Quem está ligado às redes sociais por certo o percebeu. Afinal, a grita – assim como os elogios – foi imensa. O Instagram, no Brasil, parou de indicar a contagem de likes. O dono da conta sabe quantas pessoas curtiram suas fotos. Mas quem o visita não sabe. O que teve repercussão menor, mas que ocorreu no mesmo dia, foi a decisão do Twitter de incluir na plataforma o comando “esconder respostas”. Por enquanto, só vale para o Canadá. É só o início. Se depender de quem manda nas redes sociais, elas ainda vão mudar muito nos próximos meses e anos.
A lógica do Instagram não é difícil explicar. Do jeito que a plataforma evoluiu, logo surgiu um tipo novo de “instagrammer”. O profissional, o influenciador. Não se trata apenas de vaidade. É gente que faz dinheiro com isso. Constrói uma audiência, muita gente visita a rede, a moça que fala de beleza então vende produtos de beleza. A turma que passa a vida publicando fotos de viagem tece loas aos hotéis, às linhas aéreas e por aí vai. É um negócio de publicidade.
Tudo certo, mas gera dois problemas. O primeiro é que há um mercado negro que, ou usando software automatizado que se passa por gente, ou contratando gente para ter muitas contas simultaneamente, vende likes. O segundo é que estimula quem busca audiência alta a gerar imagens de impacto que chamem atenção pelo impacto, tudo por uma curtida, por rápido que seja dado. Afinal, a principal moeda corrente na publicidade, para avaliar quem influencia mais, é justamente esta contagem.
Ocorre que, para o Instagram, a lógica ideal é outra. O que a plataforma quer é gente que fique muito tempo nela. Um comentário, que demora mais para fazer e para ler, vale mais do que o like rápido. Ao esconder os likes, quer estimular este outro tipo de interação. Fazer com que a moeda de troca da publicidade seja o número de comentários. De quebra, e aí é melhor para todo mundo, ao produzir imagens que gerem comentários, e não likes, é possível que a rede fique também melhor para todos.
A mudança no Twitter é muito mais importante. É uma rede muito importante — é lá que estão políticos, jornalistas, analistas. É lá, mais do que em qualquer outro lugar, que se debate o mundo. Já não é uma rede, dado o limite de espaço, dada a profundidade. Nos últimos anos, tornou-se também um inferno. Dê um deslize, explique algo mal, ou tenha apenas uma opinião que um grupo organizado qualquer não tolere — não há rede tão selvagem, tão agressiva, quanto o Twitter. É preciso couro no lugar da pele.
Um dos principais problemas é que às vezes uma única resposta raivosa atrai a matilha, faz desaparecer os sensatos e torna tudo uma experiência desagradável. Quem escreve um tuíte passa a ter o poder de esconder qualquer resposta a ele. Não é o mesmo que bloquear quem escreveu, não é o mesmo que apagar o comentário. É esconder. O leitor que deslizar rápido verá um ícone de escondido. Quem estiver com pressa, passa direto. Quem tiver muita vontade pode se dar ao trabalho de clicar para ler o que foi escondido. A esperança é de que a maioria das pessoas não o fará, e daí os que estiverem dispostos a conversar, ao invés de ofender, se sobressaiam.
Nossa conversa política, não adianta, está ocorrendo nas redes. E, pela estrutura de suas normas, elas estimulam o embate violento, o que chama atenção de presto, tudo o que for sensacional. No sentido sensacionalista do termo. A virulência tomou conta da política mais ou menos no mesmo momento em que o diálogo sobre política foi para lá.
As mudanças são bem-vindas, ainda que apenas como teste. O mundo anda precisado.
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