segunda-feira, 1 de julho de 2019

Ex-ministros da Ciência lançam manifesto contra governo Bolsonaro, FSP

Júlia Barbon
RIO DE JANEIRO
"Vivemos hoje a maior das provações da nossa história", afirmaram dez ex-ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação em oposição às medidas do governo de Jair Bolsonaro na área. A frase está em um manifesto assinado nesta segunda (1º) por titulares da pasta nos últimos 30 anos, a maioria deles em governos do PT.
Batizado de “A ciência brasileira em estado de alerta”, o encontro aconteceu no instituto de engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Agravam-se os cortes orçamentários drásticos que poderão levar a um retrocesso sem paralelo na história da ciência brasileira, área essencial e crítica, tanto ao desenvolvimento econômico e social quanto à soberania nacional", começa o texto de duas páginas.
Os ex-ministros da Ciência de Dilma e Lula, da esq. para a dir.: Marco Antonio Raupp, Aloízio Mercadante, Roberto Amaral, Clélio Campolina e Celso Pansera em encontro no Rio, onde anunciaram manifesto contra o governo Bolsonaro
Os ex-ministros da Ciência de Dilma e Lula, da esq. para a dir.: Marco Antonio Raupp, Aloízio Mercadante, Roberto Amaral, Clélio Campolina e Celso Pansera em encontro no Rio, onde anunciaram manifesto contra o governo Bolsonaro - Júlia Barbon/Folhapress

Eles apontam como exemplos da "maturidade da ciência nacional alcançada nos últimos anos" as tecnologias em exploração de petróleo em águas profundas, pesquisas no setor da agricultura, a construção de um acelerador de partículas de terceira geração e a produção de aviões, entre outros.

Esta foi a quarta vez que titulares de ministérios de gestões passadas dão as mãos, em uma onda inédita de protestos contra medidas do governo Bolsonaro. Já houve iniciativas de ex-ministros doMeio Ambiente, da Educação e da Justiça.

Eles lançaram manifestos e fizeram atos públicos contra o que chamam de agenda de retrocessos em curso no país. Nas próximas semanas, iniciativas semelhantes devem ocorrer com políticos que lideraram as pastas de Cultura e de Saúde desde a redemocratização.

Entre os que assinam o manifesto estão os ex-ministros de Dilma Rousseff: Aloízio Mercadante (2011), Marco Antonio Raupp (2012 a 2014), Clélio Campolina (2014) e Celso Pansera (2015 e 2016), além de Roberto Amaral, do governo Lula (2003). O fato de serem todos homens e brancos foi pontuado por uma aluna da plateia.

José Goldemberg (Collor, 1990 a 1992), Sérgio Machado Rezende (Lula, 2003), Aldo Rebelo, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Ronaldo Sardenberg, que também assinaram o documento, não participaram do evento. 
 
Segundo cálculo do grupo, as universidades federais, responsáveis por 95% da produção científica brasileira, tiveram neste ano 42% do seu orçamento anual contingenciado e 6.198 bolsas bloqueadas no mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Sem citar nominalmente o ministro atual, o astronauta Marcos Pontes, nem Bolsonaro, o documento diz que "não podemos concordar com as recorrentes manifestações, por parte das autoridades do governo, que negam evidências científicas na definição de políticas públicas".

E conclui que "não se pode permitir a criação de condições que estimulem a evasão de nossos melhores cérebros" nem "a ausência de representantes da comunidade científica em comitês e conselhos governamentais".

Nenhum comentário: