emprego por conta da pandemia ou pela falta de trabalho no local onde mora. Entre as pessoas brancas, 7,9% deixou de procurar trabalho; entre as pessoas de cor preta ou parda, essa taxa foi mais alta, de 13,3%.
A disparidade foi registrada também entre diferentes níveis de escolaridade. Quase 10% das pessoas sem fundamental completo deixaram de buscar emprego; entre os com fundamental completo e médio incompleto, a taxa subiu para 12,7%; entre médio completo e superior incompleto, a proporção foi de 13,2% das pessoas; e entre os com superior completo ou pós-graduação, apenas 5,4% deixaram de procurar emprego.
A renda média
Os dados divulgados pelo IBGE na terça-feira (30) também mostraram que a renda média do trabalho dos brasileiros empregados aumentou consideravelmente no trimestre entre março e maio de 2020. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o aumento foi de 4,9%; em relação ao trimestre encerrado em fevereiro, foi de 3,6%.
Esse aumento pode parecer boa notícia, mas não necessariamente é. Ele indica que as pessoas mais atingidas pela crise foram as com menor rendimento. Conforme mais pessoas com menor renda vão perdendo o emprego, mais aumenta a média dos salários.
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