Relacionar, nos anos 1950, educação a subdesenvolvimento não é pouca coisa
Alexandre Andrada respondeu na semana passada à crítica que eu fizera ao seu texto no site The Intercept Brasil em que analisa, entre outros temas, a contribuição intelectual de Eugênio Gudin.
São três as nossas divergências. Vale a pena explicitá-las.
Primeiramente, Alexandre vê preconceito racial num trecho em que Gudin menciona a superioridade econômica dos países do Novo Mundo com população branca sobre aqueles que, como chamava Gudin, tinham grande contingente de população “indígena”.
Entendo a ojeriza que o termo rude de Gudin causa em Alexandre. Minha leitura, no entanto, é distinta.
Entendo que Gudin se refere ao atraso educacional da população local. Sabemos que o atraso educacional reduz a produtividade em razão da carência de habilidades cognitivas e não cognitivas ou socioemocionais.
Esse último ponto é importante e muito mais sutil e somente recentemente tem sido tratado pelos economistas que estudam os impactos da educação na produtividade do trabalho.
São três as nossas divergências. Vale a pena explicitá-las.
Primeiramente, Alexandre vê preconceito racial num trecho em que Gudin menciona a superioridade econômica dos países do Novo Mundo com população branca sobre aqueles que, como chamava Gudin, tinham grande contingente de população “indígena”.
Entendo a ojeriza que o termo rude de Gudin causa em Alexandre. Minha leitura, no entanto, é distinta.
Entendo que Gudin se refere ao atraso educacional da população local. Sabemos que o atraso educacional reduz a produtividade em razão da carência de habilidades cognitivas e não cognitivas ou socioemocionais.
Esse último ponto é importante e muito mais sutil e somente recentemente tem sido tratado pelos economistas que estudam os impactos da educação na produtividade do trabalho.
Florestan Fernandes, no clássico “Integração dos Negros em Sociedade de Classes”, notou a importância
das habilidades socioemocionais para explicar diferenças de desempenho no mercado de trabalho.
das habilidades socioemocionais para explicar diferenças de desempenho no mercado de trabalho.
Discordando de mim, Alexandre avalia que as passagens de Gudin sobre esse tema são racistas.
A segunda divergência é a interpretação da contribuição intelectual de Gudin ao tema da persistência do subdesenvolvimento entre nós.
Para Alexandre, Gudin apenas “enfatizou a importância da educação e da liberdade de comércio”.
Duas discordâncias com Alexandre aqui. Primeiro, notar nos anos 1950 a importância da educação como causa do subdesenvolvimento não é pouca coisa. Somente esse fato é suficiente para colocar Gudin como pensador original, muito à frente de seu tempo.
Segundo, o entendimento de Gudin sobre o subdesenvolvimento brasileiro é bem mais complexo.
Para os interessados, além de minha coluna há duas semanas, remeto diretamente aos textos “O Caso das Nações Subdesenvolvidas”, “Produtividade” e “Programação e Planejamento Econômico”, publicados na Revista Brasileira de Economia, sempre no fascículo de setembro, respectivamente em 1952, 1954 e 1956.
Terceira divergência: se entendi corretamente, Alexandre considera que o posicionamento político de Gudin, defendendo regimes autoritários e fazendo citações que “flertam com o racismo”, invalida seus escritos.
Não é uma questão inócua, mas, por essa métrica, as obras de Nelson Rodrigues, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato e tantos outros deveriam ser banidas.
Há duas características no pensamento de Gudin que gostaria de enfatizar. Primeira, para Gudin, o subdesenvolvimento resulta dos fundamentos de cada economia e não é relacional, como defende, por exemplo, o modelo centro-periferia da Cepal, entre tantos outros modelos com essa característica.
O subdesenvolvimento, para Gudin, é interno a nós e não está associado ao nosso papel no mundo. Somos os únicos responsáveis por nossa miséria.
A segunda característica era o enorme ceticismo, pelos motivos que abordei na coluna anterior, que Gudin tinha em relação à superação do subdesenvolvimento entre nós.
Se lembrarmos que, em 1900, a produtividade do trabalho no Brasil era 20% da norte-americana e que, hoje, 120 anos depois, continuamos com 20% da produtividade dos EUA, parece haver motivos
para o ceticismo de Gudin.
A segunda divergência é a interpretação da contribuição intelectual de Gudin ao tema da persistência do subdesenvolvimento entre nós.
Para Alexandre, Gudin apenas “enfatizou a importância da educação e da liberdade de comércio”.
Duas discordâncias com Alexandre aqui. Primeiro, notar nos anos 1950 a importância da educação como causa do subdesenvolvimento não é pouca coisa. Somente esse fato é suficiente para colocar Gudin como pensador original, muito à frente de seu tempo.
Segundo, o entendimento de Gudin sobre o subdesenvolvimento brasileiro é bem mais complexo.
Para os interessados, além de minha coluna há duas semanas, remeto diretamente aos textos “O Caso das Nações Subdesenvolvidas”, “Produtividade” e “Programação e Planejamento Econômico”, publicados na Revista Brasileira de Economia, sempre no fascículo de setembro, respectivamente em 1952, 1954 e 1956.
Terceira divergência: se entendi corretamente, Alexandre considera que o posicionamento político de Gudin, defendendo regimes autoritários e fazendo citações que “flertam com o racismo”, invalida seus escritos.
Não é uma questão inócua, mas, por essa métrica, as obras de Nelson Rodrigues, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato e tantos outros deveriam ser banidas.
Há duas características no pensamento de Gudin que gostaria de enfatizar. Primeira, para Gudin, o subdesenvolvimento resulta dos fundamentos de cada economia e não é relacional, como defende, por exemplo, o modelo centro-periferia da Cepal, entre tantos outros modelos com essa característica.
O subdesenvolvimento, para Gudin, é interno a nós e não está associado ao nosso papel no mundo. Somos os únicos responsáveis por nossa miséria.
A segunda característica era o enorme ceticismo, pelos motivos que abordei na coluna anterior, que Gudin tinha em relação à superação do subdesenvolvimento entre nós.
Se lembrarmos que, em 1900, a produtividade do trabalho no Brasil era 20% da norte-americana e que, hoje, 120 anos depois, continuamos com 20% da produtividade dos EUA, parece haver motivos
para o ceticismo de Gudin.
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