Quando meu avô paterno sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) na década de 1960, a família vendeu bois para pagar honorários médicos. A assistência era assim: ou se pagava ou, com sorte, se obtinha por meio de caridade.
Com a Constituição de 1988 e a criação do SUS, a saúde passou a ser direito de todos e dever do estado, embora as limitações sejam bem conhecidas.
A trajetória do maior sistema universal de saúde do mundo foi analisada em estudo inédito liderado pela Universidade Harvard e publicado na revista Lancetna semana passada.
São pontuadas conquistas, como aumento do acesso à saúde e queda da mortalidade, e traçados quatro cenários diante de gastos públicos mais restritos: o atual, com transferências no nível de 2015 e sem aumento do financiamento, e outros associados ao crescimento do PIB em 1%,2% e 3%.
Para cada cenário, foi simulado o desempenho de quatro indicadores de saúde até 2030: taxa de mortalidade infantil, consultas de pré-natal, cobertura do programa saúde da família e mortalidade por doenças cardiovasculares.
O estudo aponta que, sem aumento de verbas, há deterioração dos indicadores de saúde, com maior impacto entre os municípios menores. As novas políticas ambientais, educacionais e de saúde do governo de Jair Bolsonaro (PSL) também têm potencial de reverter as conquistas do SUS, segundo os autores.
Na falta de dinheiro novo no front, é urgente que o país utilize melhor os recursos existentes. Um dos caminhos seria aprimorar a coordenação entre os setores público e privado de saúde.
O particular era para ser suplementar ao público, como em outros países com sistemas universais de saúde. Mas sempre competiu com o SUS por recursos financeiros, médicos, tecnologia entre outros, levando à duplicação na produção de serviços. O diagnóstico é antigo, mas cadê vontade política para meter a mão nessa cumbuca?
Nenhum comentário:
Postar um comentário